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O Caso da Mansão Deboën, de Edgar Cantero| Resenha

‘O Caso da Mansão Deboën: uma suspense à la Scooby-Doo com uma pegada apocalíptica.

 

Um grupo de quatro jovens amigos e um cachorro enorme que se mete nas mais arriscadas aventuras para solucionar casos sinistros. Muito mistério. Pitadas de humor. Reviravoltas. Com certeza você pensou no Scooby-Doo, não é mesmo? Mas a turma é outra. São do Clube dos Detetives de Blyton, protagonistas de O Caso da Mansão Deboën, livro da quarta caixa do Intrínsecos (clube de assinaturas da editora Intrínseca). A obra é uma homenagem do escritor estreante no Brasil Edgar Cantero ao desenho animado que faz sucesso há décadas em uma versão, digamos assim, “mais madura”. Impossível não sentir um clima nostálgico da infância.

O Caso da Mansão Deboën narra o reencontro do Clube dos Detetives de Blyton, mais de uma década após conquistarem o ápice da carreira ao solucionarem, ainda adolescentes, o mistério envolvendo a assombrada Mansão Deboën. Para Andy, a valentona com problemas junto à polícia, nem tudo foi solucionado. Por isso, ela decide resgatar a amizade dissolvida com o tempo e resolver de vez a questão. Assim, ela convence a antiga paixão Kerri, uma bióloga frustrada que trabalha como garçonete, e seu cachorro Tim, descendente do cão superdotado que fazia parte da trupe original, a embarcar na reabertura do caso. Antes, porém, elas precisam ajudar o outro integrante vivo do clube, Nate – o nerd obcecado por ocultismo -, a fugir do hospital psiquiátrico. No entanto, as meninas não sabem que Nate tem visões constantes de Peter, o colega detetive que virou astro de Hollywood e morreu de overdose.

A obra de Edgar Cantero é repleta de referências e o barato é identificá-las durante a leitura. Sabe, o leitor gosta de “pescar” algum detalhe que, para outros, passariam despercebidos. Isso aumenta o engajamento com o livro, a identificação. A maior delas, como já foi mencionado, é o desenho animado Scooby-Doo. As semelhanças entre as duas narrativas são tamanhas que é impossível dissociar por completo. Se isso foi bom ou ruim, varia de leitor. Confesso que no começo adorei o clima nostálgico, mas, depois, do meio para o fim, cansou. Não sei exatamente se foi pelo excesso de semelhanças ou pelo desenrolar propriamente dito da trama. Num dado momento de O Caso da Mansão Deboën, o autor sai do universo do desenho animado e caminha para um “terror” que não me atrai muito. Talvez, quem goste de histórias mais apocalípticas vá curtir, mas “essa virada” me incomodou.

A narrativa de O Caso da Mansão Deboën tem uma pegada bem cinematográfica. Tudo é muito visual, principalmente as cenas de ação, dando um gás para a leitura. O autor, inclusive, mescla no texto, aleatoriamente, o formato de roteiro. Por mim, poderia ter abusado mais. É o seu maior acerto e o que salva, em alguns momentos, a trama do marasmo.

O grande pecado de Edgar Cantero, a meu ver – mas aí vai do gosto pessoal -, foi não ter explorado o personagem fantasma/alucinação do Peter. A relação dele com Nate é uma fonte extrema de terror e poderia ser melhor desenvolvida e aproveitada nas cenas. Adoro essa dúvida: será que é um fantasma mesmo ou o cara está louco? Esse tempero sobrenatural me fascina mais do que as cenas de ataques de seres à la “zumbi”. Talvez, aí tenha sido a minha grande frustração. Eu esperava um tipo de terror e era outro. Por isso, minha decepção não deve ser seguida tão à risca; é mais uma questão de gosto. Sei que tem uma galera que ama esse terror apocalíptico.

Um ponto alto da trama, que precisa ser mencionado, é o relacionamento de Andy e Kerri. O conflito do limite entre a amizade e o amor, a questão da sexualidade, são temas desenvolvidos de forma natural e os questionamentos são bem pertinentes, corroborando para o viés dramático do livro. Isso sem contar na questão da representatividade, que é sempre bom ser discutida.

Mesmo o livro não tendo um bom desenvolvimento do sobrenatural (como eu ansiava), acredito que O Caso da Mansão Deboën vá empolgar quem curte uma trama de mistério recheada de ação e apocalipse. Afinal, é uma história bem construída, pesquisada, ambientada, e, por que não dizer, divertida. Vale constatar que a trama tem um potencial forte para o formato HQ. Acredito que uma boa ilustração intensificaria o terror das criaturas, que ficou faltando.

 

Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.

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