A Vida não é Justa, de Andréa Pachá | Resenha
‘A Vida não é Justa’: reflexões sobre o fim do amor
E viveram felizes para sempre… Mas, afinal, o que realmente acontece depois do “felizes para sempre?”. Atrelada ao casamento, a expressão é comumente associada à consolidação da felicidade pelo matrimônio. Como se todos os problemas de um indivíduo acabassem com a afirmação do enlace amoroso. Entretanto, a vida real é bem diferente da ficção e, em muitos casos, o amor não dura para toda eternidade. Em A Vida não é Justa, publicado pela editora Intrínseca, Andréa Pachá narra com muita leveza e bom humor as diferentes histórias sobre o que acontece com o fim do amor. Uma abordagem necessária sobre um assunto que gostamos de negar.
Para quem não conhece, Andréa Pachá, além de escritora, também é juíza. E foi da sua experiência de quase 20 anos à frente de uma Vara de Família que surgiu a inspiração para escrever A Vida não é Justa. O livro – originalmente publicado em 2012 e que serviu de inspiração para a série “Segredos de Justiça”, exibida no programa Fantástico (TV Globo) – ganhou uma apresentação contextualizando a obra, bem como uma nova capa e novo projeto gráfico pela Intrínseca, mantendo o trabalho visual apresentado em Velhos são os Outros – publicação também escrita por Pachá, lançada em 2018, pela editora, que trata sobre questões relacionadas ao envelhecimento.
Andréa Pachá tem um talento singular de transformar a sua experiência nos tribunais em histórias emocionantes, que nos fazem refletir sobre a vida e os relacionamentos. É tudo bastante objetivo e envolvente. A autora também desmistifica o papel do juiz e humaniza a sua figura, expondo os dilemas da profissão, o seu amadurecimento e a responsabilidade da decisão na vida das pessoas. De uma certa forma, aproxima o público deste universo judicial, distante e temido por muitos.
Conheci o trabalho de Pachá na leitura de Velhos são os Outros. E, através dos casos narrados, pude ampliar muito a minha percepção sobre o envelhecimento. Foi muito edificante. Por isso, assim que foi relançado, me interessei por A Vida não é Justa; em entender, desta vez, o que acontece quando o amor acaba.
Ao narrar casos de separações, guarda dos filhos, partilhas de bens, paternidade, histórias de amor, reencontros e desencontros, o livro explora a complexidade do fim das relações amorosas. Mais do que isso, fala da construção do conceito do amor, do ideal que nós criamos sobre o relacionamento e felicidade. A Vida não é Justa explora as dificuldades em lidar com o desamparo e as frustrações, de como ainda é complicado assumir o fracasso e seguir adiante.
A Vida não é Justa é uma trama leve, apesar de expor a questão do fim do amor. É uma leitura muito agradável e reflexiva – marcas já aparentes do belo trabalho literário de Andréa Pachá. Cada texto traz uma situação distinta, pontos de vista e personagens que mostram a complexidade e diversidade do tema.
O livro defende que o término de um relacionamento não é o “fim” e, sim, um recomeço. A obra é uma verdadeira redefinição do “felizes para sempre”.