Boy Erased: Uma Verdade Anulada, de Garrard Conley | Resenha
‘Boy Erased: Uma Verdade Anulada’: um relato angustiante, mas necessário
Certamente você já deve ter ouvido falar do livro Boy Erased: Uma Verdade Anulada, lançado pela editora Intrínseca, pelas polêmicas que cercaram o lançamento da adaptação cinematográfica da obra, no começo de 2019. Quando a Universal Pictures anunciou que o filme não seria mais exibido no Brasil, houve diversas acusações de censura nas redes sociais, incluindo do próprio autor Garrard Conley. Não pretendo entrar aqui no mérito das discussões e, sim, avaliar apenas a minha experiência com a leitura.
Boy Erased: Uma Verdade Anulada é um livro que resgata as memórias do autor Garrard Conley no doloroso período em que participou de um programa de conversão que prometia “curá-lo” da sua homossexualidade. Criado em uma cidadezinha conservadora no sul dos Estados Unidos e filho de um pastor da igreja Batista, Garrard foi convencido a participar do programa em uma tentativa desesperada de agradar os pais e de não ser expulso do convívio familiar. Um processo que quase o destruiu por completo.
É impressionante como as páginas conseguem absorver toda a carga pesada que Garrard viveu naquele programa. Os seus questionamentos, o medo, a revolta e o desespero. Chega um ponto que você tem que dar uma parada e respirar para continuar. O ponto alto de Boy Erased: Uma Verdade Anulada é o desenvolvimento dos conflitos do protagonista, que torna a compreensão do pesadelo vivido pelo autor no processo da “cura gay” ainda mais tangível. Os relatos de Garrard são muito angustiantes e a questão religiosa torna tudo ainda mais dramático. No fim, é revoltante! Sem dúvidas, a obra é uma leitura muito importante. É uma temática que precisa ser abordada, debatida e, principalmente, confrontada.
Por ser um livro de memórias, Boy Erased: Uma Verdade Anulada é uma obra bastante introspectiva e com pouca ação. Publicações com essa pegada geralmente têm um ritmo mais lento. Não sou fã. O autor também não segue uma cronologia temporal e, como não tem grandes viradas narrativas, é difícil ficar preso à leitura. A sensação é de que a história não se desenvolve e, atrelada aos longos capítulos, a leitura se torna massante.
Acredito que Boy Erased: Uma Verdade Anulada merecesse, no fim, um suspiro para o leitor. Respeito a decisão do autor de evitar floreios, apresentando uma realidade perturbadora e com sequelas permanentes. Até considero justo o caminho seguido para reforçar a gravidade do problema e dos danos causados aos participantes do programa. Entretanto, depois de tanta angústia, o público e as pessoas que passam por isso mereciam uma mensagem, por mais difícil que tenha sido o processo, mais otimista.
Independente de achar a leitura arrastada, Boy Erased: Uma Verdade Anulada é de extrema importância por abordar a temática da “cura gay” sobre o viés de um participante do programa que sofreu inúmeros traumas. Para quem passa por uma situação, no mínimo, similar, acredito que a leitura possa ser libertadora. Neste sentido, o livro cumpriu o seu papel e, se um leitor elimina a angústia e a revolta, acho que qualquer crítica negativa se torna insignificante. Uma pena que o outro lado (aqueles que acreditam que a homossexualidade é doença) dificilmente vá ler e/ou entender todo o sofrimento deste tratamento, mas, quem sabe, no futuro, a literatura, assim como a obra de Garrard Conley, possa contribuir ainda mais para uma maior aceitação da diversidade.