FLIPOP 2020: Entrevista com Casey McQuiston
A primeira autora internacional da FLIPOP foi Casey McQuiston, autora de Vermelho, Branco e Sangue-Azul, publicado pela editora Seguinte – que tem resenha aqui no site! Em um bate-papo muito legal, mediado pela autora Clara Alves, Casey compartilhou um pouco sobre cultura queer, processo de escrita e até política. Confira:
CA – O que te motivou a começar a escrever? E o que te motivou a escrever livros com a temática queer?
CM – Eu sempre fui uma grande fã de comédias românticas. A primeira que eu vi foi Mensagem Para Você, com a Meg Ryan e Tom Hanks. Eu sempre amei o escapismo das comédias românticas. Acho que esse é o ponto inicial.
Eu sempre adorei a comédia romântica, mas eu percebi que era muito difícil de achar histórias tão maravilhosas, lindas e com finais felizes que fossem queer. Quando eu comecei a escrever, eu comecei a conhecer a comunidade queer. Era uma comunidade que queria o final feliz e eu ficava pensando em como seria diferente se eu tivesse histórias assim durante a juventude.
CA – Como autora, eu sei que a gente nunca realmente acredita que o nosso livro vá ser um sucesso. Mas, Vermelho, Branco e Sangue Azul foi (e como!). O que você acha que fez com que a história chamasse a atenção de tanta gente? E como tem sido a recepção dos leitores e a sua relação com os fãs?
CM – Eu acho que livros assim dão às pessoas algo que elas queriam por muito tempo e não tinham conseguido achar. E esse sentimento, a alegria de se reconhecer ou de se refletir em algum tipo divertido de mídia, é muito contagiante e faz com que as pessoas leiam o livro e falem sobre ele.
É algo muito divertido, muito legal, tocou muitas pessoas e fez com que as pessoas se encaixassem nas histórias.
CA – Como é o seu processo de escrita e especificamente o processo de criação de personagens?
CM – Ai, meu Deus. Eu acho que desenvolvimento de personagens – minha parte favorita – é muito divertida. Eu começo com coisas básicas, como um traço de personalidade, um signo e construo dali. Pego algo de pessoas que conheço, partes da minha personalidade e construo uma pessoa. É muito divertido passar um tempo pensando em o que ele vestiria, que música ele gostaria, até pessoas com quem eles podem sair.
Eu pego coisas e personagens que eu já vi em outras ficções. Para Nora… Você já viu Criminal Minds? Eu sempre gostei do arquétipo de Spencer Reed, de Criminal Minds, aquele personagem meio gênio. E eu também amo a personagem Ilana, em Broad City, hilária, irreverente. E se eu combinasse as duas coisas?
CA – A Nora, com certeza, seria minha crush!
CA – Eu descobri que você se mudou recentemente para Nova York. Como afetou sua rotina de escrita? E com a pandemia?
CM – Minha vida antes de NY era muito voltada para ir para a rua, passeios de bicicleta, escaladas. Em NY, é sair na rua, comprar um bagel. O que eu sinto mais falta é da natureza. Eu adoraria que, nessa pandemia, eu pudesse sair de casa e curtir a vida na natureza.
Na minha rotina de escritora, a parte mais difícil é a capacidade de ignorar as notícias e tudo mais para conseguir escrever. É muito raro conseguir fazer isso, mas eu tento.
CA – Como bissexual, eu me identifiquei muito com o Alex e com os questionamentos dele. Nós ouvimos histórias de pessoas queer com famílias intolerantes demais, mas entender e aceitar a própria sexualidade pode ser muito difícil até para quem vive em uma família amorosa como a do Alex. O que fez você escolher esse contexto familiar para a história dele?
CM – A resposta real seria colocar para fora o que estava dentro de mim. Quando eu escrevi o primeiro rascunho, eu ainda não tinha me assumido para ninguém na minha família. Eu escrevia como eu esperava que esse momento seria para mim. Eu acho que é realmente importante para os leitores ver que é possível ter uma experiência familiar desse jeito. Que se assumir não precisa ser o fim do mundo.
CA – O livro tem muitas cenas engraçadas e eu me peguei gargalhando alto em várias passagens. Para você qual foi a cena mais engraçada de escrever?
CM – É engraçado porque as minhas duas favoritas foram uma das primeiras que pensei e uma das últimas. A primeira é quando Alex se assume e sua mãe faz uma apresentação de power point. E uma das últimas foi a cena do peru. Eu lembro que eu estava terminando meu rascunho perto do dia de Ação de Graças e eu estava vendo TV e vendo uma cena de um peru sendo cortado e precisava colocar no livro.
CA – Se você pudesse transformar um personagem em uma pessoa real, quem você escolheria?
CM – Eu não vou escolher o Alex porque, se ele e eu estivéssemos na mesma sala, seria tudo muito alto. Então, vamos deixar ele nas páginas. Mas eu adoraria passar um tempo com a Nora. Ela seria ótima companhia para tomar uma cerveja, para passear. Certamente seria a Nora.
CA – Para além da comédia romântica, o livro também traz debates muito relevantes sobre o cenário político e a onda conservadora que permeou as últimas eleições nos EUA. E que em muito se assemelha com a trajetória política no Brasil. Na história a gente tem um final alternativo para essa realidade. O que te fez seguir esse caminho?
CM – Não foi uma decisão consciente, e talvez tenha sido muito ingênuo da minha parte, mas eu comecei a escrever o livro em 2016 e nem sabia como terminaria aquele ano. A ideia inicial era baseado na administração do Obama, mas com as eleições tudo mudou. Mas eu resolvi mantê-lo.
CA – Sabemos que ainda existem muitos personagens queer invisibilizados. Eu amo como VBSA consegue demonstrar a diversidade dentro da comunidade queer. Eu acredito que, quanto mais histórias assim, mais esperança teremos de uma sociedade mais inclusiva no futuro. O que você espera que suas histórias comuniquem não apenas às pessoas queer, mas a todos que escrevem seus livros?
CM – Eu acho que, em termos de conteúdo, o que eu tento comunicar é que há muita complexidade na comunidade queer. Não há um jeito certo de ser, um jeito certo de se expressar. Há um milhão de jeitos de se descobrir quem você é e um milhão de caminhos de expressar quem você é. Pessoas queer estão aí há muito tempo. Cada um de nós tem sua própria história. Nós não somos os personagens secundários na nossa própria história, gente. O mais importante é escrever pessoas queer com muita humanidade.
Quando eu penso em um patamar maior, o meu objetivo é mostrar às editoras que, se elas apostam num autor queer em uma história queer, que há um mercado para eles. Se você apoiá-los, com uma boa capa, com uma boa campanha, há público. Pode ser muito recompensador e eles merecem ser conhecidos.
CA – Qual seu top 3 livros favoritos?
CM – Eu não sei como responder a essa pergunta! Um deles tem que ser The Importance of being honest, de Oscar Wilde, que eu li quando tinha uns catorze anos. É muito difícil! Eu vou trapacear e escolher mais dois que li recentemente e amei. This is How You Lose the Time War – a autora mostrou o livro na câmera. Riot Baby é ótimo exatamente para esse momento da história.
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