FLIPOP 2020: Resumão do quarto dia
*com Isabella Álvarez
Chegamos ao último dia da FLIPOP 2020 (AAAAH), e não poderia ter uma forma melhor de fechar esse evento tão incrível do que com três mesas extremamente necessárias e uma entrevista com ninguém menos do que a maravilhosa Rainbow Rowell, autora de Eleanor & Park (que, agora, será relançado pela editora Seguinte).
Se você perdeu alguma coisa, não se preocupe, porque a gente fez aquele resumo esperto:
Mesa #1 – Leitura obrigatória ou leitura de férias?
A primeira mesa do último dia da FLIPOP 2020 trouxe um tema à tona importante dentro da comunidade de leitores: as diferenças entre a leitura obrigatória e a leitura de férias. Na mesa, estavam as escritoras Adriana Falcão, Iris Figueiredo e Janaina Tokitaka, sob a mediação de Patrícia Metzler, responsável pelo setor de educação na Companhia das Letras.
A partir das porcentagens etárias dentre entrevistados sobre a presença da leitura nas suas vidas nos últimos meses, a Patrícia Metzler inicia o bate-papo questionando a importância da escola na vida dos jovens, uma vez que eles se apresentaram como grande parcela dos leitores no Brasil. Quando perguntadas sobre as suas leituras na época da escola, Janaina destacou que lia tudo e qualquer coisa, mas que sempre pegava livros mais intensos para ler. Ainda afirma que “o jovem não quer ver uma representação de, sei lá, saúde mental que não faça sentido”, lembrando a importância que os livros young-adult que fazem sucesso dão a honestidade. Ela destaca ainda que, muitas vezes, as leituras de escola não são as mais representativas, deixando muitos alunos de lado no processo de identificação.
“Quando o adolescente se vê representado, aquilo é muito potente, aquilo valoriza.(…) Se ver representado é algo muito empoderador.” – Janaina Tokitaka
Adriana, ao contar sua história, ressalta a dificuldade de leituras mais abertas no seu período de escola por causa da Ditadura Militar. Era um período em que a representatividade era quase nula. Na sua convivência com Ziraldo, ela diz que o icônico escritor defendia que a leitura obrigatória na escola tornava o livro num objeto chato, em “mais uma obrigação”.
Confira a mesa na íntegra aqui.
Mesa #2 – Jovens que fazem poesia; jovens que leem poesia
Nós temos a equivocada percepção de que praticamente ninguém lê poesia ou que poesia não faz sucesso. A falta de espaço destinado ao gênero no mercado editorial também ajudou a disseminar essa impressão. Ainda bem que estávamos errados. E o papo com os autores Bruna Pimenta, Lorena Pimenta e João Doerdelein, mediado por Paulo Santana, serviu para acabar com estereótipos e pré-conceitos em relação à poesia, que vem ocupando, cada vez mais, um lugar de destaque na indústria.
Inclusive, foi isso o que Paulo quis saber dos palestrantes, ao apontar que nas listas de livros mais vendidos há sempre uma obra de poesia.
Para Lorena, a poesia se tornou mais acessível, principalmente através – e por causa – das redes sociais.
“O livro mais vendido do país é um livro de poesias, que é o Textos Cruéis Demais Para Serem Lidos Rapidamente (editora Alt). Eu acredito que houve uma transformação na poesia, fazendo com que ela fosse mais acessível. Durante muito tempo, as pessoas viam a poesia como algo erudito. As pessoas não achavam tão legal ler porque não tinha uma aproximação, elas não entendiam. Então, a gente acaba aproximando essas pessoas pelas redes sociais, que eu também acho ser um dos motivos para esse boom. Até porque, se você é um autor e publica romances, obviamente você vai ter uma relação legal com o seu público nas redes, mas nós, enquanto autores que publicamos poesias, estamos sempre postando o nosso trabalho, então as pessoas conseguem ter uma demonstração do que a gente gosta de escrever, a identificação que eles têm com o nosso trabalho. Eu acho que junta isso tudo. A questão da mudança no que é a poesia no nosso país, a aproximação através das redes, e também porque eu acho que poesia humaniza as pessoas e traduz muito o que elas sentem. De certa forma, poesia é, até mesmo, algo terapêutico”.
João fez coro à opinião de Lorena, ressaltando a importância de simplificar a linguagem – algo possibilitado com as redes sociais – e de trazer elementos do cotidiano para o texto.
“É esse ponto de que a poesia sempre foi elitizada. Historicamente ela foi elitizada, os autores que faziam poesia faziam pra poucos. Ler poesia era para poucos. Quando a gente simplifica a linguagem que a gente usa na poesia, você torna esse conteúdo mais acessível. O que a gente mais vê é, na época de colégio, quando a gente vai estudar poesia, as pessoas fecham a cara, sem nunca terem lido ou terem lido pouco. Porque a gente pega autores que escreveram em outra época, com outra linguagem e para um público mais estudado. Você junta isso e um adolescente de 12, 13 anos não vai querer ler, vai travar. São pouquíssimos os que irão desenvolver essa vontade. Então, quando a gente simplifica a poesia também e escreve com as nossas palavras, traz a nossa gíria, o nosso cotidiano, os nossos termos e faz entender, mais pessoas leem”.
Ele também comentou sobre as semelhanças no tipo de consumo das redes sociais e da poesia, o que possibilitou às pessoas darem uma nova chance ao gênero.
“Juntando com as redes sociais, que alcançam milhares de pessoas, é mais plausível daquela pessoa dar uma chance para aquilo que ela está lendo porque tem menos barreira. Todo mundo escreve todos os gêneros literários na internet, mas a poesia, especialmente as mais curtas, as pílulas, encontram um espaço especial ali porque o consumo de conteúdo na internet é rápido e bateu naquela coisa das poesias de poucos versos ou com textos mais curtos porque também é rápido. E tem ainda aquela questão terapêutica da poesia porque faz bem para todo mundo. As pessoas gostam de poesia, às vezes, elas só não se permitiram gostar. A internet, todo esse novo advento das pessoas escrevendo na internet, é uma nova chance de as pessoas gostarem, e as pessoas estão gostando. Estão comprando As listas não mentem, os números não mentem. As pessoas sempre gostaram, só não deram a chance. E, às vezes, nem era culpa delas não darem a chance”.
Bruna Vieira, por sua vez, exaltou a capacidade de a poesia traduzir emoções e sentimentos, permitindo que as pessoas possam se identificar, se conectar.
“Eu sempre escrevi porque eu sentia as coisas. E eu não tinha coragem de falar em voz alta, então eu escrevia. O intuito da minha escrita é despertar, entender emoções. E eu acho que fazer isso através da poesia é acessível, é um respiro para um dia difícil. É uma forma de você entender o que está acontecendo dentro de você. Parece que o outro entrou ali e traduziu para você esse sentimento de compreensão. Fazer parte de algo é o que move o ser humano, e a gente não se dá conta disso. Fisgar esse leitor a a partir dessa maneira de se identificar é muito especial. Por isso que eu acho importante que seja democrático, que tenha poesia para todos os tipos de emoção e de sentimentos”.
Confira a mesa na íntegra aqui.
Mesa #3 – Procura-se uma agente
Qual é o papel de um agente na vida de um(a) autor(a)? Até que ponto ele auxilia no processo de lançamento de um livro? Para responder a essas perguntas – e outras! -, Jana Bianchi mediou uma mesa com três profissionais que têm bastante propriedade para falar sobre o assunto: as agentes Mia Roman, Guta Bauer e Taissa Reis.
Guta resumiu que o trabalho de um agente é basicamente um acompanhamento da carreira do(a) autor(a) no geral. Ela apontou também que é fundamental ter uma relação de confiança com o(a) escritor(a) para que se consiga o melhor para o livro.
“Nesse trabalho vai entrar o acompanhamento do processo de escrita, fazer brainstorm para entender se o autor está naquele gênero que ele pode render mais. Fazer a intermediação durante todo o processo com as editoras, ou produtoras, enfim, para onde a gente quer vender, de fato, esse livro. É abraçar o autor e caminhar junto. O interessante é ter uma relação de confiança com o autor e fazer todo um trabalho no qual a gente consiga chegar no melhor que o autor pode oferecer ao mercado. O papel é orientar, buscar boas parcerias, buscar o melhor para o livro, para o produto. A gente tem que entender que o livro é um produto, sim, e esse produto precisa ser bem trabalhado e chegar da melhor forma possível às editoras e ao puúblico final. Muita gente confunde se é uma assessoria de mídia, de imprensa, mas não é. A gente busca parceria, busca trabalhar o marketing do livro junto às editoras , aos parceiros. Mas o agenciamento não é assessoria de imprensa. Ele não vai buscar colocar o autor na mídia. Ele vai abraçar a carreira do autor e tentar fazer com que ele dê o melhor da produção dele para chegar até o consumidor final. É andar junto”.
Já Mia lembrou que o agente trabalha para que o(a) autor(a) tenha a tranquilidade para escrever e participa de todo o processo, incluindo pensar em outras mídias para a obra.
“Se o agente está fazendo bem o seu papel, o autor tem todo o tempo para escrever. Toda a burocracia e todos os pepinos vão pra gente. O trabalho no fim do dia é fazer com o que o autor possa escrever tranquilamente sabendo que a carreira dele está sendo bem cuidada. O agente também é o primeiro melhor amigo do livro. Está lá no começo da cadeia. Tem todo um trabalho editorial para preparar o manuscrito, o original para ir para as editoras da melhor forma, para ter as melhores chances. Eu acho que o bom do agente é isso. Você está lá para fazer todo o trabalho editorial, depois para a negociação, para as vendas internacionais, de filme, o que você quiser. Hoje, temos exemplos suficientes para ver que os livros não são só livros, mas uma primeira mídia. E tudo isso o agente tem que pensar na frente. E também, às vezes, um pouquinho psicólogo (risos)”.
Taissa, por sua vez, refutou a percepção de que os agentes são inimigos das editoras.
“É preciso deixar bem claro que os agentes, apesar de representarem os autores e suas obras, não são inimigos das editoras. Tem muita editora pequena, eu já vi, que fala: ‘ah, esse autor agora está com agente, eu não trabalho com autor com agente. Um editor falou isso. Os agentes não são inimigos porque o nosso trabalho é pensar qual é o melhor lugar e o melhor jeito para aquela obra sair para o mundo. Muita gente pensa que o trabalho do agente acaba quando assina o contrato. Pelo contrário. Ele tem que acompanhar se o livro está sendo bem feito, se vai ter lançamento, se a editora está cumprindo o que prometeu, se está pagando direitinho, se tem prestação de contas, se está sendo distribuído”.
Quer saber mais sobre agenciamento? Veja a mesa na íntegra aqui.