Entrevistas

Entrevista: Pedro Bandeira

Olhos marejados, sorrisos estampados no rosto e muitas, muitas fotos. Esse foi o efeito causado por Pedro Bandeira durante o 17º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, no último sábado, dia 20. A presença do autor transformou seus leitores mais velhos (muitos já pais) em crianças novamente. E quanto à nova geração, com certeza, ficará na lembrança dos pequeninos a inspiração das frases proferidas por alguém que, no alto de seus 73 anos, esbanja vitalidade, alegria de viver e principalmente de fazer o que gosta. Aliás, ama. A paixão de Pedro Bandeira pela escrita e por seus leitores é perceptível não só em suas páginas, mas também em suas palavras, que hipnotizaram aqueles que tiveram o privilégio de acompanhar o encontro com o escritor no evento. Em entrevista exclusiva ao Vai Lendo, Bandeira comentou sobre o lançamento do sexto volume de sua célebre coleção Os Karas, A Droga da Amizade, publicado pela Editora Moderna, a sua relação com o público e falou sobre a sua visão a respeito da educação e da importância do estímulo à leitura.

Pedro Bandeira conversa com leitores no 17º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens/ Foto: Vai Lendo
Pedro Bandeira conversa com leitores no 17º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens/ Foto: Vai Lendo

Com a certeza de ter feito uma obra atemporal, que marcou várias gerações e, até hoje, segue como uma das principais referências na literatura infantojuvenil, Pedro Bandeira fala com orgulho do seu querido quinteto formado por Crânio, Magri, Miguel, Calú e Chumbinho – os cinco adolescentes que formam o destemido grupo dos “Karas”. O sucesso da turma, segundo Bandeira, se dá pelo fato de as obras abordarem questões da realidade, como a ditadura, a amizade, conflitos e questionamentos, com as quais os jovens se identificam.

“O gostoso que a gente vê quando um livro se torna um clássico é que não importa o tempo”, declarou o escritor ao Vai Lendo. “Um clássico é um livro que trata de emoções humanas. Essas não mudam. Quando eu escrevi o primeiro livro, ainda não havia internet, computador pessoal, celular e, no entanto, até hoje, meninos de 11 e 12 anos entendem. Porque esses livros falam da amizade entre eles, fala contra o autoritarismo, a ditadura, tudo isso. E não importa se o Miguel vai falar de um telefone público. As crianças de hoje nem sabem o que é isso, mas não importa, não muda nada. E é por isso que eu tenho esse entusiasmo. É gostoso a gente descobrir que conseguiu atravessar gerações. Eu recebia muitas cartas e acabei virando amigo de alguns leitores, inclusive, dedicando livros a eles. Agora, estou dedicando livros aos filhos deles”.

Divulgação/Editora Moderna
Coleção ‘Os Karas’, de Pedro Bandeira / Divulgação Editora Moderna

Se já é difícil mexer em uma obra já publicada, imagina uma coleção de mais de 30 anos. E Pedro Bandeira, claro, tem plena noção da importância dos Karas para todo o seu público, que ansiosamente pedia ao escritor pela volta da turma. Cinco livros de aventuras não foram o bastante, tamanha personalidade e carisma de personagens que marcaram a vida daqueles que tiveram o prazer de “conhecê-los”. Mas havia o receio, por parte de seu criador, principalmente devido à questão do tempo e dos avanços tecnológicos, desde então.

“Trazer os Karas de volta era uma dificuldade”, disse ele. “Eu fiquei intimidado pelo fato de eles terem nascido no meio desta revolução tecnológica e de conhecimento dos últimos anos. O mundo mudou como nunca. Eu achava que não daria para fazer outra aventura com eles, apesar dos inúmeros pedidos. Então eu fiquei pensando e achei que queria fazer uma história com eles adultos. A vida adulta chega e, de repente, aquilo que era um sonho vira realidade. Amadurecimento. Você se preparou para estar aqui. É mais ou menos isso o que eu faço. Essa é a adolescência. Os Karas são meninos que brincam de ficar adultos e, de repente, ficam. A realidade os obriga”.

Pedro Bandeira autografa exemplar para o Vai Lendo
Pedro Bandeira autografa exemplar para o Vai Lendo

E para quem sempre quis ver as aventuras dos Karas no cinema, infelizmente, Pedro Bandeira afirmou que, no que depender dele, isso nunca irá acontecer. Isso porque o escritor já teve experiências que o deixaram triste não só como o criador da obra, mas também como público, uma vez que a essência de suas histórias foi alterada para elas se “adequarem” aos padrões cinematográficos. Aliás, se tem uma coisa que o escritor deixou claro, é que ele preza e muito a veracidade em sua relação com os leitores. Tanto que ele mesmo diz não saber escrever para “gente grande”. E Bandeira também ressaltou a importância do contato com os leitores nos eventos literários, que permite criar o vínculo com as obras e consequentemente com o hábito e o interesse pela leitura.

“Um adulto mente, ele não é capaz de falar que não gostou do livro”, declarou. “Uma criança que não gostou da história, vai largar. Não é falso. Eu tenho um prazer enorme em escrever para crianças. Desde pequeno, eu só gostava de brincar, então eu continuo brincando. Sempre gostei de contar história, por isso digo que não trabalho. A gente tem que procurar um trabalho fazendo aquilo que goste. Não sei escrever para adultos. Eu gosto de participar desses eventos porque é o momento que você tem o encontro físico com o autor. Nós temos uma profissão meio solitária, então, estar com as pessoas, ouvi-las e tocá-las é muito importante. Eu faço esses encontros há mais de 30 anos e eles me ajudam muito emocionalmente”.

Pedro Bandeira/Foto: Vai Lendo
Pedro Bandeira/Foto: Vai Lendo

Dotado da propriedade de quem fez parte do crescimento e da formação de vários leitores, Pedro Bandeira também fez questão de falar sobre a realidade da educação no Brasil. Ele reconheceu que nos últimos anos houve um aumento no acesso às escolas e ao aprendizado e que isso se reflete na literatura, mas fez questão de ressaltar também que é preciso que a formação venha de casa, dos pais, uma vez que as crianças precisam de uma base para formarem as suas próprias opiniões e descobrirem os seus interesses, principalmente no que diz respeito à leitura, que não pode ser imposta.

“Nós somos o único país do mundo em que o livro de literatura é adotado na escola obrigatoriamente”, explicou. “Atualmente, as crianças estão lendo mais do que os seus pais, seus avós liam. Hoje, por exemplo, meus livros vendem mais do que quando eu comecei. A Droga da Obediência já tem mais de 30 anos e vende 50 mil exemplares por ano. Mas isso tem que vir de casa. É isso que faz um leitor. Se um menino que nunca teve isso, esse exemplo, chega na escola e a professora começa a falar sobre livro, ele não vai saber o que fazer. A literatura imposta, que você tem que fazer prova, é uma coisa chata. Não é gostoso. Educação não é um problema da escola, é um problema da família. A escola é um complemento, que vai dar para o seu filho aquilo que você não sabe. Mas educação, disciplina e honestidade têm que vir da família”.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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