As Peças Infernais, de Cassandra Clare | Resenha
‘As Peças Infernais’: Mais um mundo fascinante criado por Cassandra Clare
É um pouco difícil não relacionar a saga As Peças Infernais com a outra grande obra de Cassandra Clare. Na verdade, gosto mais dessa saga do que da outra, que a antecedeu – embora os acontecimentos relatados em As Peças Infernais sejam anteriores ao da sua predecessora. É composta por três obras: Anjo Mecânico, Príncipe Mecânico e Princesa Mecânica. Como de costume, a autora deu um jeito de padronizar os títulos. Uma marca dela, pelo que pude perceber.
Gosto bastante do universo criado por Clare. Acho que ela fez um bom trabalho e criou um mundo mágico inteiro – tem de tudo, até feriado mágico. Naturalmente, para deixar mais emocionante, os humanos, que são sempre os trouxas nessas histórias, desconhecem a existência desse universo oculto e suas criaturas. Dentre elas, uma merece uma atenção especial, que são os Caçadores das Sombras, uma elite de descendentes de um anjo, que se deu o dever de policiar essas criaturas mágicas – que sabem fazer uma boa bagunça quando querem.
A verdade é que a Cassandra pegou os leitores fãs do gênero em seu ponto fraco. Afinal, não é fascinante pensar que, por trás da nossa realidade enfadonha, existe um lugar irresistível e magicamente perigoso? Com direito, é claro, a bruxos, vampiros, lobisomens, nephilins, demônios e até tatuagens mágicas!
Tudo começa com a imersão de uma jovem perfeitamente inocente e desavisada nesse universo cheio de perigos e criaturas esquisitas. Teresa Gray, vulgarmente conhecida como Tessa, de um momento para o outro, vê sua vida humana perfeitamente pacata estremecida ante a descoberta de que possui uma habilidade especial muito estimada: mudar de forma.
Ou seja, ela não é humana coisa nenhuma.
E é em meio a esse conflito de descobertas que a protagonista cai de paraquedas no universo cheio de regras, tradições e tretas dos Caçadores de Sombras, onde ela conhece os grandes amores da sua vida: o indomável e sedutor Will Herondale – que eu acho meio insuportável – e o gentil e cavalheiresco James Carstairs – menos insuportável, quase fofo -, cujo apelido é Jem. Um perfeito triângulo amoroso com dois personagens descritos como inumanamente lindos.
Pois é. A Clare adora triângulos amorosos.
Mas, apesar do meu receio com triângulos amorosos, esse até que dá para suportar. A autora conseguiu montar personagens que não se tornam cansativos – ainda bem. Temos uma Tessa equilibrada, inteligente e dona de suas vontades, um Will como um sujeito complicado, implicante e irônico e um Jem sempre cortês, doce e gentil. E assim eles se mantém até o final.
Falar dos mocinhos inevitavelmente me fez lembrar daquele que dá emoção a todas as histórias, que é odiado, sempre vencido e, muitas vezes, lamentavelmente pouco reconhecido: o vilão. Infelizmente, quanto a isso, esta saga me decepcionou, e muito. O que é chato é que a trama em si é bem legal e merecia um vilão bem melhor. Mas, levando em consideração as outras obras de Clare, cheguei à conclusão de que fazer bons vilões não é um ponto forte dela.
Lamentável.
Entretanto, ela tem certo talento em criar joguetes e tramoias infinitamente complicados, no que concerne linhagens e parentescos sanguíneos. Você e os próprios personagens passam o livro inteiro sem saber quem é filho de quem, porque é muita confusão. Aliás, essa questão de descendência é bem importante no universo dos Caçadores de Sombras. Na verdade, esse é um fator que meio que move toda a trama.
Se você também acha isso meio cansativo, toca aqui.
Mas, bem ou mal, a trama em si é bem bacaninha. E a obra tem um tom meio steampunk, que eu adoro. Então, posso dizer que não foi uma tortura ler os livros.
Achei bem legal o fato de Cassandra ligar as duas sagas – Os Instrumentos Mortais e As Peças Infernais -, fazendo uso desse universo imaginado que ambas têm em comum. E, antes que você possa evitar, está planejando e raciocinando sobre as famílias, linhagens e o que acontece mais à frente.
Quanto ao trabalho da editora, está lindíssimo. Os livros estão bem tratados e tão bonitos, que dá vontade de comprar só para ter na estante. Bom trabalho, Galera Record.
Podemos afirmas que, de maneira geral, As Peças Infernais tem mais pontos altos do que baixos.