Eu, Você e a Garota que Vai Morrer, de Jesse Andrews | Resenha
‘Eu, Você e a Garota que Vai Morrer’: uma montanha-russa cheia de altos e baixos
Assim como a adolescência, e como o próprio Greg -protagonista do livro- define a sua vida, Eu, Você e a Garota que Vai Morrer, publicado pelo selo Fábrica231, da Rocco, é uma montanha-russa de emoções. Em algumas partes, ele é genial e em outras, beira o fracasso. Um contraste que persegue o leitor durante toda a obra. É difícil saber se a trama escrita por Jesse Andrews deve ser amada ou odiada. É a típica leitura de extremos. No meio desta indecisão de classificação, a única certeza é que ele deve ser lido.
Eu, Você e a Garota que Vai Morrer narra a história de Greg Gaines, um adolescente pouco sociável que deseja passar o último ano na escola totalmente invisível, sem que ninguém o note. Após o primeiro dia, tudo parece que vai dar certo, até o momento em que sua mãe o convence a ser amigo de Rachel, uma garota recém-diagnosticada com leucemia que, no passado, digamos assim, teve um “rolo” com Greg. Enfim, o livro tinha tudo para ser mais uma história sentimental, de amor e luta pela sobrevivência, mas não é! Ele nem sequer aprofunda o tema “câncer”! Logo nas primeiras páginas, o leitor é surpreendido com uma proposta original, que se define em destruir os clichês de tramas juvenis. Já na introdução, pelo tom de deboche e crítica que o narrador-personagem apresenta a sua vida, é possível notar o diferencial da obra.
A paixão pelo título foi imediata – afinal, gosto de tramas que ultrapassam o convencional-, mas o amor não durou muito. Nos capítulos iniciais, a narrativa inovadora acabou se tornando muito didática: apresenta o modo de vida de Greg, a escola, as pessoas que o cercam. A trama demora a engatar. Ficou explicativo demais para uma proposta que pretende fugir do tradicional. No entanto, o modo como o personagem-narrador conduz a trama é bem crível. Parece que um adolescente realmente está escrevendo o texto.
Gostei especialmente de quando ele se perde no raciocínio e corta abruptamente um assunto, refletindo um comportamento típico da idade. O autor consegue passar muito bem a veracidade do protagonista, porém, Greg, em grande parte da obra, é intragável. A falta de carisma do personagem acaba por prejudicar a leitura. Às vezes, o leitor perde a paciência de acompanhá-lo.
Mas um dos grandes destaques de Eu, Você e a Garota que Vai Morrer é a relação com o cinema. Greg é apaixonado por filmes, e uma de suas maiores diversões, se não for a única, é criar vídeos baseados em produções cinematográficas com o amigo Earl Jackson. As adaptações são divertidas e responsáveis por cadenciar a trama. Além disso, o amor pela sétima arte reflete na forma em que a narrativa é escrita, algumas vezes, em forma de roteiro. Neste quesito, Jesse Andrews soube se apropriar do fato de a história ser contada por um jovem cineasta e, brilhantemente, mesclar diferentes estilos. Em algumas passagens, inclusive, o autor utilizou o formato de tópicos para explicar um fato, agilizando a leitura.
Com a construção deste protagonista, contudo, Andrews desestimula o engajamento com o livro. A história fica chata. Mas, ao mesmo tempo, quando se abstrai o comportamento de Greg e se avalia tudo criticamente, a obra é bem interessante. Eu, Você e a Garota que Vai Morrer quebra a todo o momento as expectativas do leitor. Os personagens fogem dos estereótipos, sem contar a originalidade da narrativa. Isso é fascinante! No entanto, como é impossível ignorar nossos próprios sentimentos durante a leitura, algumas pessoas podem acabar não aceitando totalmente a obra.
A ideia do autor de, na concepção de Greg, trazer um adolescente frio é compreensível e faz total sentido com o desfecho do livro (que, por sinal, é muito bom). Mas, se Jesse Andrews colocasse um pouco de compaixão, por menor que fosse, a trama fluiria de tal forma que poderia ser comparada a um foguete em ascensão.
Para quem não sabe, Eu, Você e a Garota que Vai Morrer foi adaptado recentemente para o cinema, pelo próprio Jesse Andrews, e ganhou os prêmios do público e do júri no Festival Sundance 2015. O filme ainda não chegou às salas brasileiras, mas pelo trailer já dá para perceber que a trama promete ser a redenção do autor (só espero não quebrar as minhas expectativas). O carisma do ator Thomas Mann, que faz o Greg, é nítido no material de divulgação – ele faz um estilo nerd cool, mais agradável do que o personagem descrito no livro -, sem contar que os experimentos cinematográficos de Greg e Earl ficaram bem legais na telona. Vamos aguardar!
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