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Prince of Thorns, de Mark Lawrence | Resenha

‘Prince of Thorns’: o começo de uma trilogia espinhosa, dark e fantástica

'Prince of Thorns', de Mark Lawrence / Foto: Site Darkside
‘Prince of Thorns’, de Mark Lawrence / Foto: Site Darkside

O que trago hoje, curioso amigo leitor, é a dark fantasy de estreia do britânico Mark Lawrence, Prince of Thorns, da Trilogia dos Espinhos – também conhecida como The Broken Empire, que é o título da série em inglês. Nesse primeiro volume, Lawrence faz um trabalho magistral que, a meu ver, seria uma preparação e uma singela apresentação do que vem a seguir, já que Prince of Thorns é apenas o primeiro de uma sequência de três livros, sendo seguido por King of Thorns e depois por Emperor of Thorns.

Quero deixar bem claro que eu sou uma grande fã da Trilogia dos Espinhos e já declarei o meu amor eterno ao autor. Mas tentarei fazer uma resenha equilibrada.

Comecemos com uma análise geral da obra. Prince of Thorns, como já foi dito acima, é do tipo dark fantasy – e coloca dark nisso; só não é mais dark porque tem sangue voando todo lado ao longo da trama, então as coisas ficam meio vermelhas grande parte do tempo -; é pleno de oscilações temporais – cujo objetivo, imagino, seja contar ao leitor a história do personagem, apresentando os motivos que fizeram com que ele chegasse ao ponto em que está no momento presente do livro -; apresenta uma narrativa em primeira pessoa que, em minha humilde opinião, é um dos fatores principais para expor a grande habilidade de Lawrence nesse primeiro livro. Porque mesmo com um narrador personagem – o que, normal e inevitavelmente, limita a visão do leitor com relação à história como um todo -, o autor em momento nenhum deixa o leitor sem saber exatamente o que está se passando – até mesmo porque toda a história se volta para as peripécias de um único personagem, que é o protagonista e narrador, e um sujeito bastante egoísta, devo dizer, que não se importa de ser o centro das atenções. Sendo assim, nada melhor do que deixá-lo narrar sua própria história para inflar seu ego.

Prince of Thorns se concentra na vingança do príncipe Jorg de Ancrath, que, quando criança, testemunhou o brutal assassinato de sua mãe e irmão mais novo, depois de ser atirado em uma roseira-brava, cujos espinhos lhe deixaram marcas profundas – tanto no corpo, quanto na alma. Imagino que daí é que tenha vindo o nome Prince of Thorns (Príncipe dos Espinhos).

Sabendo a identidade do mandante de tal assassinato e nutrindo um profundo ódio pelo pai indiferente e cruel, Jorg se desvia dos caminhos esperados para um príncipe herdeiro e se torna um tipo de mercenário muito, muito cruel e inconsequente, em companhia de um grupo de foras da lei, tão cruéis quanto ele. Em busca de sua vingança, Jorg se depara com inimigos brutais e mistérios diversos.

A trama se passa em um tempo medieval, com um toque de magia bastante sombrio. Com direito a monstros deformados, chacinas, necromantes e mortos que falam e vigiam. E, sendo uma leitora também levemente assombrada e com um gosto por dark fantasy, devo dizer que esses fatores me chamaram bastante a atenção, principalmente pela forma envolvente com que foram desenvolvidos pelo autor.

Quanto ao vilão, esse livro é recheado deles. Se eu me dispusesse a falar sobre cada um deles detalhadamente, essa resenha teria que ser dividida em parte I e parte II. O próprio Jorg pode ser tido como um tipo de vilão – porque, cá entre nós, ele comete atos, no mínimo, condenáveis e tem alguns pensamentos bem duvidosos. Mas ressalto aqui o pai de Jorg, o rei Olidan de Ancrath – que é um facínora, frio e ainda mais cruel do que o filho, e sem o seu senso de humor -, os necromantes – que, de todo modo, amigos não são – e o mago Sageous – que tem uma pequena participação nesse primeiro livro.

Um tópico que precisa de uma atenção especial e que eu, propositalmente, deixei para o final, diz respeito ao protagonista, Honório Jorg de Ancrath, para os íntimos Jorg – para os muito íntimos Jorgy. Desde que fiz minha própria leitura desse primeiro volume da trilogia, vi as mais diversas reações dos leitores com relação à saga e, principalmente, ao protagonista. Reações essas que variam da idealização insana à repulsa sinistra. Vi muitos considerarem Jorg um personagem tão fantástico quanto o gênero do livro pedia, e os vi torcerem por ele, mesmo com toda a sua maldade – eu mesmo fui vítima desse jovem crápula. Vi argumentos contra Jorg, que o acusavam de ser uma criança mimada, de ser um moleque metido a bad boy que quer apenas aparecer. Alguns apontaram a impossibilidade de ele ser capaz de fazer tudo o que fez ao longo do livro – principalmente porque, neste primeiro livro, ele ainda nem completou 14 anos, mas já cometeu atrocidades que até mesmo os bandidos mais experientes duvidariam, e consegue, ao mesmo tempo, mostrar um pensamento lógico e estratégico realmente difíceis de acreditar.

Mas, francamente, acho que é justamente aí que está a beleza do personagem. Não posso dizer que tais argumentos e acusações não fazem sentido, porque fazem. Mas não vejo problema em Jorg ser um príncipe mimado, traumatizado e complexado, e ainda por cima extremamente inteligente, porque eu acho que ele é isso mesmo. E esse foi justamente um dos fatores que me fizeram gostar tanto livro – e o fato de a narrativa ser feita pelo próprio Jorg permite que o leitor mergulhe ainda mais fundo nessa sua insanidade. Afinal, se Jorg é tão insuportável assim, só podemos esperar uma coisa: que ele cresça e mude, mesmo que seja para pior – o que, eu admito, seria bastante interessante ver as saídas que o autor criaria para ele. Afinal, Jorg é apresentado como uma criança, a bem da verdade, e em pleno estado de desenvolvimento.

Ver o crescimento de um personagem anti-heróico, cruel, irônico e dono de um raciocínio lógico e estratégico que estão acima do normal e um senso de humor sombrio de maneira hilariante? Isso me parece, no mínimo, interessante.

Livro / Foto: Site Darkside
Livro ‘Prince of Thorns’, de Mark Lawrence / Foto: Site Darkside

Quanto ao trabalho da editora, só posso dizer que a Darkside está mostrando que, apesar de ser nova no mercado, veio para barbarizar. E, na minha opinião de leitora, digo que ela está conseguindo. O trabalho físico de Prince of Thorns ficou simplesmente magistral; ouso dizer que quase beira a perfeição, segundo os meus padrões – capa dura, designer excelente, acabamentos ótimos, resistente e material de boa qualidade, sem falar dos detalhes visuais entre as páginas e a diagramação realmente agradável aos olhos. Meus parabéns à editora, porque mesmo se o livro não fosse bom, eu provavelmente o compraria só para tê-lo na minha estante.

Sendo assim, finalizo com uma recomendação fervorosa a todos os fãs de literatura fantástica. E aqueles que estão querendo se aventurar pela primeira vez nesse território.., bom, não se assustem com o que lerem nesse livro.

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