Maus – A História de um Sobrevivente, de Art Spiegelman | Resenha
Vencedor do Prêmio Pulitzer de Literatura, clássico contemporâneo das histórias em quadrinhos reproduz um relato real de um sobrevivente do Holocausto de maneira sincera e tocante
“Os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.” Entendo bem o que meu amigo e conselheiro Mario (Quintana) quis dizer. Essa sensação de fechar um livro e se sentir uma pessoa diferente daquela que o abriu. Esse sentimento inspirou a escolha de livro para minha primeira resenha no Vai Lendo: “Maus – A História de um Sobrevivente”, de Art Spiegelman, publicado pela editora Companhia das Letras. Trata-se de um clássico contemporâneo das histórias em quadrinhos. Foi publicado em duas partes, a primeira em 1986 e a segunda, em 1991 (ao ler, você entenderá o motivo). Em 1992, recebeu o Prêmio Pulitzer de Literatura. O recurso usado por Art foi retratar os judeus como ratos e os nazistas, gatos. Os poloneses não-judeus são porcos e americanos, cachorros.
Sim, é uma história em quadrinhos. Sempre gostei do gênero, desde os seis anos, quando aprendi a ler e comprei a minha primeira revistinha da “Turma da Mônica”. Não é exagero nenhum dizer que os quadrinhos me tornaram uma leitora, desenvolvendo em mim o hábito de me isolar em um mundo particular – e, não muito mais tarde, procurar por histórias mais complexas. No caso de “Maus” (que significa “rato”, em alemão), o fato de ser uma história em quadrinhos torna toda a narrativa mais dinâmica e suportável, por assim dizer. Explico: é um relato real de um sobrevivente do Holocausto. Amizades se desfazem, escolhas difíceis são feitas, famílias se separam. Tudo em nome da sobrevivência.
Como mãe de um carinha de seis anos (quase sete, como ele faz questão de me lembrar diariamente), não posso imaginar o sofrimento de uma mãe que entrega o filho a desconhecidos para que ele tente fugir do país – e tenha uma chance de sobreviver. Essas reviravoltas da vida, quando exploradas em livro, geram páginas e páginas de diálogos emocionantes e, para mim, cruéis. Choro por dias a fio, aquilo entranha em mim. Os quadrinhos trazem todo o conhecimento em forma de ilustração. A gente vê o sofrimento, mas não entra em detalhes. Cada um absorve aquilo na intensidade que escolhe ou bem entende.
Art Spiegelman, o autor, é filho de Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz. A relação entre os dois é bastante explorada, e de maneira cômica, já que o filho implica com os modos antiquados do pai. Vladek, sem dúvida, teve sua visão de mundo completamente transformada pelos tempos anteriores à sua prisão em Auschwitz (quando ainda tentava evitar ser encontrado pelos nazistas) e, principalmente, pela estada por lá. Tudo que ele se tornou, sua personalidade resmungona e desconfiada, o extremo apego ao dinheiro e à economia de recursos, é mostrado de forma divertida, mas, ao leitor mais atento, não passam batidos os danos permanentes que tamanho trauma produziu em Vladek. Mais do que isso, passamos a entender o pobre velhinho. Passamos a saber o que é ser perseguido, passar fome, ter medo constantemente, só por pertencer a uma classe social, racial ou religiosa. Este livro traz uma lição de tolerância preciosíssima para quem quer que tenha a sorte de tê-lo em mãos.
Um comentário
Marcela Bronstein
Bia
Aqui em casa também lemos e o filhote que escolheu…
Leitura obrigatória…
🙂