Entrevista: Carolina Cequini
A escritora e ilustradora Carolina Cequini conversou com o Vai Lendo sobre o lançamento de seu primeiro livro ‘Surfistas, Beijos e um Pé de Pato’, sua paixão pelo desenho e pela escrita e suas perspectivas para estudar Design e Animação nos EUA
Trabalhar tanto com a escrita quanto com a imagem é um talento para poucos. Principalmente aos 20 anos. Mas o sonho e o talento da escritora e ilustradora Carolina Cequini mostraram como temos potencial a ser descoberto em nossa literatura. Prestes a se mudar para os Estados Unidos, onde irá completar a sua formação em Design e Animação no Savannah College of Art and Design, ela acaba de vivenciar a realização do sonho de lançar o seu primeiro livro, no qual também é responsável pelas ilustrações, Surfistas, Beijos e um Pé de Pato, pela editora Atheneu. Em conversa com o Vai Lendo, Carolina falou do seu amor pelos desenhos e pelos livros, do processo e da expectativa da publicação de sua obra, bem como os seus planos.
Como uma boa carioca que mora perto do mar, Carolina sempre imaginou histórias em que o seu ambiente estivesse presente. Tanto que ela mesma diz acreditar “secretamente” em sereias. Por isso mesmo, sua primeira protagonista não poderia ser outra coisa senão essa bela criatura marítima. Mas, tirando a cauda, a autora admitiu que a personagem – Celine, uma sereia de 14 anos – tem características bem semelhantes à sua criadora: “ela é sonhadora e terrivelmente romântica, assim como eu!”. Aliás, Surfistas, Beijos e um Pé de Pato tem muito da própria vida de Carolina, como a própria cidade e outros personagens baseados em amigos, fato que, ela explicou, lhe ajudou a dar mais realismo nas personalidades. E deu tão certo que um livro foi pouco para conhecermos as aventuras de Celine e sua turma, que, na verdade, serão contadas em uma trilogia.
“Lançar Surfistas, Beijos e um Pé de Pato é a realização de um sonho”, declarou Carolina. “Significa uma conquista muito grande. Eu sempre tenho vontade de chorar quando penso que, há cinco anos, no primeiro ano do ensino médio, minha eu de 15 anos sonhava em mostrar seus personagens e suas ideias para o mundo e estudar fora. Hoje, tudo isso está se tornando realidade, mas porque nunca desisti de correr atrás. A ideia da trilogia só surgiu mais tarde, quando vi que um livro não seria suficiente para toda a história que eu tinha em mente. Ainda tem muita água para rolar (água… Mar… Sereia… Entendeu? risos)!”.
Antes mesmo de se tornar escritora, porém, ela contou que já havia “nascido ilustradora”. O gosto pela leitura, Carolina explicou, foi adquirido com o tempo, enquanto “o hábito de desenhar sempre foi muito forte”. Ela também explicou que Celine surgiu primeiro através de uma imagem e que consegue ver a sua história como um filme animado. A autora e ilustradora ressaltou ainda que não se deve deter as inspirações quando estas aparecem, mas é preciso manter a essência da trama e do personagem.
“Geralmente, as ilustrações surgem primeiro”, detalhou. “Um rabisco no canto do caderno pode acabar virando uma personagem, e foi assim que a Celine surgiu. Depois dos primeiros rabiscos, a personagem vai tomando forma, conforme vou criando sua história, seu passado, seus desejos e características. E, assim, desenho e história se aperfeiçoam juntos. Quando já tenho toda a história na cabeça e sei o que vai acontecer no início, meio e no fim, começo a escrever o livro, deixando sempre certa liberdade para ver onde os capítulos vão me levar. A partir do momento em que seus personagens ganham vida, coisas que você planejou inicialmente já não se encaixam mais, e você sabe que ele/ela agiria de forma diferente. É preciso respeitar o personagem. Outras inspirações também surgem no caminho, e novas situações e aventuras são escritas. Nunca sai exatamente como planejado, e isso é divertido! Depois do livro pronto no computador, comecei a ilustrar as cenas que achei mais marcantes. Mas toda a história se passa como um filme animado na minha cabeça enquanto estou escrevendo”.
Carolina afirmou que ainda está procurando o seu próprio estilo e que, na ilustração, ele se aproxima dos traços dos estúdios Disney e dos mangás (as revistas em quadrinhos japonesas). Ela, que tem como referências visuais Viria, a Burdge, a Sakimi-chan (famosas no Tumblr e no Deviant Art) e, claro, Glen Keanne – seu animador preferido da Disney -, também é fã de escritores como Meg Cabot, Rick Riordan e Diana Wynne Jones. Cheia de expectativas para a sua temporada nos Estados Unidos, Carolina confessou que, talvez, não consiga se dedicar tanto à escrita durante este período, mas tem certeza de que a experiência irá acrescentar muito para seus futuros trabalhos literários. Mas não se preocupem, leitores! A continuação da história de Celine está a todo vapor!
” Já terminei de escrever o segundo livro (falta só ilustrar e revisar) e estou com parte do terceiro em desenvolvimento”, garantiu. “Sempre que voltar ao Brasil, nas férias escolares, pretendo participar de eventos literários. E também aproveitarei essas vindas ao Brasil para fazer os próximos lançamentos! A trilogia de Surfistas, Beijos e um Pé de Pato é apenas uma das cinco histórias que comecei a desenvolver no ensino médio. Como toda boa geminiana, tenho a mania de fazer mil coisas ao mesmo tempo e preciso estar sempre me controlando para não deixar um projeto inacabado e começar outro, quando me der na telha! Algumas histórias quero deixar reservadas para projetos de curtas animados, ou séries ou filmes! Mas tenho uma ideia para um conto que quero escrever em breve e também pretendo escrever algo mais pessoal, sobre minha experiência no exterior”.
Por falar em eventos literários, Carolina não abre mão de estar próxima dos seus leitores e acredita que a pouca diferença de idade com o seu público facilita nesse relacionamento, justamente por ela entender como a mente dos jovens funciona.
“Eu comecei a escrever na adolescência, era nada mais nada menos do que o público-alvo da minha própria história!”, lembrou. “Eu sabia exatamente pelo que uma pessoa de 14 anos passa, o que ela sente nessa fase, o que ela busca… Depois que cresci e amadureci, pude voltar atrás e revisar a história, melhorando a escrita e corrigindo erros gramaticais. Mas a base é a mesma. É a voz de uma adolescente em um livro para adolescentes. Por eu ser ainda muito nova, minha relação com os leitores é praticamente de igual para igual. Falamos a mesma linguagem, usamos as mesmas gírias, as mesmas referências, e damos ataques de fangirl para as mesmas coisas! Mas, claro, ainda sou mais velha e estou alguns anos à frente, academicamente falando. Muitas olham para mim com aquele olhar de ‘quero ser assim como você daqui há cinco anos!’. É muito emocionante servir de exemplo para alguém. Acredito que passei pelas mesmas dificuldades que qualquer escritor passa, independentemente da idade: bloqueio criativo, falta de tempo para escrever, insegurança para deixar os outros lerem aquilo que você escreve, mas consegui superar isso com o apoio dos meus pais e dos amigos”.