Quintal Étnico: o primeiro livro de colorir brasileiro
A designer Julia Vidal e o ilustrador Rafael Nobre lançam ‘Quintal Étnico’, o primeiro livro de colorir com temática brasileira, pela Babilonia Cultura Editorial
Os mais belos traços da cultura brasileira à disposição de todos, de maneira que, agora, podemos finalmente nos relacionar com as nossas mais variadas etnias e descobrir os seus encantos e delicadezas. É isso o que a designer Julia Vidal e o ilustrador Rafael Nobre esperam proporcionar aos leitores com Quintal Étnico, o primeiro livro de colorir com temática étnica exclusivamente brasileira, lançado na última segunda-feira (21), pela Babilonia Cultura Editorial. Focado na cultura afro-brasileira, o título traz toda a vibração das cores da África no Brasil, através da moda, mitologia e proteção.
“O tema do nosso catálogo é territórios culturais, então, pensamos que poderíamos fazer um produto comercial, mas com conteúdo”, explicou Michelle Strzoda, diretora editorial da Babilonia Cultura Editorial, ao Vai Lendo. “A Julia já tem esse trabalho com a moda étnica, a cultura afro, tanto que já havíamos lançado O Africano que Existe em Nós, Brasileiros. Assim, eu conversei com o Rafael, que também é sócio da Babilonia. Ele é ilustrador, e eu achei que esse casamento daria um caldo, porque um desenha muito e o outro é muito bom nessa área de conteúdo, além de ser designer e estilista. Quando começamos o projeto, estava no auge dos livros de colorir. A ideia era lançar até o início de agosto, então, atrasamos um mês e meio, mas sabíamos que teríamos um diferencial nesse projeto. O livro está longe de ser um livro didático, mas nós queríamos também um material de suporte, uma espécie de ferramenta para trabalhar com oficinas, workshops, sempre focando nessa parte de etnia, moda. Teve essa brincadeira com o nome, o fato de ser ‘quintal’. É uma algo mais de raiz. Tem essa pegada de brasilidade. Nós sentíamos falta, dentro desse nicho, de ter algo nosso”.
Para Julia, o objetivo principal do livro é oferecer uma oportunidade de interação familiar para que a cultura seja assimilada de forma consciente. Ela disse acreditar que a moda é uma ferramenta que permite esse tipo de atividade e aprendizado. Tanto que, ela afirmou, Quintal Étnico é uma espécie de “coleção” de roupas, com início, meio e fim. As estampas encontradas no livro, por exemplo, foram escolhidas a dedo por Julia e representam momentos da história da marca da estilista – que completa 10 anos.
“Eu acredito que o livro traz aquela questão do conforto, de você se sentir mais pleno, no que diz respeito ao autoconhecimento”, declarou Julia. “É uma ferramenta necessária. Adultos e crianças passam por esse momento de descoberta. E eu espero que seja um momento em que todos descubram juntos essa simbologia, essa história. Ele tem toda essa parte da ilustração, que é bastante lúdica, e o texto, que não é infantil. Tudo isso vai somar para que todos tenham essa percepção e sintam-se parte disso. É muito importante nesse sentido, de ser um instrumento para que nós, como brasileiros, possamos nos conhecer mais e a nossa cultura”.
Rafael, por sua vez, reforçou a fala de Julia, destacando ainda a importância de produzirmos, cada vez mais, um conteúdo próprio. Ele também apontou algumas diferenças e singularidades no traço das ilustrações voltadas para um livro de colorir, que exigem um cuidado maior nos detalhes.
“Cada vez mais temos que produzir conteúdos nacionais, pensados na nossa cultura, e não apenas importar”, atestou ele. “Muitas vezes, deixamos coisas boas de lado por causa disso, nem paramos para pensar, porque é ‘mais fácil’ trazer de fora. Percebemos que havia essa lacuna de um livro voltado para a cultura brasileira, e acredito que esse livro consegue preencher essa lacuna no mercado. Como é um livro de colorir, tem a questão da técnica. De o traço ser bem fininho, com muitos detalhes. Não pode ser nada muito vazio, nem falhado. O traço precisa ser certinho. Tem que ser uma estética pensada para essa atividade”.
E, falando da moda arrebatadora dos livros de colorir, Michelle ressaltou que, para esse tipo de obra pura e simplesmente, não há mais espaço, uma vez que o mercado editorial vive de ciclos. Ela destacou ainda a importância de se buscar um diferencial, alguma inovação para sustentar o gênero. No entanto, ao contrário de muitos da indústria, a diretora da Babilonia Cultura Editorial reconhece o valor dos livros de colorir, pois acredita que “tudo que cria uma experiência com palavras e imagens é uma publicação e possui o seu lugar”. Mas ela indicou também a necessidade de se elevar a experiência da leitura, despertando outros tipos de interação e atitude, por parte dos leitores.
“Os editores, no geral, precisam pensar em tendência, desafios”, disse ela. “Agora, o profissional precisa se antecipar. Você trabalha com determinados nichos. A questão é que, se ficar apenas reproduzindo um produto, no caso, os livros de colorir, ele fica desgastado, chato, antiquado. Primeiro, é preciso identificar as demandas do público, esse é o grande barato e desafio. Dali, você começa a antecipar e passa a dar a sua personalidade ao projeto. Tentamos fazer isso com o Quintal Étnico. Então, o que alguns editores que se anteciparam nessa onda estão fazendo é o livro de passatempo, que tem uma interação além da leitura. Ou que exigem outro nível de criatividade do leitor, que também vira um criador. São livros que demandam outro tipo de atitude, e isso tem muito a ver com essa era digital. Você não tem mais só a experiência da leitura. Você vivencia a experiência do livro de vária formas. Essa experiência da leitura sempre vai ser pertinente, mas o que colocamos em pauta é que o livro pode ser algo além da leitura. É o livro além do livro”.
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