Entrevista: Tamires Romano
A escritora Tamires Romano estreia na literatura com o livro infantil ‘Verdinelo e seus amigos’, primeiro volume da coleção ‘Chinelo Viajante’, e fala ao Vai Lendo sobre suas inspirações, referências e expectativa para o lançamento da obra
A leveza e a ingenuidade de uma história, tal qual o seu público. A realização de um sonho através de um personagem curioso, que provavelmente passaria despercebido, não fosse a sensibilidade e a imaginação fértil de sua criadora. Numa semana em que o Vai Lendo entrou no clima do Dia das Crianças, resolvemos homenagear os nossos pequenos leitores com algumas matérias especiais, voltadas especificamente para esse público. E começamos com a escritora carioca Tamires Romano, que se prepara para lançar em novembro o seu primeiro livro, Verdinelo e seus amigos, primeiro volume da coleção Chinelo Viajante, pela editora Kiron.
Na história, Verdinelo é um chinelo verde com fivelas grossas e solado resistente, que desbrava um mundo turbulento, no qual o cultivo à amizade é deixado de lado. Porém, o simpático calçado consegue espalhar a sua alegria em todo lugar, sem se importar com as diferenças dos outros sapatos – como foram fabricados ou a sua cor, por exemplo. O único desejo de Verdinelo é fazer novos amigos, sem discriminar ninguém. E é com essa trama divertida e inspiradora que Tamires faz a sua estreia na literatura. Para quem não sabe, as aventuras de Verdinelo foram inspiradas em fatos verídicos. A autora também ressaltou a importância de utilizar a literatura para ensinar as crianças a lidarem com conflitos e questionamentos da nossa realidade, uma vez que elas conseguem se identificar com determinados personagens/situações.
“O personagem principal é um chinelo porque essa é uma história verídica!”, afirmou Tamires ao Vai Lendo. “Existiu, de verdade, um chinelo verde, em 2006, que era do meu irmão e, sem querer, foi parar no Paraná! Minha afilhada pediu emprestado e não conseguiu devolver. Então, me mandava mensagens toda semana, do tipo ‘hoje eu fui com o chinelo do Ian para o parque’, ‘hoje eu fui com o chinelo do Ian para a feira’… E eu achava isso tão engraçado que, um dia, surgiu a ideia de um chinelo que conhecia outros calçados e era sempre simpático. As histórias são sempre ferramentas válidas para lidar com situações de conflito para as crianças. É através da conexão com o personagem que eles aspiram ser melhores. Os contos de fadas despertam nos pequenos o que eles têm de melhor”.
Leitora assídua e amante da escrita, a literatura sempre esteve presente na vida de Tamires, que é fã de J.K. Rowling, autora da série Harry Potter, bem como de Maurício de Sousa, Monteiro Lobato, Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Pedro Bandeira, considerados suas referências literárias, especialmente no gênero infantil. Ela também exaltou a importância de se estimular o hábito de ler nas crianças, desde cedo, porém, sem imposição. E, apesar de adorar se comunicar com os pequenos leitores, Tamires também declarou ter trabalhos de outros gêneros em desenvolvimento, como um livro de poesias, uma lenda, música e alguns contos isolados que, antecipou, podem virar uma coletânea.
“É um sonho indescritível entrar na mesma categoria que esses gênios da Literatura Infantil”, comemorou. “Eu já tinha pensado em editar algum livro, mas nunca tinha planejado ser escritora de verdade. Eu amo escrever e passaria o resto da vida fazendo só isso e muito feliz, mas nunca foi algo premeditado. Eu acho que eu sempre fui escritora, só não tinha percebido ainda. Obviamente tenho uma ‘quedinha’ pelo público infantil, mas, sinceramente, pretendo escrever o que acredito ser válido para a sociedade. A leitura é vital não só para as crianças, mas também para os adultos. Novos leitores surgem todos os dias; o importante é descobrir que ler não deve ser uma obrigação e, sim, um prazer! Penso que o hábito de ler deve ser implementada desde a vida intrauterina. Crianças que são criadas em ambientes cheios de livros e são acostumadas a verem seus pais ou responsáveis lendo ficarão mais propensas a, ao menos, experimentar a leitura desde cedo”.
Abordando temas delicados, principalmente a questão das diferenças e a discriminação no universo infantil, Tamires destacou o acesso cada mais vez fácil e rápido de informações variadas pelas crianças, o que, muitas vezes, apenas acelera ou ultrapassa uma etapa de seu desenvolvimento, acabando com a sua ingenuidade.
“A intolerância é uma realidade, triste dizer”, apontou. “Infelizmente, ter a sua própria opinião é considerado uma ofensa, muitas vezes. O que eu acho completamente contraditório é que vivemos em um mundo onde as diferenças estão aí, todos os dias. E essa é a verdadeira beleza da vida, do mundo, do ser humano. Aquela velha frase ‘o que seria do amarelo se todos gostassem do azul?’ não seria chamada de “sabedoria popular”, se não estivesse recheada de verdade. E é evidente que isso se reflete cada vez mais em nossas crianças, que não são poupadas dos pensamentos e dos conflitos do mundo adulto, assistem a novelas, usam tablets e têm acesso à internet pouco ou mal controlado, em alguns momentos. Vícios e defeitos estão atingindo cada vez mais rápido os pequenos, que costumavam ser mais puros e ingênuos”.
Embora a coleção do Chinelo Viajante seja inicialmente composta de três livros, Tamires não descartou a publicação de outras obras do personagem. Nos próximos volumes, intitulados Verdinelo e seus estudos e Verdinelo e suas virtudes, respectivamente, a autora segue com a linha pedagógica, tentando passar ensinamentos e valores aos leitores, que ela espera consigam absorver as questões e principalmente refletir sobre elas. Sem esconder a emoção, ela também comentou sobre a expectativa para o lançamento do primeiro livro.
“Eu já escrevi um conto com o Verdinelo e acredito que isso venha a acontecer com alguma frequência”, disse. “Em Verdinelo e seus estudos, mostrarei que estudando de forma comparada podemos encontrar o mesmo ensinamento escrito de formas diferentes. Já no terceiro (e, por enquanto, último) título, Verdinelo e suas virtudes, o personagem aprenderá a descobrir as suas qualidades internas e utilizá-las a favor da natureza e para melhorar o mundo e a si mesmo. Estou vivendo esse processo tão lindo desde maio desse ano. Cada etapa foi tão maravilhosa, e eu vivi tão intensamente, que sinceramente não sei nem o que esperar. Só sei que vou chorar (no lançamento), é tudo o que posso dizer. Entrar na livraria, ver meu livro na estante e ver que meus amigos saíram de suas casas só para estarem lá comigo vai ser um dos momentos mais felizes da minha vida. Disso eu tenho certeza! Eu espero que meu livro possa representar uma reafirmação para os que já vivem assim, aceitando as diferenças uns dos outros, um aprendizado para os que não e um momento de reflexão para aqueles que nunca pensaram nisso”.
3 Comentários
Carol Defanti
Que coisa mais linda!!!! Adorei!
Não acho que agora eu consiga olhar para os meus chinelos da mesma forma. kkkk (o meu é Rosanelo).
Gostei muito da entrevista e de saber que mais uma escritora de literatura infantil está no mercado. =)
Tamires Romano
Juuuuuuuu, minha linda, amei :3
Sem palavras para agradecer todo o apoio. Seu jeito de escrever é único, parabéns!
Ainda temos o mundo pela frente. Que venha o sucesso! haha
Obrigada por ser tão querida!
Beijo enorme e até o lançamento!!
Juliana d'Arêde
Tatá, eu é que agradeço por ter o prazer de divulgar o seu primeiro livro!!! 🙂
Tô muito feliz por você e muito orgulhosa, minha amiga! E isso é só o começo, pode ter certeza!! Amo ter amigos escritores! <3
Já estou louca para conhecer o Verdinelo e virar amiga dele!
Beijos e até o lançamento, com certeza!