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A Garota na Teia de Aranha, de David Lagercrantz | Resenha

‘A Garota na Teia de Aranha’: uma nova era da coleção Millenium comandada por David Lagercrantz

Por Erika Alvarenga

'A Garota na Teia de Aranha, de David Lagercrantz / Divulgação
‘A Garota na Teia de Aranha, de David Lagercrantz / Divulgação

Após a morte de Stieg Larsson, em 2004, acredito que, como eu, milhares de fãs da Trilogia Millenium pensaram que o legado criado pelo brilhante autor sueco havia chegado ao fim. Ainda não foi dessa vez!! Para alegria dos leitores da série, a frase “você foi invadido!”, no sistema da impenetrável agência de segurança americana, a NSA, só pode significar uma coisa: Lisbeth está de volta!!! David Lagercrantz surge para resgatar a excêntrica heroína e dar continuidade à aclamada franquia com A Garota na Teia da Aranha, publicado pela Companhia das Letras.

Confesso que fiquei receosa ao saber que a séria voltaria com um novo autor. Obviamente, não seria nada fácil manter o nível de um dos maiores escritores (se não o maior) suecos de todos os tempos. Quem já leu os primeiros livros sabe que seria essencial que o novo escritor conhecesse muito bem Estocolmo e toda a Suécia. O país e sua capital não só dão ambiente à história, como são componentes fundamentais para a riquíssima descrição dos cenários da trama. No entanto, o jornalista sueco David Lagercrantz consegue manter vivo e de forma brilhante o legado de Stieg Larsson.

A história começa com a crise na revista Millenium, que passa por dificuldades após um período sem grandes furos desde a última empreitada de Lisbeth Salander e do jornalista Mikael Blomkvist. Porém, quando, tarde da noite, Blomkvist recebe um telefonema, e a pessoa do outro lado diz ter informações vitais à segurança dos Estados Unidos, tudo muda!

Lagercrantz, que foi repórter policial da revista Expressen, consegue transmitir distintamente a visão do processo jornalístico, proporcionando ao leitor uma visão global das situações envolvendo a equipe da Millenium, descrevendo ricamente o papel da mídia, a crise na revista, a importância do sigilo em relação às fontes e a relação dos jornalistas com os policiais. Além disso, outros personagens, como Ove Levin e Andrei Zander, aparecem para nos mostrar outros tipos de profissionais da imprensa. O primeiro, apesar de contemporâneo de Blomkvist, rico e com alto cargo na sua empresa, nunca teve grande sucesso como jornalista. Já o segundo, um jovem jornalista sonhador e freelancer da revista Millenium, tem Blomkvist como um ídolo e trabalha arduamente em busca do “furo de sua vida”.

Assim como o incrível gigante Ronald Niedermann, criado por Stieg Larsson, Lagercrantz cria outro personagem intrigante e fundamental para a história: August Balder, o menino autista. A apresentação da condição do menino expõe informações e questionamentos sobre a doença e as habilidades singulares dos savants, que são essenciais no decorrer da trama e fazem com o que o personagem cative ainda mais o leitor.

Os problemas matemáticos e a engenharia dos softwares também não são nada simples. O autor descreve esses enigmas, as invasões de sistemas de segurança, bem como a saga de Lisbeth para atingir seus feitos como hacker, de maneira espantosa. A riqueza de detalhes dimensiona a dificuldade da personagem em cumprir os seus objetivos, deixando o leitor apreensivo ao longo da trama.

Por último, mas não menos importante, nossa querida heroína Lisbeth Salander volta com força total!! As falas agressivas e a postura corajosa e abusada mantêm as características ímpares da hacker que conquistou os fãs da série. Seu relacionamento sempre conturbado com Mikael se soma ao respeito e à preocupação de um pelo outro. E novamente os dois voltam a se unir em uma nova façanha. Porém, dessa vez, Lisbeth se depara com uma inimiga à altura, alguém que a conhece tão bem quanto ela mesma e, ao contrário dos adversários anteriores, não a menospreza. O embate entre as duas traz novos horizontes à narrativa. Lembrando o grande vilão da série, Alexander Zalachenko, sua arquirrival veio para ficar. Ou, pelo menos, tentar.

A Garota na Teia de Aranha tem tudo para ser o início de uma nova era da coleção Millenium. David Lagercrantz consegue, com maestria, manter o ritmo da extraordinária trama de Stieg Larsson.

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