Ana Maria Machado encanta pequenos leitores no Salão FNLIJ
Durante bate papo no Salão FNLIJ do Livro Para Crianças e Jovens, Ana Maria Machado declarou seu amor pela escrita e defendeu, em entrevista ao Vai Lendo, a divulgação da literatura infantil para estimular a formação de novos leitores
A literatura infantil em sua forma mais plena e sincera. A autoridade daquela que marcou gerações e, até hoje, ajuda a formar novos leitores com suas histórias encantadoras, verdadeiras e que representam o melhor da nossa cultura. A presença de Ana Maria Machado na 18ª edição do Salão FNLIJ do Livro Para Crianças e Jovens, no último domingo (12), não poderia ser mais emocionante, tanto para os os pequenos leitores quanto para os adultos que lotaram o espaço para ouvir as sábias palavras de uma autora que transpira a paixão pela escrita e tem plena noção de sua importância dentro da literatura nacional. O Vai Lendo teve o prazer de conversar brevemente com a autora, que destacou a importância da realização do Salão para a divulgação da literatura infantil e infantojuvenil e principalmente para estimular o interesse dos jovens leitores a partir de suas próprias escolhas literárias.
“O papel que o salão desempenha é muto estimulante para a leitura infantil em vários aspectos”, declarou Ana Maria Machado. “Primeiro, porque se não tivesse o evento os jornais não falariam sobre livro infantil. Segundo, porque lembra a todas as escolas que isso acontece, então as escolas também são incentivadas a falar sobre a literatura, a fazer excursão e vir para cá. E, depois, quando a criança chega aqui e os pais também e eles veem a variedade de livros, a quantidade de escolhas, isso é muito estimulante. Ou seja, somando tudo, é um sinal de que a sociedade valoriza o livro infantil e a leitura, e isso é muito positivo”.
A escritora de clássicos como Menina Bonita do Laço de Fita (editora Ática) e Bisa Bia, Bisa Bel (editora Salamandra), contudo, ressaltou a necessidade de os próprios pais procurarem desenvolver nos filhos o gosto pela leitura, introduzindo o universo literário à rotina das crianças e sendo ainda exemplos de leitores.
“Se cada adulto estiver preocupado com isso e ler na frente das crianças, andar com um livro, falar em livro na frente delas, já estará cumprindo um papel importante”, afirmou. “Eu lembro de quando era pequena e via meus pais lendo. Quando eu chegava perto para falar alguma coisa, eles diziam para eu esperar e, aí, acabavam o trechinho para me atender. Eu ficava com vontade de entrar naquele mundo também, porque era uma coisa tão importante que eles davam até mais atenção do que a mim, naquela hora. O adulto que lê, que está com um livro na mão, dá um bom exemplo. Se a criança quer um livro que o adulto não escolheria para ela naquele momento, deixa, porque, depois, ela vai acabar passando para outro”.
Para alguém com mais de 100 livros publicados, Ana Maria Machado transmite o frescor de uma obra nova a cada lembrança, cada história recordada e dividida com o público que, hipnotizado, absorveu todas as palavras proferidas no bate papo recheado de curiosidades e emoções. Quando perguntada, por uma pequena leitora, de onde surgiu a paixão pela escrita, a autora abriu o coração e expôs todo o amor por seu ofício e pela literatura, que surgiu, ela contou, desde cedo também.
“Eu gostava de ouvir e ler histórias, quando era pequena, e, depois, quando fui aprendendo a escrever, eu gostava de escrever também, mas não eram histórias”, contou. “Eu era a mais velha de 11 irmãos. Eles me pediam para eu contar as histórias que nossos avós contavam para gente nas férias, e eu contava como eu lembrava. E eu vi que era uma brincadeira que eu gostava, mas não pensava em ser escritora. Depois que cresci, estudei para ser professora e jornalista. Um dia, me ligaram da editora Abril perguntando se eu não queria escrever para criança para uma revista nova. Aí, eu gostei e vi que os leitores também gostaram. Eu gostei muito e isso começou a virar a paixão de escrever. Eu gostava tanto de histórias que queria fazer as minhas”.
Com personalidade forte e convicta de suas opiniões e ideiais, Ana Maria Machado não se esquivou quando questionada sobre as dificuldades de se escrever em um país em crise. Tanto que, com uma vida de experiências, ela deu a resposta mais sincera, recordando ainda de outros tempos sombrios: “Quando não esteve em crise? Eu comecei a escrever durante a ditadura. Sempre escrevi num país em crise, num mundo em crise. A gente tinha medo da guerra fria e da guerra nuclear. A gente continua escrevendo porque dura mais tempo do que a crise”.
A troca de carinho e de admiração foi mútua entre autora e leitores. O encontro inspirador ficou ainda mais especial, quando Ana Maria Machado se emocionou ao falar sobre a escrita para as crianças e sobre o reconhecimento do seu trabalho, que marcou e ainda marca milhões de crianças, jovens e adultos.
“Escrever para criança é um desafio muito legal, porque me obriga a escrever numa linguagem simples”, explicou. “Mas eu queria que as crianças pudessem crescer junto com os livros. E que elas sempre descobrissem coisas novas com eles. Que, à medida que a criança crescesse, ela descobrisse que o livro poderia ter outras coisas. Esse desafio é que me trouxe a paixão. Poder fazer uma coisa profunda, séria, que ajude a crescer e que seja numa linguagem simples. É uma alegria, uma honra e muito comovedor (marcar várias gerações de leitores). No ano passado ou retrasado, eu estava aqui nesse mesmo salão e veio um casal com uma criança. Eles trouxeram três livros da coleção Mico Maneco (editora Salamandra), de três edições diferentes. Um era dele, outro dela e outro, da criança. Isso é uma alegria, uma emoção, eu tenho uma sensação de gratidão com a vida que me deu isso”.