LER: o Salão Carioca do Livro e da diversidade
Julio Silveira, curador da LER, conversou com o Vai Lendo sobre o conceito do novo evento literário da cidade, suas expectativas e a importância de celebrar o livro
Leitores cariocas, comemorem! O Rio está prestes a receber mais um evento literário, que será incluído no calendário oficial da cidade. E não é um evento qualquer. A LER – Salão Carioca do Livro –, que será realizada dos dias 24 a 27 de novembro deste ano, no Pier Mauá, irá transformar o reformado Boulevard Olímpico em Boulevard Literário, no que já está sendo considerado o maior evento aberto de livro. Com o objetivo de celebrar a literatura em toda a sua diversidade, a LER espera contemplar todos os públicos com inúmeros debates, lançamentos, bate-papos e oficinas com autores, além da presença de editoras, sebos e livrarias.
Para o curador Julio Silveira, fundador da Casa da Palavra, gerente editorial da Agir e Nova Fronteira e diretor da Ímã Editorial, a escolha do local reflete a proposta do evento de misturar os públicos e gerar novas experiências através da troca de ideias entre autores e leitores.
“Estamos no Porto do Rio; esse é o espaço histórico de trocas, onde desembarcaram as ideias dos portugueses, africanos, imigrantes”, explicou Julio ao Vai Lendo. “E é onde o carioca responde com criação: o samba, que nasceu logo ali na Pedra do Sal; na literatura de Machado de Assis, nascido pertinho na Ladeira do Livramento. O Porto, além de ser o lugar onde a cidade importou e exportou ideias, é também o coração da cidade: não é nem Zona Sul, nem Zona Norte, e por isso é tudo. É isso que queremos reproduzir no LER: as trocas de ideias para criar o novo patrimônio cultural carioca. Acreditamos no poder agregador do livro e quisemos reunir pessoas e histórias diferentes, para gerar novas ideias. Temos todo respeito e admiração pelos outros festivais literários, mas na hora de conceber o LER, vimos que nossa diferença seria justamente abraçar as diferenças. Assim, procuramos todas as vozes — jovens, negros, geeks, índios, acadêmicos, blogueiros — para ver como fica a sinfonia”.
Com a presença confirmada de nomes como Ruy Castro, Luis Fernando Verissimo, Vanessa da Mata, Marcelo Rubens Paiva, Alberto Mussa, Paulo Lins, Mary Del Priore, Gregório Duvivier, Raphael Montes e Heloísa Seixas, entre outros, a LER celebra também, nessa primeira edição, as conversas em língua portuguesa. Para isso, contará com o apoio de Mario Lucio Souza, músico e escritor de Cabo Verde, do escritor Sérgio Rodrigues, dos portugueses José Luiz Peixoto e Alexandra Lucas Coelho e da cubana Teresa Cárdenas, que fala sobre memória e opressão em mesa que divide com Aílton Krenak, trazendo a perspectiva dos povos nativos do Brasil. O evento aborda ainda a questão de gênero e sexualidade, revoluções e movimentos sociais e oferece um espaço infantil com contação de histórias, oficinas e trocas de livros.
“Enfatizamos a diversidade”, afirmou Julio. “Na seleção dos autores, nos interessou quem pudesse trazer um novo ponto de vista, muitas vezes até em contraste com o interlocutor nas mesas do Café do Livro. Na área de expositores, a mesma coisa: preferimos trazer editoras independentes, guerreiras, que pudessem trazer bibliodiversidade”.
Por falar em bibliodiversidade, os geeks e nerds ganharam um espaço de destaque na LER, incluindo a Gibizeira – uma grande feira de quadrinhos – e uma programação especial focada em Star Wars, com atividades realizadas pelo Conselho Jedi Rio de Janeiro que incluem debates, painéis e quiz. Além disso, também estão previstos concursos de cosplayers e a entrega do Prêmio Argos de Literatura Fantástica 2016. Outro diferencial da LER está na interatividade do evento, cuja área externa terá grupos literários alternativos e culinária típica da região portuária, bem como espaços voltados para intervenções e para o ambiente digital, incluindo uma biblioteca nesse formato.
“O digital e outras evoluções culturais promoveram um câmbio de poder no mundo do livro”, declarou Julio. “A internet é a maior criadora de novos autores e de leitores, haja vista o movimento dos booktubers, que vêm liderando as listas no Brasil e no mundo. O digital nada mais é que uma forma eficiente e democrática de vencer barreiras geográficas e econômicas. Honestamente, acho que o debate livro físico x digital deixou de fazer sentido por volta de 2011. Não importa se no papel ou na tela: quem gosta de ler, lê onde gosta. Autores podem mais. Leitores podem mais. O livro voltou a ser um instrumento de comunicação — social. Queremos potencializar esse novo papel de leitores e autores, fomentando a comunicação”.
Sobre o papel da LER como fomentadora da leitura, Julio ressaltou a importância de aproximar os livros do público, de tornar esse hábito algo rotineiro e prazeroso.
“Queremos que o leitor veja o livro como uma festa, da qual ele pode participar”, concluiu. “Ele lê, mas também tem voz, mostra sua opinião, conta sua história. Queremos desmistificar o livro, torná-lo íntimo, cotidiano. Acho que a experiência na LER vai incubar muitas boas ideias nos leitores pequenos. E fazer deles autores”.
Maiores informações e a programação completa da LER você encontra no site oficial do evento: http://www.lersalaocarioca.com.br/
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