Coberturas,  Especiais

LER – Salão Carioca do Livro: o universo fantástico de Affonso Solano

Em conversa com os leitores, Affonso Solano, autor da série ‘O Espadachim de Carvão’, falou sobre o processo de escrita no gênero da fantasia, as dificuldades para os novos autores e os planos futuros para a sua obra

O cavanhaque e o bigode devidamente personalizado já mostram que Affonso Solano é alguém de personalidade, quase um personagem que poderia ter saído dos seus próprios livros ou de alguma outra obra de literatura fantástica, gênero em que trabalha. Com uma simpatia ímpar, o autor da série O Espadachim de Carvão (Editora LeYa) e cocriador do site Matando Robôs Gigantes (do grupo Jovem Nerd) falou abertamente com os leitores sobre o seu trabalho, seus objetivos, ideias e inspirações e nos planos futuros para os seus livros, durante a LER – Salão Carioca do Livro.

Affonso Solano/Foto: divulgação
Affonso Solano/Foto: divulgação

Solano, que começou em projeto caseiro e interativo de quadrinhos com amigos e foi correndo atrás até ser procurado pela LeYa para transformar seus textos em livros, apontou que o maior desafio para quem quer se inserir no mercado atualmente é se destacar, devido não apenas à concorrência, mas à variedade de meios para uma pessoa se fazer conhecer. Para o escritor, não há uma fórmula do sucesso, mas, sim, a determinação de não desistir, mesmo com os obstáculos e negativas.

“A dificuldade hoje é se destacar”, declarou ele. “Tem muita gente que consegue, mas quando vai para outra mídia não agrada. Na LeYa temos alguns exemplos disso (Solano, hoje, é coordenador do gênero de fantasia da editora). É bacana, importante, você ter um veículo que te catapulte. Se você não fizer publicidade, as pessoas não vão te conhecer. Aí, as pessoas querem saber como fazer publicidade. Eu também não tinha nada, não era ninguém quando comecei. Na época, não tinha Facebook. Nós buscamos as comunidades de videogames, de quadrinhos no Orkut, buscamos os fóruns. E foi viralizando porque era bom. Você pode fazer a mesma coisa com o seu livro. Em termos de publicação autoral, está muito melhor. Hoje, você não é mais obrigado a publicar por uma editora. Ser publicado por uma editora é positivo em termos de distribuição, mas você não precisa mais se ajoelhar perante o ‘império das editoras’. Você pode lançar o seu livro na Amazon e, se ele tiver boas resenhas e funcionar, talvez, as editoras curtam porque eles já viram que tem um público. Há bem mais caminhos do que quando eu comecei e certamente terão outros. Tem que usar a internet a seu favor. Não tem fórmula do sucesso. Eu fui tentando. Tive projetos que também não dera certo. É tentativa e erro e usar a internet a seu favor para que o mínimo de pessoas possa conhecer o seu trabalho e gerar uma base de fãs. E também reclamar menos e trabalhar mais, talvez”.

Sobre o futuro de sua própria série, Solano garantiu que o terceiro livro está previsto já para o ano que vem e disse também que já foi abordado por empresas de animação que demonstraram interesse na história da franquia. Para o escritor, a ideia sempre foi expandir o universo para fixar a sua própria marca, justamente para facilitar o lançamento de novos títulos.

“Sempre houve interesse em expandir o universo”, afirmou. “Cresci naquela era de George Lucas e Steven Spielberg, onde você tinha o pensamento comercial em cima do entretenimento. Eu acho boboca olhar isso como algo negativo, quando você pode monetizar a sua obra de arte, onde você pode expandir ela e mais gente pode conhecer o seu trabalho. Eu fui estudar essa parte de administração e, quando apresentei o projeto para a LeYa (da série O Espadachim de Carvão), foi nesse intuito. Mostrei que poderia expandir o universo, mesmo que ele funcionasse também como algo único, e a editora comprou essa ideia. Tenho outros projetos que desenvolvi, enquanto escrevia esse universo, porque o objetivo é fixar a franquia. Até porque, é mais legal trazer outras obras quando o seu nome já é mais conhecido, quando as pessoas já têm uma referência. Tenho um projeto de contos de terror com o meu irmão, outro mais voltado para ficção científica… Eu gostaria de ficar nesses três lugares: fantasia, terror e ficção científica. E expandindo o universo, sempre”.

divulgação
divulgação

Sobre as dificuldades de se criar um novo universo e também uma série literária, Solano ressaltou que é importante o autor estudar e se aprofundar não apenas no tema, mas nos detalhes e no processo e trabalhar de uma maneira que possa estimular o leitor durante a leitura. Por isso mesmo, ele explicou também a decisão de mudar o protagonista no segundo livro.

“Como você constrói um pequeno universo em 20 páginas?”, questionou. “Nesses 10 anos, também estudei para saber quais são as bases de uma religião. Uma vez que eu tenha construído esse universo, preciso apresentá-lo de uma forma que não fique chata. E um dos principais desafios do pessoal que escreve esse gênero é não cair naquele erro de presunção, de achar que o universo que criou é algo estrondoso. Então, eu quis que vocês, leitores, descobrissem esse universo junto com o protagonista. Para isso, eu precisava de uma personagem que fosse cativante, mas que permitisse à história a aventura. Para que ela tivesse, de fato, esse caráter de aventura. Dei a ele a inocência também, para ele ser meio ‘bocó’, porque não tem graça acompanhar um personagem perfeito. Ele foi construído junto com umas metáforas para dizer que o personagem está mudando. E foi isso que eu fiz nos livros também. Normalmente, quando o primeiro livro dá certo, eles repetem a fórmula no segundo. Eu queria que, para que a série sobrevivesse, o personagem, o leitor entendesse que o universo é algo muito maior. O protagonista serviu de guia no primeiro livro, ele sempre vai continuar, mas na continuação está em segundo plano. Foi proposital. A ideia era poupar um pouco o personagem para que as pessoas se acostumem e descubram outras pessoas interessantes no universo. Porque chega uma hora que cansa. Então, o segundo livro serve como uma construção para algo que no terceiro vai explodir. E você acaba comprando muito mais o que vai acontecer, porque o segundo livro preparou o terreno”.

Foto: Vai Lendo
Foto: Vai Lendo

Sobre seu público variado, que inclui um número significativo de mulheres, Solano apontou que nunca escreveu pensando em agradar um gênero específico de leitor. Para ele, o mais importante é que os leitores acreditem naquilo que o autor escreveu.

“Eu não pensei de forma estratégica em escrever de determinada maneira porque as mulheres gostam”, concluiu. “Porque o homem não sabe o que a mulher gosta, isso é um fato. Eu fiquei feliz por o livro ter um alcance bem equilibrado entre os gêneros. Você projeta aquilo que aprendeu. Eu fui criado mais pela minha mãe do que pelo meu pai, que precisava viajar muito. E minha avó também é uma grande figura de poder na minha família. Eu tenho grandes figuras femininas e masculinas que trazem esse equilíbrio na minha formação pessoal. Fora a minha formação cultural, minhas referências. Eu sempre enxerguei homens e mulheres como complementos um do outro, e isso acaba indo para os livros, na construção dos personagens. E agrada ambos os gêneros porque eles veem como algo verdadeiro”.

LEIA TAMBÉM:

LER – Salão Carioca do Livro: a crônica digital de Cora Ronai e Anderson França

LER – Salão Carioca do Livro: a independência dos autores

 

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

Um comentário

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *