As Invernas
‘As Invernas’, de Cristina Sánchez-Andrade | Tordesilhas
Sinopse Oficial:
As irmãs Saladina e Dolores são enviadas pelo avô (dom Reinaldo) para fora do país quando ele se vê perseguido pelas forças nacionalistas (do general Franco) no início da Guerra Civil Espanhola (1936). Espécie de sábio da aldeia, pode-se dizer que era comunista. Interessado em ciência, comprou o cérebro de todos os habitantes da aldeia para estudá-los depois da morte deles. Para isso fez um contrato e pagou todo mundo. Como era tido por bolchevique, estava no radar das autoridades. Com a escassez de alimentos provocada pelo conflito, dom Reinaldo resolveu organizar a partilha dos víveres (tirando principalmente do padre e dando aos outros) e o plantio da terra. O padre, que era um glutão, começou a ficar nervoso com aquilo.
Com o avanço da guerra, a aldeia era cada vez mais controlada pelas tropas nacionalistas. Dom Reinaldo se esconde.
Enquanto isso, as irmãs, achando que iam para Cuba, acabaram na Inglaterra. Lá fizeram a sua vida. Voltaram anos depois para a Espanha e foram morar na cidade de La Coruña. Mais tarde Dolores se casa com Tomás, um pescador de polvos e fanecas da cidade de Santa Eugenia de Ribeira.
Dolores era linda. Saladina era feia e desdentada. A relação entre as duas é aquela típica das irmãs: amor, inveja, raiva, mais amor. Saladina nunca teve um namorado. As duas adoravam o cinema e sonhavam em ser atrizes, embora fossem costureiras.
Mas Dolores se casou com um bronco. Um dia, cansada daquela vida, fez as malas e disse que ia visitar a irmã. O marido disse que se ela não voltasse em um mês iria buscá-la. Junto com Saladina, Dolores acaba matando o marido. As duas decidem então voltar à aldeia natal carregando o defunto e o enterram no estábulo da velha casa da família. Junto com elas veio também a vaca Greta.
A chegada das duas à cidade traz de volta lembranças que todos ali queriam esquecer.
A escritora tem um tom pessoal inconfundível: a obra apresenta a mescla entre a tradição oral galega – as histórias contadas ao pé do fogo – e a fluida construção dos diferentes círculos narrativos. Estes vão se misturando docemente e envolvendo o leitor até que ele se torne próximo das figuras criadas. É também da difícil simbiose do poético e do narrativo que resulta o tom final da obra, sempre o mais difícil de enquadrar em uma fria definição, e por sua vez o mais definidor de um escritor de raça – e Cristina Sánchez-Andrade o é.
Trata-se de uma história que engloba o cômico e o dramático, o estranho e o cotidiano, o terno e o perverso. Nesses paradoxos se descobre a indiscutível riqueza do romance que se singulariza na combinação prodigiosa e equilibrada de níveis tão variados. Nesse sentido, a escritora segue as pegadas desses narradores cuja obra nunca acabamos de decifrar, porque, ao revelar um sentido, abrem outros, e sobretudo abrem a vida, sempre vertiginosa e desproporcionada.