Resenhas

Sociedade da Rosa, de Marie Lu | Resenha

‘Sociedade da Rosa’: uma continuação alucinante e sombria

 O desejo por vingança cega. Mesmo os mais poderosos podem sucumbir às sombras de seus desejos mais obscuros, mais profundos, em detrimento da razão. Traição, desilusão, revolta, um coração partido. Qual é o limite do coração humano? Em Sociedade da Rosa, segundo volume da série Jovens de Elite, de Marie Lu, publicado pelo selo Rocco Jovens Leitores, da editora Rocco testemunhamos esse embate moral, psicológico e que chega às vias físicas.
Na continuação de Jovens de Elite, a jovem Adelina Amouteru está com sede de vingança. Traída por aqueles em quem confiava, ela decide criar o seu próprio grupo de malfettos — sobreviventes da febre do sangue que, como ela, possuem dons fantásticos — e, junto com sua irmã, Violetta, parte em busca de seu próprio exército para combater a Inquisição. O problema é que, cada vez mais, Adelina é consumida pelo ódio e pelo medo, sem conseguir controlar direito os seus próprios poderes.

Em nota, no fim de Sociedade da Rosa, Marie Lu afirma que este é o livro mais sombrio que já escreveu. E, de fato, ela tem razão. Isso fica bastante nítido ao longo da leitura. Como já comentei na resenha de Jovens de Elite, a saga da escritora se difere por trazer personagens extremamente ambíguos. Uma anti-heroína construída e desconstruída com o desenrolar de sua história. Aqui não existe o lado bom e o lado mau. Mas, sim, seres humanos vulneráveis, impetuosos e intensos. Existe uma realidade nem tão fictícia na qual uma minoria é desprezada por seus governantes incapazes de aceitarem o diferente. Existe um povo carente, desesperançoso, abandonado. Existe uma revolta generalizada capaz de ditar as (novas) regras de uma sociedade.

 

O interessante de Sociedade da Rosa é justamente o fato de Adelina não buscar a redenção. Pelo contrário. Ela quer se vingar. Para ela, não adianta buscar o perdão ou perdoar. Vale correr atrás de seus desejos não tão inconscientes assim e garantir a sobrevivência. Buscar aquilo que, para ela, lhe é de direito. Fica claro o amadurecimento da personagem no segundo livro, muito devido ao que ela já passou, mas também são perceptíveis o seu medo e insegurança, que podem ser o seu ponto fraco, pois a fazem perder o controle de si mesma. Adelina está mais amarga, com menos compaixão. No entanto, está mais precisa, mais objetiva. Acaba que nós, leitores, também nos dividimos entre respeitá-la e admirá-la e temê-la e julgá-la. Acho que nunca me deparei com uma protagonista tão interessante e não tão previsível.

Ao mesmo tempo, Marie Lu acrescenta novos personagens que dão um equilíbrio não apenas à Adelina, mas à trama. Violetta, por sua vez, ganhou mais destaque, claramente para gerar um conflito com a sua própria irmã e tentar colocar os seus pés mais no chão. Razão x emoção. Cabe à Violetta tentar controlar Adelina em seus momentos profundos de ilusão e perda da realidade. A dinâmica e os questionamentos entre as duas são muito interessantes e, mais uma vez, nos dividem. Por outro lado, Magiano e Sergio são novas e excelentes aquisições à série e podem oferecer à Adelina a segurança da qual ela também necessita. Especialmente Magiano, capaz de despertar a jovem de seus piores pesadelos e de afastar os seus fantasmas. Que personagem fascinante e carismático!

Quanto aos Punhais, suas tramas não foram tão bem desenvolvidas neste livro quanto a dos novos companheiros de Adelina, mas a participação de Maeve e de seus irmãos não passou despercebida. Muito pelo contrário. Por causa dela, temos uma das principais reviravoltas desta história e mal posso esperar para ver o desfecho de tudo isso e quais serão os lados escolhidos. A única certeza é que, neste caso, ninguém será verdadeiramente um vencedor.

Sociedade da Rosa é um ótimo momento de transição e nos presenteia com um gancho de tirar o fôlego. Uma continuação que mantém a essência de seu original e nos surpreende. Marie Lu nos cativa, mais uma vez, com sua escrita forte e intensa. Impossível de largar!

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *