Howl’s Moving Castle, de Diana Wynne Jones | Resenha
‘Howl’s Moving Castle’: quando o autor sabe fazer um mundo mágico é outra história.
Provavelmente, vocês já passaram pela desesperadora situação de querer muito ler um livro, mas não encontrá-lo em lugar nenhum. É horrível.
Foi exatamente isso que me aconteceu com o livro O Castelo Animado, de Diana Wynne Jones. Não consegui encontrar, no fim das contas. E, bom, situações desesperadoras pedem medidas desesperadas.
Então, eu li o original mesmo, em inglês, cujo título é Howl’s Moving Castle, publicado pela Greenwillow Books. A tradução para o Brasil foi publicada pela Galera Record, mas está esgotada — não consegui encontrar nem em sebos, sob chantagem e ameaças — e a editora, infelizmente, não tem pretensão de fazer uma nova edição.
Bem que poderia. Eu seria a primeira da fila a comprar.
Diana Wynne Jones — Londres, 16 de agosto de 1934 – Bristol, 26 de março de 2011 — é conhecida no Brasil por sua série de livros Os Mundos de Cristomanci, foi uma escritora britânica, que escreveu fantasias — infantis ou adultas — e alguns livros de não-ficção. A história do livro Howl’s Moving Castle foi adaptada em um filme de animação, pelo Studio Ghibli — muito legal, eu recomendo muito, é tão legal quanto o livro, embora a história seja um pouco diferente.
O livro Howl’s Moving Castle nos conta a história de Sophie Hatter, a mais velha de três irmãs, o que pressupõe o seu fracasso — é um tipo de tabu das irmãs mais velhas, como uma maldição do sétimo filho de um sétimo filho, ou seja, não faz sentido nenhum, mas isso não importa, porque a trama se passa em um mundo onde tudo pode acontecer.
Como toda boa irmã mais velha fadada ao fracasso, Sophie se vê presa à sua sina de continuar com os negócios da família — fazer chapéus, afinal, o sobrenome dela é Hatter (chapeleiro). E tudo indicava que as coisas seriam tristes assim para a pobre Sophie, se ela não acabasse, por motivos que eu não vou dizer aqui — porque tenho que manter um mistério, né —, chamar a atenção da Witch of the Waste — traduzido, se não me engano, como Bruxa das Terras Desoladas.
E ninguém queria chamar a atenção da Bruxa. Temos assim nossa adorável vilã — má à beça. Ela coloca Sophie sob um feitiço — que também não vou falar qual é, porque eu também sou muito má, mas é um feitiço bem cruel.
Mas como todos os males vêm para o bem, o feitiço da Bruxa se torna crucial para que Sophie encontre Howl, o mago mais mimado, paquerador, magicamente sinistro e fofo das redondezas.
E aí, a história fica bem divertida.
Bom, como li a versão em inglês, posso dizer com toda a propriedade que a escrita de Jones é incrivelmente fluida, um pouco cômica e gostosa. Isso, em conjunto com o universo mágico e os personagens cativantes que ela criou, tornou a leitura uma delícia.
Já havia algum tempo que eu não sentia essa ansiedade de retomar a leitura sempre que tinha que interrompê-la — e olha que eu não sou muito chegada a ler livros em inglês, porque eu acho a língua portuguesa lindamente literária, mas a Diana me cativou de um jeito que poucos conseguiram.
Os personagens, como eu já disse, são apaixonantes. A Sophie é uma criatura neurótica, mandona, que não consegue ficar parada, mas muito bondosa e atenciosa. O Howl é um mago capaz de tudo e qualquer — com direito até a uma reputação falsa, que o pinta como um maléfico devorador de corações —, mas que é comicamente mimado, vaidoso e cafajeste. Na verdade, percebemos que o Howl é um grande e contraditório mistério e, apesar de todos os seus defeitos, é impossível não se apaixonar por ele. Temos o Michael, coitado, que fica no meio das picuinhas entre o Howl e a Sophie. E, por fim, o Cálcifer, um demônio do fogo ligado ao Howl, que consegue ser fofamente rabugento. Enfim, todos os personagens são maravilhosos.
O livro tem, em abundância, o maior e mais importante elemento necessário a toda fantasia: magia. E a magia, nessa história, é a grande estrela da festa, na verdade.
Eu gostei do título, tanto em português, quanto em inglês. Acho que ambos são misteriosos antes do leitor ler e fazem sentido depois que o livro é lido — acho que é justamente isso o que se espera de um título. Mas fiquei sabendo que há algumas diferenças de linguagem entre a versão traduzida e a original — pelo que fiquei sabendo, podem ter tentado “infantilizar” a história na tradução. Mas eu não posso afirmar, porque eu não li a versão traduzida, só estou comentando.
Eu fiquei conhecendo a história a partir do filme, que tem as suas diferenças do livro, mas é igualmente maravilhoso. Como assisti ao filme antes de ler o livro, certamente fui influenciada.
De qualquer forma, recomendo fervorosamente os dois.
Quanto ao trabalho da editora, receio que vá ser um pouco diferente do que estamos acostumados, já que é um selo estrangeiro. Portanto, os parâmetros são um pouco diferentes. Acho que, aqui no Brasil, o livro, julgando pelo material, seria classificado como “livro de banca”, ou seja, é uma produção básica. A arte da capa é simples, mas bonita — achei até mais bonita do que a arte feita pela versão brasileira —, mas não possui a orelhas de capa — que nós, brasileiros, tanto amamos. As páginas são finas e acinzentadas, bem simples, mas eu achei a diagramação bem mais agradável à leitura — as letras são maiores e o espaçamento entre as linhas é mais confortável aos olhos. É o tipo de publicação que parece prezar apenas o conteúdo e o ato de ler, não a forma. E isso não é ruim. Eu gostei — queria muito que tivesse as orelhas de capa, mas tudo bem.
De qualquer modo, Howl’s Moving Castle já entrou para a minha lista de histórias que eu vou guardar e me lembrar com muito carinho. Acho que eu aproveitei e aprendi muito com a história.
Recomendo, muito mesmo, a leitura.