Quinze Dias, de Vitor Martins | Resenha
“Quinze Dias”: vale a pena superar os nossos obstáculos
Imagina se aquela paixão platônica viesse passar parte das férias bem perto de você, mais precisamente na sua casa, e, pior, se você tivesse que dividir com ela toda a sua intimidade, sem ao menos conhecê-la direito. Para complicar, se não bastassem todas as inseguranças, fica aquela (in)certeza de nunca ter o amor correspondido. Como fazer? É isso o que a gente descobre na leitura de Quinze Dias, livro de estreia de Vitor Martins, publicado pelo selo Globo Alt, da Globo Livros.
Na obra, Felipe é um adolescente que, logo no comecinho das férias, é surpreendido com a notícia de que a mãe concordou em hospedar o vizinho do 57, por 15 dias, durante uma viagem romântica dos pais do garoto. Pronto, toda a paz e a tranquilidade esperadas nas planejadas maratonas de séries e leituras vai por água abaixo e ele se vê obrigado a lidar com diversos conflitos de aceitação, principalmente porque o vizinho, Caio, é uma paixão de infância que ainda mexe com o coração do protagonista.
Quinze Dias é um Young Adult envolvente, divertido e apaixonante. Os personagens têm grande sensibilidade e a trama é conduzida de modo irreverente, repleta de referências da cultura POP, ao mesmo tempo que consegue ser densa na abordagem dos conflitos. É tudo muito natural e crível. Difícil não torcer para que Felipe resolva todos os seus problemas de falta de autoconfiança e viva todos os seus anseios e amores.
Por mais que o livro tenha temática LGBT, a questão que mais se destaca na obra é o debate em torno da gordofobia. As cenas da piscina e o modo como Felipe se sente desconfortável ao acordar e ver que sua barriga está amostra são de uma delicadeza e profundidade, que fazem refletir. O preconceito sobre os gordos é algo dos mais cruéis, principalmente porque não é levado a sério. A sociedade trata como bobagem, brincadeira e piada, no entanto, é algo (bem) preocupante. Não apenas pela padronização pejorativa, mas por envolver o sentimento (e o psicológico) de milhares de pessoas.
Felizmente, o tema está começando a ganhar cada vez mais espaço nas discussões e na literatura. Ainda é pouco, eu sei, mas, pelo menos, já temos mais conteúdos de qualidade sobre isso, como é o caso de Quinze Dias, e chegando para o público em geral, principalmente para os jovens, que são os mais afetados por estas inseguranças e necessitam muito da aceitação dos outros.
Mesmo abordando a gordofobia, Quinze Dias não cai naquele didatismo moral. É tudo natural e verdadeiro. Vitor Martins nem parece que está na sua primeira publicação. A sua escrita é muito ágil e afiada, e a narrativa é bem estruturada e desenvolvida. Uma leitura agradável, difícil de ser interrompida.
Geralmente, não costumo avaliar a parte gráfica do livro, mas, como foi o próprio Vitor que ilustrou, preciso mencionar. Que trabalho fantástico! Como não poderia ser diferente, o desenho da capa e as cores utilizadas conseguem transmitir toda a sutileza de Quinze Dias, no seu momento mais singelo. Enfim, um ótimo trabalho tanto no conteúdo quanto na parte estética.
Para aqueles que buscam dar umas boas risadas, suspirar com uma história de amor e se emocionar com relatos de superação de obstáculos internos, Quinze Dias é uma boa pedida! Uma leitura rápida, profunda e apaixonante, que mostra que todos nós temos os nossos próprios dilemas. Falando nisso, os conflitos de Caio, após a temporada na casa de Felipe, dariam um bom livro. Fica a dica!
2 Comentários
Francislaine
Super concordo com sua resenha, ganhei o livro na quarta passada e já devorei, muito gostosa e fluida a história, além de fofa e delicada. Única coisa que tenho para reclamar é que quero mais de Felipe e Caio, mais história, hehehe, e esse marcador lindo também, rsrsrsr. 🙂
Daniel Lanhas
Oi, Francislaine. Na semana passada encontramos o autor na Bienal do Rio 2017. Ele já está trabalhando num segundo livro, mas, infelizmente, não vai ser sobre Felipe e Caio. Porém, quem sabe no futuro. Vamos torcer!