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Carbono Alterado, de Richard K. Morgan | Resenha

Carbono Alterado, prepare-se para uma viagem ao futuro.

Receber o livro Carbono Alterado, volume 1 da trilogia Altered Carbon, de Richard K. Morgan, publicado pelo selo Bertrand Brasil, do Grupo Editorial Record, foi uma completa surpresa, porque eu não tinha visto qualquer divulgação do livro cuja série, pelo vi, será lançada na Netflix em breve. E como eu adoro ficção científica, foi uma surpresa realmente maravilhosa.

E o fato de eu ter adorado o livro é só mais um ponto positivo de toda a situação.

Richard K. Morgan é uma pessoinha inglesa, que pelo visto, gosta de escrever livros de fantasia e ficção científica vida longa a Morgan! Até onde eu sei, ele estudou História e lecionou Inglês até publicar o seu primeiro livro justamente o Carbono Alterado, sobre o qual eu aqui vos falo. Depois disso, ele se tornou escritor em tempo integral.

Muito bom mesmo saber.

A história de Carbono Alterado se passa no século XXV, ou seja, loucura total! Nesse livro, nosso querido Morgan, usando a voz do seu protagonista, Takeshi Kovacs — eu adorei a sonoridade do nome —, narra uma investigação à qual o Kovacs, depois de ficar alguns anos em armazenamento — que nada mais é do que ter o seu cartucho, sobre o qual eu vou falar daqui a pouco, congelado, ou seja, é um tipo de apagamento temporário —, meio que é obrigado a assumir. A tarefa dele é descobrir quem assassinou o Matusa — nome dado àqueles que, devido à troca de corpo com o tempo, se tornaram absurdamente velhos — multimilionário, excêntrico, casado com uma mulher nojenta e cheio de manias Laurens Bancroft. Simples, né?

Só que não.

Imagino que depois dessa sinopse super explicativa feita pela minha pessoa, você deva estar se perguntando: QUÊ?

Calma, eu explico.

E a minha explicação começa da seguinte forma: esse livro é muito louco! E eu adorei!

As pessoas deixaram de ser pessoas e se tornaram pendrives, capazes de salvarem sua memória e reutilizarem-na quando quiserem. Ou seja, eles são quase imortais — se tiver um vírus na parada, aí danou-se. A morte se tornou algo quase obsoleto — em determinados momentos, o personagem chega a fazer troça da morte, comparando-a a uma convidada que pode ser facilmente deixada de lado. E se a sua capa — como o corpo humano é chamado — der defeito, é fácil. É só escolher outra que esteja disponível — ou não, porque se o corpo virou um bem tão comum, ele pode ser roubado ou contrabandeado —, então você passa o seu cartucho para essa nova capa e voilá, mais uma geração que você vai ver com um corpinho novo.

Você pode até mandar fazer uma cópia do seu cartucho, ou seja, vai ter dois de você ao mesmo tempo. Confesso que eu achei isso bem interessante — adoraria conversar comigo mesma dessa forma, embora tenha quase certeza de que a conversa terminaria no meu sangue sendo derramado… bom, por mim.

Francamente, não sei o que aconteceria com o meu psicológico se eu soubesse que tudo o que eu sou cabe em um pendrive — bom, talvez eu esteja me dando muito crédito. Enfim, na verdade, acho que o grande barato de Carbono Alterado — além da ótima história, dos jogos sujos e dos mistérios — está justamente em nos mostrar como somos pequenos — cabemos em um pendrive, meu Deus! — e imensos — somos mesmo capazes de pensar em tudo isso — ao mesmo tempo, e nos seguintes questionamentos:

É isso?

É tudo isso?

E em meio a toda essa loucura, o autor ainda arrumou um jeito de criar um protagonista cômico — não sei se o meu humor é que é negro demais, mas dei umas risadas com o Kovacs.

Voltando à história em si, depois de ter o seu cartucho armazenado durante algum tempo, Kovacs, que é um integrante de um grupo conhecido como Emissários — vou apenas dizer que são um bando de soldados, com um treinamento bizarro, ideias homicidas meio doidas e muito inteligentes — é trazido de volta e obrigado a descobrir quem matou Laurens Bancroft.

Infelizmente para o Kovacs, tem muita sujeira nessa história e ele vai ter que desencavar e lidar com isso tudo — usando muita artilharia pesada e métodos futurísticos.

É sério, eu vou passar a olhar para softwares, vírus e pendrives — afinal, quem garante que não poderia ser eu ali dentro? — de maneira bem diferente de agora em diante.

A escrita do autor — em primeira pessoa — se assemelha a uma conversa. Enquanto lia, tive a impressão de estar conversando o tempo com o Kovacs. Mas isso não quer dizer que a história seja fácil de entender. O leitor tem que tentar acompanhar a criatividade do autor, porque ele não desperdiça linhas explicando muita coisa. Muitas vezes, ele só joga o nome de algum dispositivo ou algo do gênero e deixa a cargo do leitor imaginar o que é. Sinceramente, acho que nem todos podem gostar disso, sob a alegação de ter ficado confuso. Mas admito que gostei dessa independência de poder pensar no que eu quiser.

O título do livro foi algo que me deixou curiosa desde antes de começar a leitura. Eu me perguntei: por que esse título? Bom, agora que terminei, reconheço que faz todo o sentido. E até este exato momento, eu estava debatendo comigo mesma se explicava para vocês ou não. E decidi que não. Leiam o livro e vão entender também.

Esse foi um dos poucos casos em que eu não gostei dos vilões e me apeguei realmente ao “mocinho” — o Kovacs tem as suas recaídas sanguinolentas, mas no fundo é um cara legal, que tenta fazer a coisa certa, embora de um jeito meio duvidoso. Mas eu quero atentar para o final da história. Eu sou o tipo de leitora que não gosta de finais inteiramente felizes — pois é, sou louca —, e eu achei o final de Carbono Alterado bem feliz — contrariando todas as minhas expectativas, todo mundo que merece terminar bem, de fato, termina bem. Normalmente, isso me desagradaria, mas dessa vez eu admito que gostei, por causa da forma como o autor o colocou e o que ele mostrou com isso.

Se você quiser saber o que e como ele fez o final da história, vá ler o livro.

Quanto ao trabalho da editora, não está propriamente ruim, mas com toda a certeza poderia — e deveria — ser muito melhor. A capa está fraca e a diagramação poderia ser muito mais ousada. Já aplaudo a editora por ter trazido essa história sensacional para nós, mas se tivesse caprichado mais no material, os aplausos seriam de pé.

De qualquer modo, Carbono Alterado conseguiu me fazer parar e pensar e, mais do que isso, eu tive que me esforçar um pouco para acompanhar a história — ou seja, não é só uma historinha que você lê em três dias, porque é fácil demais. É uma ficção científica muito, muito boa e com um toque de romance policial que a deixou ainda mais interessante. Acho que os leitores de sci-fi vão gostar.

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