Jenny Han exala fofura e fala sobre representatividade na Bienal do Livro Rio 2017
Em bate papo com os leitores, autora da série ‘Para Todos os Garotos Que Já Amei’ debate a questão da diversidade na literatura e no cinema
Fofura. Não tem palavra melhor para representar Jenny Han, autora da série Para Todos os Garotos Que Já Amei, publicada aqui no Brasil pela editora Intrínseca, que arrancou suspiros, risadas e muitas expressões de encantamento da plateia que lotou o Auditório Madureira, neste sábado (2), na Bienal do Livro Rio 2017.
Com três personagens coreano-americanas, incluindo a doce protagonista, Lara Jean, Jenny Han caiu no gosto e arrebatou o coração do público brasileiro. Muito disso se deve principalmente ao cuidado da escritora, que fez questão de ter a representatividade como característica principal de sua obra.
“Eu diria que, para mim, foi muito pessoal escrever essa série, porque eu sou coreano-americana”, declarou Jenny no Encontro com Autores. “Nasci na América, mas meus pais são da Coreia, e, com esses livros, eu só queria poder mostrar que há vários tipos de maneiras de se olhar para as diversas meninas americanas. Eu queria que, quando uma garota entrasse na livraria, ela se visse. O que é raro nos EUA, principalmente se você é asiática. Então, esse era o meu desejo”.
Ainda sobre a questão da representatividade – sua marca registrada -, Jenny, antenada e politizada, não se esquivou ao ser perguntada sobre a situação atual dos Estados Unidos, após as eleições, e se suas próximas obras seguiriam debatendo a diversidade.
“Para mim, essa questão da diversidade, representatividade, sempre será importante”, afirmou. “Meus pais são imigrantes e eu penso nisso o tempo todo. Para a maioria dos americanos, depois das eleições, ficou claro que precisamos começar a pensar na nossa vida, como mudar e como queremos ser americanos no mundo. O que isso significa. Para mim, como artista, só reafirma o meu comprometimento de apresentar um mundo com diversidade, que é o mundo em que vivemos. Eu sempre quero escrever histórias verdadeiras para tocar os meus leitores e ser verdadeira com eles.
Justamente por essa preocupação de escrever histórias genuinamente humanas e, como ela mesma disse, verdadeiras, os livros de Jenny Han não trazem aquelas tramas mirabolantes e heroicas, pelo menos não da maneira das grandes fantasias ou aventuras. Mas, por outro lado, o fato de sua narrativa ser extremamente pessoal, delicada e sensível, a autora consegue criar uma conexão bastante profunda com seus leitores. E esse, ela afirmou, é o grande desafio.
“Um dos desafios de escrever uma história real contemporânea é que as expectativas são baixas em relação aos demais gêneros, porque você não está ali salvando o mundo”, explicou. “Mas, como escritora, você tem que criar esses níveis, mesmo que você não vá roubar pão para a sua família, por exemplo, como a Katniss, você têm outras coisas igualmente impactantes para a protagonista. Você tem que fazer com que as pessoas sintam que essas outras atitudes são tão importante quanto. O livro é sobre lidar com as mudanças familiares e da vida adulta. Essa experiência todos passam em algum ponto da vida e são muito importantes. Eu também passei por isso”.
Praticamente uma unanimidade entre os leitores, a protagonista Lara Jean foi quase aclamada durante o bate papo. Poucas não foram as vezes em o público disse se identificar e conectar com a personagem. E, se Lara Jean conquistou o seu lugar nos corações dos leitores, não é de se admirar que sua criadora também. Afinal, ambas têm muitas coisas informou, garantiu Jenny. Assim como os demais personagens da história que, de acordo com ela, são inspirados em pessoas reais e situações do cotidiano.
“Tem muito de mim na Lara Jean”, garantiu. “Eu acho que ela deve ser o personagem mais parecido comigo, apesar de eu ter um pouco de cada um. Eles parecem ser muito reais para mim porque eu sou real. A Stormy, por exemplo, é uma das minhas personagens preferidas. Ela não foi inspirada especificamente em uma pessoa. Eu sempre tive uma afinidade com os idosos e eu gosto de saber suas histórias. Eles têm histórias incríveis. E eles irão dizer a verdade para você, eles são muito verdadeiros”.
Fã declarada de K-Drama (como são chamadas as novelas coreanas), Jenny disse tirar bastante inspiração de certos aspectos dessas produções, como a leveza, a pegada mais pop e, claro, o romance. E, para aqueles que anseiam por um quarto livro da série, a autora garantiu que infelizmente isso não irá acontecer e que a história de Lara Jean foi concluída no terceiro livro, que nem estava em seus planos iniciais. Mas ela se mostrou bastante ansiosa e satisfeita com a adaptação cinematográfica da obra, e exaltou a importância de um filme cuja protagonista – e outras personagens – são de descendência asiática.
“Recentemente, terminaram as gravações do filme, e ele está muito fofo. Eu visitei o set algumas vezes e foi uma experiência incrível ver meus personagens na tela e na vida real, ver a casa. Faz 25 anos, para mim, que eu vi um filme com uma protagonista asiático, nos Estados Unidos. Eu queria que esse filme fosse feito porque eu não quero que as garotas de hoje esperem tanto tempo. É importante ver todo o tipo de gente no cinema. Qualquer um pode ser protagonista, herói. Eu fiquei muito emocionada. Um dos desafios de fazer o filme foi justamente porque é muito raro ver uma garota asiática com estrela de cinema. É difícil encontrar uma. Se alguém nunca tem uma oportunidade, nunca terá experiência e como você poderá ganhar um papel sem isso? Quando você lida com um filme como o meu, com três asiáticas, é um grande pulo. Antes, as pessoas queriam fazê-lo sem atrizes asiáticas. Foi um grande esforço meu para que isso acontecesse com atrizes asiáticas. A coisa mais importante é que os jovens não precisem esperar tanto tempo pra ver alguém como eles no cinema”.
Consciente da referência que se tornou para os seus leitores, Jenny – com muita propriedade – ainda deixou um conselho para aqueles que desejam seguir na carreira: serem sempre verdadeiros.
“Eu encontro inspiração nas coisas diárias”, ressaltou. “Comece a observar coisas e anotá-las. E encontre a sua voz. Não existe uma história que será completamente única, mas terá o seu ponto de vista. Você é a única pessoa que pode contar essa história. Porque é a sua experiência. Encontre a sua voz e o que faz o mundo diferente para você”.
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