O que é Steampunk? | Glossário do Vai Lendo

* Por Carol Defanti

Como nós, leitores devoradores de livros, bem sabemos, a literatura não é a coisa mais simples do mundo e ela se desmembra em várias vertentes, conhecidas mais comumente como gêneros e subgêneros literários. Se você não sabia disso, agora está sabendo e podemos enlouquecer e ficar confusos juntos.

Eu — EU, opinião pessoal! — vejo os gêneros literários como os pais dos subgêneros, que estão diretamente ligados a cada um deles. Dentre esses gêneros e subgêneros — que não vou entrar em detalhes sobre todos, porque se eu fizer isso, esse texto vai ficar com tamanho dos livros do Ken Follett —, existe um muito peculiar que começou a ganhar fama no final dos anos 80.

Esse subgênero é o steampunk, que normalmente está englobado na Literatura Fantástica — ou seja, fantasia, ficção científica e terror, que nós adoramos, não é mesmo?

Mas o que é exatamente o steampunk? Quais são suas características? Onde vive? O que come? Fique sabendo hoje, no Vai Lendo Repórter…

Brincadeirinha!

Brincadeiras à parte, o steampunk é um subgênero literário, que eu diria que hoje em dia ainda não pode ser chamado de popular. Isso porque eu não acho que muita gente conheça e menos ainda entende o que é o steampunk de fato.

E, cá entre nós, foi exatamente nesta parte do texto que eu entrei em pânico, porque descobri que explicar o steampunk é muito mais complicado do que imaginei.

Se eu quisesse te dar uma explicação mais “professoral”, diria o seguinte:

O steampunk define obras que, em sua maioria, ocorrem no passado — mas isso não é necessariamente uma regra, já que é um universo “imaginado”. Mas a evolução tecnológica ocorre, digamos, um pouco mais cedo do que na História Mundial — pelo menos, na maioria das vezes —, mas usando o conhecimento científico da época. Ou seja, vemos carros a vapor, dirigíveis no lugar dos grandes aviões de hoje em dia, computadores de madeira, relógios de bolso, cartolas, óculos bem excêntricos e algumas outras coisas pouco comuns — para não falar esquisito.

Mas, pessoalmente, eu acho um esquisito muito bonito.

Podemos dizer, grosseiramente falando, que o steampunk é uma mistura entre romances de época — principalmente no que concerne a vestimenta — e cyberpunk — voltado mais para a funcionalidade das coisas. Olha que coisa louca!

Se formos fazer uma comparação entre esses dois subgêneros que citei acima, eu diria que o steampunk é um romance de época mais tecnológico, mas seguindo a maior parte do conhecimento que se tinha na época; ou um cyberpunk, cujo objetivo, em vez de ser viagens intergalácticas e alienígenas, é mais o uso de tecnologias mais robustas, como máquinas a vapor, utensílios movidos à corda e coisas com engrenagens — engrenagens são talvez o elemento mais usado e marcante no steampunk. Mas não é raro que a tecnologia steampunk, por vezes, pareça mais avançada do que a de hoje em dia.

Bom… Visto que isso ficou confuso à beça e essa explicação não ajudou muito nem a mim, que já conheço o negócio, imagino que também não tenha ajudado quem não conhece. Então, para tentar ilustrar melhor o que é o steampunk, eu comecei a pensar — e escrever e reescrever esse texto várias e várias vezes — e me perguntar: como foi que aprendi a reconhecer o steampunk?

A resposta veio na hora: foi lendo.

Por isso, fiz um apanhado de algumas obras cujas histórias se ambientam em um universo steampunk para que você leia e se apaixone por esse subgênero, como eu.

Venha para o lado steampunk da força — isso foi horrível, mas eu vou deixar, porque sim.

Vou começar citando um dos clássicos considerado uma das maiores referências do steampunk: A Máquina Diferencial, de Bruce Sterling e William Gibson.

Entretanto, admito que A Máquina Diferencial não me parece ser o ideal para se começar a conhecer o steampunk porque a história é meio complexa — eu achei, pelo menos —, mas o steampunk deifinitivamente rege o mundo onde se passa a trama.

Mas há livros mais recente, menores e “menos densos” cuja trama também se ambiente em um universo steampunk, como é o caso de O Peculiar, de Stefan Bachmann. O Peculiar tem uma trama mais “juvenil”, misturando engrenagens, mistério, aventura e fantasia. Dando minha opinião unicamente pessoal, chego a vê-lo como infanto-juvenil — e tem também a continuação, que se chama Não-Sei-Quê… sem brincadeira, o título é esse mesmo.

Com uma linguagem um pouco mais complexa e até um tanto poética, eu recomendo fortemente O Circo Mecânico Tresaulti, de Genevieve Valentine. O universo criado por Genevieve é indubitavelmente steampunk, mas me sinto na obrigação de dizer que a forma como ela escreve o livro é um pouco diferente — no que concerne a linguagem mesmo. Eu, pessoalmente, amei o livro e adoraria lê-lo de novo.

Há também Le Chevalier e a Exposição Universal, de A.Z. Cordenonsi, que é um nacional com uma trama cheia de ação. É uma obra com muitos elementos steampunk — é bem curtinho e rápido.

O livro que vou citar agora tem um lugarzinho especial no meu coração, porque foi uma das primeiras obras steampunk que eu li — e está na minha lista de livros a reler antes de morrer. Mas acho que vai ser bem difícil encontrá-lo para comprar, pelo menos em português. Trata-se do Alquimia da Pedra, de Ekaterina Sedia — na verdade, eu tenho outro livro dessa autora que eu ainda não li, mas desconfio de que também é um steampunk —, que é uma mistura de fantasia com steampunk; tem uma história delicada, com questionamentos e problemas delicados também. Eu li há muito tempo, mas ainda hoje, quando me lembro da história, eu sinto muita saudade dela e vontade de lê-la de novo. Na verdade, foi uma das grandes inspirações para eu escrever um dos meus próprios livros.

Naturalmente, eu não posso fazer um texto indicando obras steampunk se eu não citar Júlio Verne, o criador do Náutilus e do famigerado pirata Nemo — não tem nada a ver com o Nemo de Procurando Nemo, que é um filma de Pixar sobre um peixe-palhaço perdido, pelo amor de todas as engrenagens do mundo. Muitas das obras de Verne possuem uma característica bem steampunk na trama. Dentre todas, acho que a mais famosa seria Vinte Mil Léguas Submarinas — que é justamente a que aparece o Nemo —, mas eu achei que Viagem ao Centro da Terra também tem uma pegada meio steampunk.

Entretanto, o steampunk não está só nos livros. Ele também está na televisão! Em animes como Violet Evergarden — que eu absolutamente adoro e recomendo! — e eu diria que até em histórias mais famosas como Fullmetal Alchemist — eu, pelo menos, identifico um pouco de steampunk em Fullmetal, vai, admite.

E não para por aí, em filmes como A Invenção de Hugo Cabret — que, para todos os efeitos, é uma adaptação literária, no fim das contas — eu diria que steampunk é uma das motivações da história, já que o grande mistério gira em torno de um autômato — um elemento steampunk. Acho a história legal, conseguiu me deixar curiosa para desvendar o mistério que a trama propõe.

Também tem a versão mais recente de Os Três Mosqueteiros, de 2011 — que eu acho que não foi lá um grande sucesso, mas pessoalmente eu não acho ruim, embora prefira a versão de 1993, que eu acho mais engraçada, apesar de não ter o Orlando Bloom…

E eu não estou aqui para falar de Os Três Mosqueteiros. Foco, Carol!

Enfim, Os Três Mosqueteiros, de 2011, apesar de ter a história ambientada na primeira metade do século XVII — ou seja, bem antes de quando surgiu o steampunk e da era vitoriana —, é todo caracterizado com uma pegada bem steampunk.

O que se pode concluir é que o steampunk, apesar de ter os seus mistérios e não ser um subgênero forte ainda, está indubitavelmente presente tanto na literatura, quanto no cinema. Você já pode até ter visto ou lido alguma coisa com essa pegada e nem sabe.

Mas depois desse intensivão de steampunk, eu acho que vamos olhar para uma engrenagem de um jeito diferente, hã?