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A Casa Assombrada, de John Boyne | Resenha

‘A Casa Assombrada’: apenas mais uma história de terror

'A casa assombrada', de John Boyne / Divulgação
‘A casa assombrada’, de John Boyne / Divulgação

Quando passamos por certos traumas na vida, às vezes, perdemos a cabeça e tomamos atitudes precipitadas. É o caso da jovem professora Eliza Caine, protagonista do livro A Casa Assombrada, de John Boyne (autor do aclamado O Menino do Pijama Listrado), que, após a morte do pai, se vê sozinha e sem dinheiro para o aluguel e, portanto, decide aceitar, de forma repentina, uma oferta um tanto estranha para ser governanta em uma casa. O anúncio em questão apenas busca uma profissional para se dedicar aos cuidados e à educação das crianças, no entanto, não menciona quantas são, quantos anos têm ou dar quaisquer outras explicações. Nem é preciso dizer que esta estadia não vai ser das mais agradáveis, certo? Porém, para os fãs do gênero terror e que esperam algo, no mínimo, surpreendente, a experiência infelizmente também não será das mais assustadoras, apesar de tudo.

A história, narrada em primeira pessoa, mostra a visão de Eliza sobre eventos passados. Um trunfo utilizado por John Boyne para aumentar a tensão da trama, antecipando eventos misteriosos e sobrenaturais que ocorrerão no livro. Em A Casa Assombrada (publicado pela editora Companhia das Letras)Boyne também abusa dos clichês para prender o leitor. E, por mais que eles sejam visíveis – até mesmo escancarados-, é difícil controlar a aflição para saber o motivo de todos os moradores olharem assustados quando a personagem fala que trabalha na propriedade de Gaudlin Hall, ou quando ela procura saber detalhes da família e as pessoas desconversam. Não tem como não ser fisgado pela obra. Esse suspense é arrebatador!

Um dos pontos que mais me agradaram no livro foi como o autor soube transparecer o pensamento de uma mulher do século XIX e relacioná-la com o contexto da época. Ele ainda trouxe uma visão bem interessante do ponto de vista feminino reprimido num tema que ainda é tabu nos dias atuais. Infelizmente, citar a polêmica é acabar com um dos mistérios do livro. Por isso, limito-me a dizer que está relacionado ao suicídio de Arthur Covan, um affair de Eliza. Outro momento que merece destaque, e que, de certa forma, está relacionado à contextualização histórica, é quando Eliza procura o reverendo Deacons para discutir a vida após a morte, bíblia e a presença de espíritos na casa. O diálogo é bem instigante, ao mesmo tempo que nos faz refletir sobre como o assunto é abordado atualmente e como o pensamento eclesiástico evoluiu (ou nem tanto).

A maneira como a história é contada me envolveu, assim como a descrição do cenário londrino do século XIX e as referências aos autores ingleses Charles Dickens e William Shakespeare trouxeram um toque especial para a trama. John Boyne, de fato, sabe conduzir uma narrativa com alta qualidade. É fantástico o modo como ele aprofunda certos temas no gênero terror, mostrando que é possível, além de provocar sustos, debater assuntos polêmicos. Entretanto, faltou o principal: o horror. Não que as crianças não tenham sido assustadoras o suficiente, mas a “surpresa” final ficou aquém daquilo que realmente considero apavorante.

Vou explicar: sou aficionado por obras que apelam para o medo, sobrenatural e terror. E uma das coisas mais cativantes que acho no gênero é quando você consegue ser enganado. Na minha concepção, o mais aterrorizante é surgir algo monstruoso daquilo que você acha normal, daquilo que você nem desconfia. E isso faltou em A Casa Assombrada e me decepcionou um pouco. Durante a leitura, por abordar o tema polêmico que mencionei anteriormente, imaginei um final mais nebuloso, com uma reviravolta que me deixasse de boca aberta. Mas isso não aconteceu. Logo no meio da obra, é fácil deduzir a razão da assombração. Talvez, tenha ficado com muita expectativa já nas primeiras revelações. Talvez, esteja tão exposto ao gênero que tenha ficado imune ao sustos. Porém, se você não está muito acostumado a ler obras deste tipo e deseja se aventurar, tenho certeza de que a menina Isabella vai lhe amedrontar. Do contrário, esta é apenas mais uma tentativa de história de terror (bem escrita).

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Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.

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