Entrevistas

Entrevista: Ticiele de Camargo

Ticiele de Camargo lança o seu primeiro livro, ‘Vontade de Escrever’, na Bienal do Livro 2015 e defende a importância do ensino da poesia e do cordel na formação de novos leitores

Ticiele de Camargo, autora de 'Vontade de Escrever'/Foto: Divulgação
Ticiele de Camargo, autora de ‘Vontade de Escrever’/Foto: Divulgação

Uma paixão passada por gerações. Um hábito adquirido através dos exemplos de casa e que, alguns anos depois, se tornaria num sonho realizado. Sonho esse que a autora Ticiele de Camargo resolveu compartilhar com milhares de leitores ao lançar o seu primeiro livro, Vontade de Escrever, na Bienal do Livro 2015, na sexta, dia 4 de setembro. A obra infantojuvenil é uma coletânea de poemas, cordéis, além de uma curta história, que empregam valores morais como respeito, gratidão e o valor das pessoas. Em seu trabalho, Ticiele também incentiva crianças e adolescentes a aprenderem línguas estrangeiras e música e defende que é possível ensinar os jovens leitores através de uma literatura prazerosa.

“Quando comecei a me infiltrar mais na Literatura, eu percebi que o que mais me chamava atenção eram os textos que continham mensagens de apoio moral e que também primavam pelos valores morais”, explicou Ticiele ao Vai Lendo. “Por quê? Porque todas as crianças adoram os porquês. O mais prazeroso para mim, assim como para muitas crianças hoje em dia, é encontrar no fim de um poema, cordel ou história uma lição moral; algo que venha a nos intrigar e trazer à nossa consciência a importância do mesmo. E a literatura é o veículo dessa realização, ela em si carrega o poder intangível ao ser apresentada e introduzida, através de palavras que despertam cada um de nós da rotina, onde a gratidão, o respeito e a honestidade só existem por existir. O lançamento na Bienal do Livro será como um sonho para mim. Estou ansiosa e muito feliz, pois finalmente terei o meu primeiro contato com o público! Ficarei muito contente mesmo por todos que aparecerem lá!”.

vontade300O interesse pela escrita e pela literatura surgiu entre os 11 e 12 anos, contou a autora, quando ela começou a se aprofundar na literatura infantojuvenil ao buscar os livros da biblioteca da escola estadual em que estudava. Mas o gosto por poemas e cordéis veio de sua avó que, segundo Ticiele – que tem como referências literárias nomes como Ana Maria Machado, Monteiro Lobato, Luis Fernando Veríssimo, entre outros -, até hoje, “ainda tem o hábito e o prazer de recitar poemas e contos aos netos”. Apesar do gênero não ser tão popular entre grande parte dos leitores, ela defendeu a importância dos clássicos na formação dos leitores.

“Eu praticamente cresci tendo essa rica influência”, lembrou. “Eu viajava imaginando tudo aquilo que ela me contava. E, quando comecei a desenvolver minhas próprias escritas, sentia o prazer de reviver esse estilo de literatura (prosa e poesia), colocando-as no papel. Já a literatura de cordel foi algo que, por ser sempre muito curiosa, conheci sozinha e me apaixonei; as métricas são diferentes, os versos são recheados de rimas e a rima é uma das características que mais me atraíram e que ainda me atraem. Eu, particularmente, acho muito fácil escrever um conto ou poesia, no qual o leitor terá, nos primeiros dias, o prazer de ler, porém, quando terminá-lo, não poder trazer nada daquilo para a sua vida real. É como entrar num trem visando apenas a última parada do seu destino, e nada mais após isso. A apresentação da literatura clássica, por mais entediante e complexa que pareça, devido à sua estrutura e versão arcaica de escrita, é de extrema importância e sempre será. Há diversas formas de trabalharmos os clássicos com crianças e adolescentes para que isso se torne excepcionalmente estimado nos dias de hoje. Não podemos abrir mão de Camões, Machado de Assis ou, até mesmo, do Petrarca somente porque muitos os desclassificam em sua lista de favoritos. Se a literatura clássica não for imposta nos métodos de ensino, teremos perda de história. Talvez, os clássicos não estejam ganhando mais importância atualmente pela forma como eles são apresentados aos alunos. Se contos de fadas e super-heróis são estimados e bem reconhecidos desde a nossa infância, por quê não seriam também os clássicos?”.

'Vontade de Escrever' será lançado na Bienal do Livro 2015
‘Vontade de Escrever’ será lançado na Bienal do Livro 2015

Para Ticiele, a escolha do tipo de literatura deve partir dos próprios leitores, mas é fundamental que todos tenham conhecimento dos mais variados estilos para que possam saber identificar aquele que mais lhe agrada. A autora ainda ressaltou que o ensino da poesia e do cordel é necessário entre crianças e adolescentes durante o processo de estímulo à leitura.

“O ensino da poesia e do cordel, por mais fracos que pareçam estar no gênero Infantojuvenil, podem certamente ajudar na formação de novos leitores, mas é necessário que ele seja introduzido”, declarou. “Obviamente, também é necessário ter um balanço na forma da escrita para que o leitor não encontre dificuldade ao ler. O texto poético, a poesia, tem como uma das suas maiores funções despertar a curiosidade do que não foi exposto nas suas entrelinhas. Isso força o leitor a criar um relacionamento mais aprofundado com os princípios da escrita, fazendo com que ele procure os porquês, enquanto o cordel passa a ser mais explicativo em sua forma de escrita, dando ao leitor o prazer de já estar dentro da história, fazendo dele (leitor) o próprio protagonista ou apenas um ouvinte”.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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