A Noiva Fantasma, de Yangsze Choo | Resenha
‘A Noiva Fantasma’: uma grande viagem pelo Além Oriental
Admito que não sou uma leitora de romances, mas, apesar de ter bastante romance ao longo de todo o livro, devo dizer que A Noiva Fantasma definitiva e felizmente me surpreendeu de maneira muito, muito positiva.
E isso é ótimo! Adoro ser surpreendida.
Podem ter absoluta certeza de que qualquer outro livro que a autora Yangsze Choo lançar terá a mim como leitora e, muito provavelmente, fã. Ler A Noiva Fantasma foi, certamente, uma experiência muito boa. E francamente enriquecedora, devo acrescentar. Porque esse livro consegue ser espantosamente rico quanto à cultura, principalmente no que se refere às crenças a respeito da morte, de comunidades chinesas – talvez não seja uma cultura dominante atual, já que a história se passa no século XIX, mas isso não torna o livro menos interessante de maneira nenhuma. Muito pelo contrário!
A autora já começa apresentando a problemática da história logo nas primeiras páginas: a personagem principal, Li Lan – que também é a narradora da história -, é prometida em casamento ao herdeiro da poderosa família Lin, o mimado e insuportável Tian Ching. O grande problema está no fato de que o rapaz já está morto. E Li Lan não quer se tornar a noiva de um fantasma – o que eu achei mais do que compreensível. Na verdade, ela se sente incontrolavelmente atraída pelo primo de seu suposto noivo morto, Tian Bai, a quem Tian Ching parece odiar com todas as suas forças.
E daí se desenrola uma trama inicialmente inocente. Mas que, logo, se torna complexa e muito, muito interessante.
Eu, inocentemente, achava que todo o livro fosse girar em torno desse problema inicial unicamente. Pensei que o fato de Li Lan ter que lidar com essa dualidade de dever VS. desejo, ou seja, se tornar uma noiva fantasma ou lutar pelo homem que ela ama, seria o único grande problema durante toda a história.
Não era. Era apenas a ponta do iceberg.
Milhares de coisas acontecem ao longo do livro! Tudo ocasionado, é claro, inicialmente pela problemática de Li Lan ser ou não uma noiva fantasma.
O livro é dividido em 4 partes: Malaia – 1893, O Além, A Planície dos Mortos e Malaca. Todas as partes foram muito bem separadas, pois podemos notar direitinho a mudança de foco da narrativa ou do ambiente da trama.
Peguei o livro achando que seria uma experiência literária tranquila – com uma narrativa muitíssimo bem feita, por sinal, mesmo sendo em primeira pessoa, o que me chamou muito a atenção – e que eu a faria lenta e calmamente, sem tantas emoções fortes. E, no início, foi assim mesmo. Li a primeira parte, Malaia – 1893, com despretensioso interesse, me dando tempo para entender bem as tradições tão pouco comuns para a minha criação tipicamente ocidental e moderna.
Mas, de repente, já no início da segunda parte, me vi lendo uma ficção fantástica recheada de intrigas, mistérios, aventuras, monstros, mortos, maldições e até paixões proibidas! E admiti para mim mesma, surpresa: “Cara, essa história está entre as melhores que já li!”.
E foi desse jeito até o fim.
Fazia algum tempo que eu não devorava um livro tão desesperadamente quanto devorei A Noiva Fantasma.
Curti (dedão positivo!).
Mas vou fazer uma análise por partes.
A narração. Como eu já disse, a narradora de A Noiva Fantasma é a própria Li Lan, a protagonista, ou seja, é uma narração em primeira pessoa – e eu tenho quase certeza de que já comentei em alguma das minhas resenhas anteriores a minha opinião de que escrever algo coerente e sem perder o foco em primeira pessoa é um dos maiores desafios para um escritor.
Mas Yangsze Choo o faz com perfeição!
Ela desenvolveu a narradora-personagem de maneira linda, de forma que me peguei, muitas vezes, torcendo e me preocupando com ela – lembrem-se que eu sou uma amante de vilões, então, me fazer gostar de um protagonista assim não é tarefa fácil. E olha que os vilões dessa história até que foram muito bem feitos também.
Mas Choo conseguiu me levar para o Lado Mocinho da Força!
Quanto ao vilão, é com alegria que anuncio que são mais de um. E são todos muito bem formados, coerentes com o seu papel na história, perfeitamente insuportáveis e que nos fazem ter vontade de dançar de alegria quando são finalmente derrotados.
A trama em si é riquíssima em detalhes. Fato que me chamou muito a atenção, porque Choo conseguiu ser detalhista sem ser chata.
Agora, falarei sobre o volume físico, a parte que cabe à editora.
Bom, como de costume, a Darkside não me decepcionou. É um fato certo e consumado que eu nunca li um livro da Darkside que eu não gostasse muito. E essa marcação continua intacta!
A beleza do livro também não pode ser negada. Novamente, a editora fez um trabalho de diagramação e impressão estupendos! Até mesmo o tamanho da fonte e a largura das margens está perfeita.
No entanto, tomo coragem agora para fazer duas observações – que, honestamente, podem ser vistas, sim, como reclamações, e que eu já venho observando há algum tempo.
Uma delas é sobre a capa. Sim, é linda. Não resta dúvidas. No entanto, já vi outra capa, de outro livro, muito – mas muito mesmo! – parecida com essa. E, apesar de não serem iguais, me sinto no dever de dizer que ficou uma situação chata. Infelizmente. Não é o tipo de trabalho que se espera em um volume com o preço que me foi cobrado, não condiz com a qualidade à qual estou acostumada.
A outra observação, eu considero ainda mais grave. Tem a ver com o trabalho de revisão que foi feito no livro – e não apenas nesse. Eu não sei como a Darkside trabalha com a revisão de seus livros, por isso vou dar unicamente a minha opinião de leitora. Ao longo da obra, me deparei com muitos erros ortográficos – em alguns eram erros mais graves como concordância, em outros dava para notar que havia sido erro de digitação, mas ainda assim…
“Ah. Mas, Carol, nunca vai ter um livro perfeito!”, você pode estar pensando.
E eu concordo. Plenamente.
Não há livros perfeitos. Eu, até hoje, nunca encontrei nenhum. Sempre tem algum errinho. Alguma coisa sempre foge à atenção do revisor, do diagramador, do ilustrador… enfim… Isso é normal e esperado.
Mas é o dever da editora e também do escritor – cada um à sua maneira – tentar levar ao leitor o livro da maneira mais perfeita possível.
Quando o leitor encontra dois ou três errinhos – dependendo também da gravidade de cada um deles -, tudo bem. Foi um deslize.
Mas cuidado nunca é pouco. E a editora em questão é excelente. E isso é um fato!
Seria uma pena que seu exímio trabalho ficasse marcado por algo possível de melhorar.
Mas, de qualquer maneira, gostaria de deixar claro que isso não afeta em nada o meu grande apreço pelo trabalho e, principalmente, pelas publicações da editora. Continuo sendo fã, tenho outros livros sob o selo dela, estou mega ansiosa para lê-los e tem ainda outros de seus títulos que eu pretendo e vou adquirir.
Mas, de maneira geral, Yangsze Choo, com o seu livro A Noiva Fantasma, conseguiu me fazer sentir. Eu passei a me importar com a história e sinto que, com essa leitura, aprendi algo. E isso, para mim, é, não apenas o grande motivo de um escritor ser um escritor, mas também é o maior presente que ele pode dar a um leitor.
E é por isso que eu gostaria de agradecer a autora Yangsze Choo por ter escrito essa obra tão fantástica.
Recomendo e muito a leitura.
Um comentário
Pingback: