Resenhas

A Febre, de Megan Abbott|Resenha

A Febre: ousado, surpreendente e misterioso, porém, com um final que não faz jus ao seu thriller envolvente

Amigas, amigas, garotos à parte. Até onde vai a lealdade? E principalmente o que é real ou apenas fruto da nossa imaginação? Esses são os principais pontos abordados por Megan Abbott em seu suspense A Febre, publicado aqui no Brasil pela editora Intrínseca. Com várias suposições e muito mistério, a autora consegue, até boa parte do livro, prender totalmente a nossa atenção, nos levando a devorar as páginas em busca de uma resposta, principalmente por ser baseado em fatos reais. Porém, quanto mais perguntas surgem, menos soluções nós temos.

A rotina comum da Escola Secundária de Dryden é totalmente abalada quando Lise Daniels, de 16 anos, sofre uma inexplicável e violenta convulsão no meio da aula. Deenie, sua melhor amiga, vê tudo e não sabe como explicar o que aconteceu. Aliás, ninguém sabe. E a situação piora quando outras meninas também passam a ter os mesmos sintomas, além de desmaios e outros tiques nervosos. Com médicos intrigados e pais apavorados, todos tentam compreender a(s) causa(s). Seriam efeitos colaterais da vacina contra HPV? Não demora muito para o pânico se alastrar não apenas pela escola, mas por toda a cidade, gerando um clima terrível de insegurança.

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A trama escrita por Megan é narrada em terceira pessoa, sob o ponto de vista da própria Deenie, de seu irmão, Eli, e do pai, Tom, um dos professores da escola. Ainda que, em boa parte do livro, o fato de termos três personagens em destaque dê uma certa movimentação à história, uma vez que cada um deles traz novas “informações” ou fatos novos sobre a situação, às vezes, isso também quebra um pouco do ritmo da leitura, pois, às vezes, uma ação acaba não sendo concluída, deixando o leitor com aquela sensação um pouco frustrante (eu, pelo menos, curiosa como sou).

Em relação às personagens, é um pouco difícil formar uma opinião concreta, já que, em minha opinião, suas personalidades não foram tão bem definidas. Explico: Deenie, Eli e Tom foram abandonados por Georgia, a mãe dos jovens e ex-esposa do professor, que resolveu trocar a família e a pacata cidade por algo “a mais”. Isso deixa uma marca irreparável no trio, abalando uma estrutura que um vez já fora sólida. Assim, Tom tenta criar os filhos da melhor maneira possível, mas com a insegurança de ser um pai solteiro tendo que lidar com dois adolescentes. Deenie e Eli, por sua vez, se fecharam em seus próprios mundos e possuem uma certa dificuldade em se relacionar com os outros, assim como o pai. Tanto que, para Deenie, apenas Lise e Gabby (sua outra melhor amiga) importam. E, quando as duas passam a ter os misteriosos ataques, a menina se vê sozinha e completamente perdida. Por outro lado, a escritora consegue, no meio de tudo isso, abordar questões sérias sobre família e a adolescência de uma maneira bastante objetiva.

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É no suspense da história, porém, que está o trunfo da autora. Megan consegue realmente criar uma sensação angustiante, através de todos os acontecimentos. Assim como seus personagens, ficamos perdidos e completamente “no escuro”, sem saber, de fato, o que é real ou apenas uma alucinação gerada por um surto coletivo. Eu gostei da sensação de estarmos “no mesmo barco”. Dessa forma, temos uma leitura ágil, pois é completamente impossível esperar para obter qualquer resposta.

O maior problema, contudo, é justamente o fato de criarmos tanto uma expectativa para, no fim, nos decepcionarmos (não falarei mais sobre isso para não dar spoilers). Infelizmente, o desfecho escolhido por Megan é superficial e nem de longe faz jus ao thriller envolvente desenvolvido ao longo das páginas.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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