Entrevistas

Entrevista: Juliana Parrini

A escritora Juliana Parrini, que tem mais de sete milhões de leituras no Wattpad, fala sobre autopublicação, o lançamento de seus livros pela Suma de Letras e a relação carinhosa com seus leitores

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‘Novamente Você’, de Juliana Parrini / Divulgação

O talento adormecido catapultado pela internet. Assim nascia uma escritora de sucesso, adorada por milhares de leitores que ansiavam por novos capítulos de suas histórias. Juliana Parrini, carioca de 29 anos, nem poderia imaginar que, ao compartilhar as suas ideias numa rede social, alcançaria o primeiro lugar no ranking de vendas de livros digitais no país com a obra Depois Do Que Aconteceu. Hoje, depois da autopublicação, Juliana já tem três de seus livros publicados pela Suma de Letras em formado físico e marcou presença na Bienal Internacional do Livro de São Paulo deste ano para lançar Novamente Você (que também foi disponibilizado incialmente em formato digital).

Em entrevista ao Vai Lendo, Juliana disse não ver diferença entre o livro físico e o digital e indicou que os leitores, quando gostam de verdade de uma obra, conseguem aproveitá-la de todas as formas. Contudo, ela também ressaltou que, agora, publicando por uma grande editora, as responsabilidades são maiores, principalmente em relação ao conteúdo e no que diz respeito às expectativas dos leitores.

Novamente Você foi o meu segundo livro autopublicado”, explicou. “Eu acredito que os leitores de ficção, principalmente os que curtem romances, são aqueles que amam ler e reler as histórias, gostam de ter seus livros expostos em estantes, prateleiras e indicam aos amigos. Muitos possuem as duas formas, física e digital. Eu mesma sou esse tipo de leitora, quando leio um e-book e amo, logo procuro adquirir o livro físico também. Para mim, não há diferença entre publicar nos dois formatos, a diferença em si vem da publicação independente à publicação por uma editora. A pressão é, de fato, maior. Com uma editora sabemos que o livro chegará a lugares que com a autopublicação não chegaria. Eu me cobro muito. Hoje, escrevo mais devagar, com muito cuidado. As pessoas passam a esperar muito mais. Eu nunca havia sonhado em publicar um livro, muito menos por uma grande editora. Foi tudo uma grande surpresa. O medo surge, a pressão, o modo como você leva a profissão, ou seja, tudo muda. Com o convite da Suma de Letras, eu apenas fiz uma nova edição nos livros, apenas para aprimorar o texto. O maior desafio foi superar as expectativas das pessoas”.

Criadora de protagonistas femininas fortes e de características marcantes, Juliana reuniu um público fiel e numeroso. Em Novamente Você, ela rompeu os padrões com os quais estamos acostumados e surpreendeu com uma personagem principal capaz de abandonar o marido e voltar anos depois, sem maiores explicações. Atitudes que diferem completamente de sua primeira protagonista, de Depois Do Que Aconteceu.

Novamente Você foi um livro escrito com esse intuito, de sair da mesmice”, afirmou. “Não são só os homens que abandonam suas parceiras, na vida real também ocorre ao contrário, não é? Maria Rita é uma personagem com personalidade forte, sem papas na língua, extremamente arrogante e não pensa antes de falar. Largou o marido e foi embora com um turista e, depois de longos 12 anos, retorna para a sua ilha natal da mesma forma que partiu, sem muitas explicações. Há muitos mistérios nessa trama e Maria Rita é capaz de causar ódio e amor. Ela surgiu depois de eu criar Isabel, minha primeira personagem, do livro Depois Do Que Aconteceu, que, ao contrário, é uma personagem mais calma, mais centrada. E, como disse inicialmente, eu queria mudar. São duas personagens bastante diferentes. Gosto quando os leitores se identificam com elas e, por incrível que pareça, já li vários relatos de pessoas que dizem ter um pouco de Rita”.

'Depois do que Aconteceu' e 'Antes que Aconteça', de Juliana Parrini / Divulgação
‘Depois do que Aconteceu’ e ‘Antes que Aconteça’, de Juliana Parrini / Divulgação

Por falar em mulheres fortes, Juliana, que deixou a inspiração ganhar vida através de suas palavras após ler o best seller 50 Tons de Cinza, exaltou o momento em que os livros eróticos ou considerados apimentados ganharam mais espaço, possibilitando uma liberdade maior às mulheres não apenas para falar sobre sexo, mas principalmente para informar e combater o machismo. Contudo, ela apontou que ainda há, sim, preconceito em relação ao gênero.

“Ainda vivemos em um mundo machista, infelizmente”, declarou. “Muitos ainda não aceitam ver as mulheres terem as mesmas liberdades dos homens. São essas mesmas pessoas que defendem a teoria de que quem usa roupas curtas e justas têm culpa de ser estuprada, por exemplo. Enfim, o que mais me assusta é que nem sempre esse pensamento vem dos homens. 50 tons veio para abrir a mente de algumas mulheres. De informar que sexo é reciprocidade, não só para dar prazer ao homem. A mulher quer uma junção das coisas. Elas querem ser bem tratadas e querem ter liberdade sobre o próprio corpo. Meus livros não chegam a ser categorizados como eróticos, e, graças a Deus, nunca sofri preconceito por eles serem um pouco apimentados. Mas infelizmente isso ainda existe nesse meio literário”.

Com mais de sete milhões de leituras no Wattpad (comunidade online para escritores), Juliana – que teve os direitos de seus livros adquiridos para o cinema – destacou a importância da experiência para o início da sua carreira e a influência dos leitores em seu trabalho. Para ela, esse contato próximo com os internautas foi fundamental para que ela pudesse desenvolver melhor os seus textos e confirmou que, até hoje, usa a plataforma.

“Comecei no Wattpad e ali postava capítulos durante a semana”, contou. “Eu amo escrever assim, adoro saber o que os leitores estão achando da história enquanto ela é construída. Tanto que, até hoje, escrevo livros lá.  O Wattpad me moldou. Como eu comecei na plataforma, não conheço outra forma de escrita que não seja rápida, sem enrolação. O Wattpad é uma vitrine, os olhos estão voltados para o site, então, nada melhor do que eu escrever com prazer, com paixão”.

Sucesso na Bienal Internacional de São Paulo, Juliana destacou a facilidade que a internet proporciona aos leitores e escritores de manterem um contato mais direto. No entanto, ela não se considera uma formadora de opinião, mas ratificou que adora debater sobre livros, compartilhar resenhas e divulgar o seu trabalho e o de amigos com os internautas. A escritora também se mostrou grata ao público que, segundo ela, é o seu principal estímulo.

Juliana Parrini na Bienal do Livro SP 2016 / Reprodução Facebook Juliana Parrini
Juliana Parrini na Bienal do Livro SP 2016 / Foto publicada no perfil oficial da autora no Facebook

“Eu fico muito feliz (com o reconhecimento dos leitores)”, comemorou. “Muito mesmo. Primeiro, porque jamais imaginaria ser lida dessa forma, pois nunca havia pensado em virar autora. Tudo começou como um hobby, uma brincadeira. Até então, eu era apenas mãe em tempo integral. Depois, vieram as milhares de páginas lidas, as semanas consecutivas em primeiro lugar geral na Amazon, a publicação por uma editora grande e, até mesmo, quando fechei o contrato com a produtora de cinema para a adaptação dos livros Depois Do Que Aconteceu e Antes Que Aconteça. Enfim, tudo isso eu devo a eles, aos meus leitores. Sinto-me honrada e agradecida por receber tanto carinho, tantas mensagens de pessoas que nem conheço contando sobre as suas vidas e como superaram problemas como os dos personagens, ou como as minhas histórias os ajudaram a sair da depressão. E são essas mensagens que me fazem ver que estou no caminho certo. O contato direto dos leitores é o que me faz continuar todos os dias”.

 

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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