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Entrevista: Madeline Ash

Madeline Ash / Divulgação

Se, na vida real, ela se autodeclara “emocionalmente alérgica à espontaneidade”, nos livros, sobra sensibilidade. Através das palavras, a escritora australiana Madeline Ash mexe com as emoções e com os sentimentos dos leitores, trazendo reflexões e personagens extremamente humanos e verdadeiros.

Autora de O Segredo do Jogador, recém-lançado digitalmente pela Galuba Editorial, Madeline afirma gostar de escrever romances que “mergulham profundamente no coração e na mente de seus personagens”. Nesta obra em questão, acompanhamos duas jornadas pelo autoconhecimento e pela realização pessoal, pela liberdade de ser e de correr atrás dos sonhos, independentemente de opiniões e julgamentos alheios. Para ela, é importante mostrar aos leitores que fazer mudanças por nós mesmos vale a pena.

“Quando eu estava escrevendo este livro, quis explorar a ideia de que não há um único meio de ser feliz”, declarou Madeline. “Sempre nos dizem como temos que viver as nossas vidas – as nossas famílias, a sociedade, o patriarcado, o marketing consumista… E, às vezes, quando finalmente conseguimos essa vida, percebemos que não é como esperávamos. Que não nos torna felizes. Nesta história, ambos os personagens finalmente decidiram parar de viver a versão de felicidade de outras pessoas. Dean abandona o estrelato no futebol e Rafi, foge de uma futura carreira como primeira bailarina. E eles estão felizes com essa decisão! Nem sempre teremos o apoio ou a compreensão daqueles a nossa volta, mas somente nós sabemos o que é melhor para nós mesmos e podemos decidir seguir um caminho mais feliz”.

Duas vezes finalista do prêmio RITA (dos Escritores de Romance da América) e vencedora da premiação australiana RUBY (que reconhece trabalhos no setor de artes e cultura da Austrália), Madeline preza pela autenticidade de seus personagens. Tanto que faz questão de construí-los longe da perfeição para torná-los menos previsíveis e principalmente mais reais aos leitores.

“Eu realmente tento criar personagens mais complexos e verossímeis”, afirmou. “Não diria que todos os leitores buscam personagens que sejam vulneráveis e inseguros, porque todos lemos romances por diferentes razões. Mas acredito que muitos leitores apreciam a complexidade de personagens que não são perfeitos. Todos nós temos defeitos e cometemos erros, mas geralmente tentamos esconder isso. Às vezes, me pergunto se pessoas que gostam de fofocas e de falar sobre os problemas dos outros, lá no fundo, não estão buscando a reafirmação de que ninguém é perfeito – e isso validaria a sua compreensão sobre elas mesmas. Também me questiono se a razão para leitores (eu, inclusa!) preferirem personagens conflitantes e com defeitos é pelo fato de conseguirem se identificar e se conectar melhor com eles, além de desejarem profundamente que eles sejam felizes”.

Por falar em felicidade, essa é a premissa máxima das obras de Madeline. E justamente por conta de todas as provações e de todos os obstáculos enfrentados por seus personagens. Para ela, o “felizes para sempre” é mais recompensador quando eles se esforçam, perdem e se encontram em seu momento mais vulnerável na história. Ela ressalta que não abre mão dos finais felizes e acredita que “quanto mais difícil for encontrar a felicidade, maior será a recompensa emocional para os leitores”. Madeline espera que suas histórias tragam esperança.

“Finais felizes são importantes nos meus livros por diferentes razões”, explicou. “Claro que a primeira é porque eu escrevo romances – e uma das principais promessas que um autor de romances faz aos seus leitores é a de que os personagens terminarão felizes juntos. Mas também é importante porque o livro acaba com uma sensação de esperança. Pessoalmente, eu não acredito que o amor romântico seja essencial para a felicidade. Apenas o amor, de alguma forma. Pode vir da família, dos amigos, dos animais de estimação, um trabalho que você ama ou o apoio de uma comunidade. Podemos viver verdadeiramente felizes se amarmos os outros e a nós mesmos. Ainda que os finais dos meus livros sempre envolvam romance, as emoções principais que eu quero transmitir são amor e suporte. Se um personagem tem isso no fim – de qualquer parte de sua vida -, então os leitores podem ficar contentes porque a jornada emocional daquele personagem chegou ao seu destino”.

‘O Segredo do Jogador’, de Madeline Ash / Divulgação

Com um coração tão cheio e disposto a compartilhar com os leitores, Madeline, que começou a escrever a partir de fanfics de Harry Potter (alô, Potterheads!), logo viu que não poderia se restringir a universos já existentes. Ela precisava construir as suas próprias narrativas. Mas, para isso, também precisou ter paciência para descobrir e desenvolver a própria técnica.

“Meu maior desafio foi desenvolver personagens com muitas camadas e escrevê-los de forma que os leitores pudessem conhecê-los no ritmo certo”, indicou. “Num primeiro momento, eu estava tão ansiosa para fazer com que os leitores amassem os meus personagens que eu acabava entregando toda a sua história logo no início, em vez de alimentar esse conhecimento aos poucos para uma construção e revelação gradual do personagem. Felizmente, quanto mais eu escrevo mais eu consigo refinar a minha técnica”.

E foi a escrita que também a ajudou a encarar a pandemia e a enfrentar a disrupção do mundo como conhecemos. Escrevendo, Madeline achou uma maneira de fugir dessa realidade tão assustadora que vivemos e também de ajudar os leitores a encontrarem uma zona de conforto em suas mentes e seus corações. A escritora ainda fez questão de comentar e prestar solidariedade aos brasileiros pela situação do nosso país.

“Primeiramente, eu gostaria de expressar as minhas mais profundas condolências pela forma como a pandemia está se alastrando no Brasil”, disse. “É realmente devastador e eu sinto muito por tudo o que vocês estão passando. Aqui na Austrália, temos a vantagem geográfica de sermos uma grande ilha, então, uma vez que as viagens internacionais foram restritas, no ano passado,

nosso governo pôde focar nos casos em cada estado e impor lockdowns para limitar as transmissões comunitárias. Melbourne, onde eu vivo, teve quatro lockdowns desde que a pandemia começou, incluindo um em 2020 que durou 112 dias. Como para boa parte das pessoas ao redor do mundo, para mim essa mudança abrupta da vida como conhecíamos foi algo desafiador e assustador, mas eu usei a minha escrita para escapar da realidade e como uma válvula de escape emocional. Passei a maior parte de 2020 escrevendo. A história virou o meu escapismo, o mundo no qual eu preferia viver. E eu acho que o meu desejo de existir em qualquer outro lugar que não fosse o mundo real resultou em uma história com um romance mais intenso, um elenco vasto de personagens e um cenário idealista que permitisse aos leitores esquecerem o impacto do vírus”.

E como está sendo a experiência de ser lida por leitores que vivem do outro lado do mundo, tão distantes desta ilha e com tantas diferenças culturais? Na verdade, Madeline prefere exaltar o que, para ela, os leitores brasileiros e australianos têm em comum: o amor por romances e por heroínas destemidas.

“Ser publicada no Brasil ainda é algo muito novo para mim, assim como os leitores brasileiros, então eu vou focar no que percebi que temos em comum, em vez de apontar as nossas diferenças”, ela concluiu. “Eu sinto que tantos os leitores brasileiros quanto australianos valorizam romances com heroínas destemidas que lideram a história – provando que as mulheres têm força, poder e inteligência e que elas merecem ser felizes em seus próprios termos. Sinto que os leitores brasileiros e australianos curtem os mocinhos, os heróis, do romance não apenas porque eles são lindos e sexys (ainda que isso seja realmente um plus!), mas porque eles respeitam as mocinhas, as escutam, se importam com elas e querem ajudá-las a conquistarem os seus sonhos. Também amamos livros de romance pelo entretenimento e as emoções que nos proporcionam, o final feliz garantido e beleza da verdade de que o amor é capaz de conquistar tudo”.

Essa entrevista faz parte da nossa parceria com a Galuba Editorial e você pode ter acesso às próximas antes, assim como os lançamentos da editora, se inscrevendo na Newsletter.

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Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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