Semana Especial Intrínseca: Rick Riordan #3
Mitologia grega ou nórdica? Que tal as duas?
Quando nós, ocidentais, pensamos em mitos, nos lembramos imediatamente dos mitos gregos e romanos, com suas histórias de deuses e heróis, guerras sendo travadas e monstros a serem vencidos.
Acho que posso dizer que os gregos criaram os mitos com a maior elasticidade cultural que o mundo já conheceu. Durante os meus estudos – acreditem, eu já estudei, inclusive na faculdade, sobre mitologia clássica –, eu tentei pensar no motivo disso e acho que cheguei à uma conclusão.
Esses mitos falam do agora, sem se preocupar com o futuro. E eles falam de um cotidiano, sem enfeitar nada. Os deuses do Olimpo são colocados como uma grande família. E, como toda família, eles têm os seus problemas. Por exemplo: temos Zeus, que cá entre nós, é o soberano mais mulherengo do qual eu já ouvi falar, casado com a mais ciumenta das deusas, que se vinga e persegue todas as amantes do marido. Só com esses dois já dá para fazer uma novela. Ilustração de Zeus por John Rocco / ‘Percy Jackson e Os Deuses Gregos’E o que é mais impressionante, é que todos os deuses gregos são personificados. Eles são deuses, mas se parecem com a gente. Eles são dúbios, ao mesmo tempo em que podem são bons, podem também ser maus. Eles brigam, traem, são injustos, são cruéis, são punidos… eles erram.
Para serem humanos só faltava morrer.
E essa é a beleza da mitologia grega, a humanidade de suas histórias.
Pelo menos, é isso o que eu acho.
Mas os mitos estavam ficando para trás, outras histórias e religiões foram surgindo. E quando um deus perde seus fiéis, ele deixa de existir.
O mesmo acontece com uma história.
É por isso que eu acho que Rick Riordan, ao escrever e publicar a série Percy Jackson, nos fez um grande favor. Ele trouxe de volta a mitologia grega. É claro que de uma maneira bem moderna e, cá entre nós, cômica. E mesmo com todas as divergências que as adaptações da ficção – é bom lembrar que é uma ficção – de Riordan têm com os originais, acho que ele fez uma jogada brilhante. Ele resgatou o antigo e transformou em algo novo.
E ele não parou na mitologia grega. A nórdica veio logo em seguida com a sua série Magnus Chase.
Então, ele nos fez mergulhar em outro universo mitológico.
Porque, francamente, a mitologia grega e a nórdica são, ao mesmo tempo, semelhantes, mas também muito diferentes.
Enquanto os mitos gregos têm toda uma árvore genealógica – loucamente montada, com pai engravidando filha, e irmã constituindo família com irmão, o que nos faz ter certeza de que os gregos antigos não tinham nenhum tipo de preconceito, e isso pode até ser legal – iniciada por Cronos e seguindo cronologicamente – desculpem o trocadilho, não foi proposital – até a criação do mundo como era conhecido na época; os mitos nórdicos começam com a interação entre água, gelo e fogo, criando assim os três mundos que seriam dominados pela árvore Yggdrasill.
Em ambas as mitologias os deuses têm contato com os seres humanos e novamente em ambas os deuses se parecem com os humanos, embora de maneiras diferentes. Enquanto os deuses gregos podem quase ser vistos como pecadores – todos têm o seu lado negativo –, os deuses nórdicos parecem ser mais exemplos do que o homem deveria ser ou não – porque até morrer eles podem.
E Riordan não deixou isso passar despercebido. Porque se tem uma coisa que ele conseguiu captar foi a humanidade dos deuses. E eu acho isso muito importante. Ele trouxe de volta essa grande característica desses mitos. Eu tenho que reconhecer o trabalho dele e dar o braço a torcer.
Enfim, esse é um assunto sobre o qual eu poderia poderia ficar tagarelando o dia todo. Mas deixo aqui para vocês a seguinte pergunta escabrosa: mitologia grega ou nórdica? A soberania de Zeus ou a magnificência de Odin? O submundo de Hades ou as trapaças do Loki?
Na verdade, o fato é que a mitologia sempre foi, é e sempre será fascinante.
Obrigada, Riordan, por nos lembrar disso.