Resenhas

Um Vento à Porta, de Madeleine L’Engle | Resenha

‘Um Vento à Porta’: mais reflexões e aventuras atemporais

O corpo humano é surpreendente, misterioso, fantástico. Há tantas células, tantos microrganismos atuando das mais variadas maneiras para que tudo funcione. Ou não. Quando há alguma coisa errada, o corpo reage, enfrenta, sucumbe. E pode afetar tudo. Inclusive, o cosmos. Como? Só embarcando na aventura de Um Vento à Porta, segundo volume da série Uma Dobra no Tempo, criada por Madeleine L’Engle e publicada aqui pela HarperCollins Brasil.

Nesse segundo volume, não apenas Charles Wallace está em perigo, como todo mundo também. O caçula da família Murry agora tem seis anos e enfrenta sérios problemas na escola, sofrendo bullying constantemente, para desespero de Meg, que espera que o diretor seja mais ativo e preste mais atenção em seu irmão. O problema é que Charles cai doente, antes mesmo que Meg possa fazer alguma coisa. Mas, como tudo o que envolve Meg, Charles e sua família, as coisas ficam mais estranhas, com Charles dizendo ver nada menos do que dragões! O que eles mal sabiam era que os “dragões” eram Proginoskes, ou melhor, querubins feitos de asas, vento e chamas. É a partir deste encontro que Meg e Calvin partem rumo a uma nova jornada para salvar Charles. E, para isso, eles terão que entrar literalmente no corpo do menino para conseguirem ajudá-lo e, acima de tudo, restaurar a harmonia do universo.

É, eu sei. Que sinopse é essa? Que história é essa? Como qualquer coisa relacionada à série Uma Dobra no Tempo, temos um prato cheio para os amantes de fantasia e ficção científica. É preciso estar com a mente aberta e com vontade de se juntar aos incríveis personagens criados pela espetacular Madeleine nessas jornadas repletas de viagens, tempos e muitas, mas muitas reflexões. Eu não chamaria este segundo volume de continuação, apesar de ter algumas referências do primeiro livro, porque são histórias completamente independentes. O que é bom e também não é. Não é porque eu, apegada como sou, senti falta de personagens de Uma Dobra no Tempo e sinceramente gostaria de um pouco mais da história do tesserato. Ao mesmo tempo, também foi bom porque Madeleine, com sua narrativa brilhante e mente revolucionária, nos apresentou novas perspectivas sobre a vida, sobre o tempo e novos personagens que contribuíram muito para as discussões geradas ao longo da leitura.

Desta vez, Meg precisou assumir as coisas, uma vez que Charles não tinha condições de participar da aventura, muito menos de ajudá-la. E foi muito interessante ver o desenvolvimento dela, agora mais independente e consequentemente mais madura e segura de si. Muito disso também devido à presença de Calvin, que consegue trazer um equilíbrio à sua impulsividade. Eu gosto muito da dinâmica dos dois e dos personagens em si. Eles se complementam de uma maneira muito sutil e gostosa de acompanhar. Mais duas figuras particularmente roubam a cena neste livro: Proginoskes e o Sr. Jenkins. O primeiro por ser uma criatura mítica, bíblica, digamos assim, seguindo a essência de Uma Dobra no Tempo. Esse, aliás, é outro ponto que me interessa bastante na obra de L’Engle, esse diálogo entre ficção e religião feito de uma forma tão natural, porém, nada doutrinador. Proginoskes nos traz alguns dos questionamentos mais profundos da obra e instiga todo o lado mais racional de Meg. E o Sr. Jenkins, por sua vez, vem para discutir o lado mais humano, mais emocional da história. É com ele que L’Engle trabalha pontos como redenção, escolhas, amizade, lealdade, preconceitos e julgamentos. O aprendizado não tem idade. O Sr. Jenkins aprendeu tanto com Meg, Calvin, Proginoskes e Charles, de certo modo, como também lhes ensinou mais do que podia imaginar.

A leitura, mais uma vez, segue tão fluida quanto a do primeiro livro, pelo menos para mim. O único problema, a meu ver, foi a linguagem. Por melhor que seja a narrativa da autora, achei a linguagem deste livro um pouco mais “travada” do que o outro. Pode ser uma impressão minha mesmo, até por este livro ter uma pegada bem mais científica, inclusive, com termos mais científicos. E também pelo fato de, como no primeiro, Madeleine desenvolver tudo muito rápido. Às vezes, essa agilidade pode tanto ajudar quanto atrapalhar. E, como a história deste particularmente não me prendeu tanto quanto a de Uma Dobra no Tempo, isso pode ter influenciado para que eu não me envolvesse completamente ou conseguisse absorver tudo com a mesma abertura. O que é indiscutível, no entanto, é a capacidade de Madeleine de pensar muito à frente do seu tempo e nos proporcionar viagens tão impactantes. O tempo, como ela mesma nos mostra, pode até ser relativo, mas a importância da sua obra, com certeza, não. Essa é irrefutável.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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