Resenhas

Deuses Americanos (HQ), de Neil Gaiman, P. Craig Russell e Scott Hampton | Resenha

HQ ou não, ‘Deuses Americanos’ chega para conquistar o leitor

Por Caroline Defanti

Quando se trata de Neil Gaiman, eu sou suspeita para falar. Nunca escondi que adoro o cara — se eu tivesse que escolher um ídolo, ele estaria entre as minhas primeiras escolhas — e nunca li uma história dele de que eu não gostasse — não gostasse para caramba, diga-se de passagem.

Eu já tinha lido o romance Deuses Americanos, de Gaiman, mas, quando fiquei sabendo que a Intrínseca iria lançar a versão HQ dessa história fenomenal, vi logo que seria uma blasfêmia não ler. E seria uma blasfêmia mesmo, porque a HQ é muito boa. Está maravilhosamente bem feita. Na verdade, eu diria que ela complementa muito bem o romance, já que este possui cenas e figuras que podem ser um pouco difíceis de imaginar e interpretar. Mas tenho que admitir que estava esperando um volume único, como o romance em si. Ou seja, eu estava preparada para segurar um calhamaço de trocentas páginas — por que o romance já é um monstro. Entretanto, quando peguei o livro, tive a surpresa de ver que ele tinha pouco mais de 250 páginas.

Em outras palavras, dividiram a história em volumes — esse primeiro se chama “Sombras”. Pessoalmente, prefiro muito mais um volume único gigante do que uma série. Mas reconheço que sou a minoria — e carregar um livrão por aí seria potencialmente mais complicado.

Então, beleza. Sem problemas.

Para quem não conhece a trama de Deuses Americanos, deixa que eu explico.

Deuses Americanos conta a história justamente daqueles aos quais o título se refere, os deuses americanos. E eles estão em todos os lugares! Eles seguem aqueles que os adoram e tiram força de suas crenças. Nesse livro, vemos uma guerra entre os deuses antigos e os novos. Não vou falar mais do que isso, porque todos os elementos são tão amarrados, que eu acabaria revelando mais do que devo.

Normalmente, leio uma HQ em menos de um dia. Mas Deuses Americanos me tomou mais de uma semana. A história tem a mesma densidade do romance e sucinta tantas reflexões quanto — e olha que eu já tinha lido o livro —, o que força o leitor a parar para pensar de vez em quando — e, muitas vezes, tentar entender a loucura que acabou de ler.

O estilo das ilustrações combinou muito bem com o tom da história. São imagens mais cruas, um tanto escuras e com toques de realismo necessário à trama. Eu curti bastante — até mesmo porque, se viesse um desenho fofinho cheio de tons pastéis, eu ficaria muito bolada. No entanto, tenho que admitir que algumas cenas que já pareciam bizarras demais no romance — só com a minha imaginação funcionando — ficaram ainda mais chocantes ilustradas, quase assustadoras.

E, cara, eu li alguns trechos desse livro em ônibus, ou seja, há uma grande chance de a pessoa sentada do meu lado ter visto as mesmas paradas estranhas que eu vi. Meu Deus, o que devem ter pensado de mim? Mas, horríveis ou não, censuráveis ou não, fazem parte da história. Então, meu amigo, olhe, admire — do jeito que puder —, interprete, respire e vire a página.

Quanto ao trabalho da editora, está simplesmente fenomenal. Não vi nenhum errinho, nenhum descuido, nada! Sem falar que o material físico em si está beirando a perfeição. Eu não apenas dou os meus parabéns à editora pelo excelente trabalho, mas também agradeço por terem trazido para os leitores brasileiros algo tão bom. Meus parabéns e muito obrigada, Intrínseca.

Sinceramente, a HQ de Deuses Americanos não apenas entrou para o meu TOP 3 das melhores adaptações literárias que já vi, como também de melhor HQ que já li. Eu realmente recomendo muito a leitura — mesmo para quem já leu o romance. Mas, se você nunca leu o livro nem viu a série e não conhece nada da história de Deuses Americanos, eu digo: prepare-se, mantenha a mente aberta e, acima de tudo, aprenda a lição que Gaiman tenta nos dar.

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