Resenhas

Artemis, de Andy Weir | Resenha

‘Artemis’: partiu Lua?

Recentemente tive a oportunidade de ler o livro Artemis, de Andy Weir — para quem não sabe, é o mesmo autor do livro Perdido em Marte, que virou filme, estrelado pelo Matt Damon etc —, publicado aqui no Brasil pela editora Arqueiro.

É uma ficção científica, então, já meio caminho andado para me agradar. Mas tenho que admitir que não foi bem o que eu queria.

A história se passa no futuro, em Artemis, que é uma cidade que fica na lua. Legal, né?

Só que não. Na boa, eu não consigo me imaginar vivendo em uma cidade na lua, especialmente diante de tudo o que eu fiquei sabendo depois de ler esse livro. Melhor ficar aqui na Terra.

Mas, enfim, a história é protagonizada por Jasmine Bashara — para os íntimos, Jazz —, que está mais para uma vilã do que para heroína. Ela é uma contrabandista — mas acho que podemos dizer que ela é uma contrabandista consciente e “do bem”.

Entretanto, as coisas mudam quando Jazz recebe uma proposta irrecusável, mas potencialmente problemática e que pode dar muito, muito errado.

E acaba dando mesmo, é claro. Se não, a história não teria a menor graça.

Bom, antes de mais nada, eu dou os meus parabéns ao autor pela forma como ele montou o universo de Artemis, porque tudo parece ter sido muito bem feito e eu não consegui encontrar nenhuma ponta solta — tudo parece fazer bastante sentido, desde a questão gravitacional até a construção da cidade em si. Não sou entendedora profunda de assuntos espaciais, mas me convenceu.

O que não me convenceu muito foi a construção da própria Jazz, que, para mim, é uma grande contradição. Desde o início, fica estabelecido que Jazz chega perto da perfeição. Ela é bonita, charmosa, tem pensamento rápido e meio que é um gênio, consegue bolar planos mirabolantes e soluções geniais de repente. Mas, para todos os efeitos, é uma fracassada financeiramente frustrada. Ela conseguiu bolar um plano para tapear a maior empresa da cidade, mas não conseguiu pensar em uma forma de crescer em uma cidade minúscula? Estranho.

Para mim, essa contradição na Jazz funcionou como uma falha na história, que me incomodou ao longo da narrativa inteira — afinal, ela é a protagonista e, inclusive, é a narradora. Então, tudo gira em torno dela. Ela devia ser impecavelmente construída.

Entretanto, quanto aos outros personagens, não tenho absolutamente nada para reclamar. Inclusive, gostei da maioria deles e adoraria saber mais sobre eles — o passado do multimilionário Trond tem potencial para ser bem mais interessante do que a vida inteira da própria Jazz; a história de Rudy, o único policial de toda Artemis, também parece ter sido bem emocionante.

Por outro lado, achei a construção dos diálogos excelente. As falas são muito naturais e eu consegui facilmente imaginar pessoas de verdade falando — sem contar que são diálogos muito descontraídos e engraçados, na maioria das vezes. Gostei também da trama montada. Ela tem um início, um meio e um fim muito bem estabelecidos e, ao mesmo tempo, dá a devida atenção ao passado da protagonista — terminamos de ler sabendo muito bem quem é a Jazz, por mais contraditória que ela seja. Mas a trama se torna absurdamente cansativa porque o autor descreve muito longamente certos momentos, que poderiam ocupar apenas um ou dois parágrafos — isso, inclusive, me fazia parar de ler e ficar bem desanimada em voltar a pegar o livro, o que me fez demorar muito para terminar.

Depois de pensar um pouco, contudo, cheguei à conclusão de que esse livro, assim como o Perdido em Marte, poderia dar um ótimo filme — o excesso de narrativa técnica seria substituído por imagens e sons, o que seria bem menos cansativo. Quanto ao trabalho da editora, não tenho nada a reclamar. A capa está condizente com a história e com o gênero do livro. A diagramação está boa e a revisão também. A Arqueiro fez um bom trabalho.

Apesar de não ter atendido a todas as minhas expectativas, não posso dizer que não aproveitei a leitura de Artemis. E quem sabe não recebemos a notícia de um novo filme baseado em um livro de Andy Weir?

2 Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *