Entrevistas

Live Arqueiro: A.J. Finn

Perdeu a live com A.J. Finn? Veja aqui um resumo dos principais tópicos

Reprodução Instagram

 

Um autor extremamente simpático e alheio a algumas questões tecnológicas, uma cadelinha da raça buldogue francês que roubou a cena e respostas claras e bastante sinceras. Esse foi o tom da live com A.J. Finn, autor do sucesso A Mulher na Janela, publicado pela Arqueiro, no Instagram da editora. O papo com Finn foi o terceiro da série com escritores internacionais, que teve início com Harlan Coben, seguido por Julia Quinn.

Perdeu a live? Não se preocupe que a gente separou aqui os principais tópicos abordados pelo autor:

Identificação com a história e Hitchcock

Ainda que esteja, como todos, em quarentena dentro de casa, Finn até confessou não ter saído muito de sua rotina, uma vez que já passava boa parte do tempo em casa trabalhando e também porque, segundo ele, tanto a piscina quanto a academia são dentro do seu prédio. No entanto, ele afirmou ter encontrado algo positivo em meio a essa situação trágica pela qual o mundo está passando, no sentido de ter conseguido se reconectar com algumas pessoas com as quais não falava há muito tempo.

Ainda assim, o autor confirmou que construir a história da sua protagonista de A Mulher na Janela, que sofre de agorafobia – transtorno no qual as pessoas não conseguem sair de casa e causa medo de lugares e situações que possam causar pânico, impotência ou constrangimento  -, foi algo intensamente pessoal. E confirmou a referência à obra do cineasta Alfred Hitchcock, especialmente o filme Janela Indiscreta.

“Antes de eu começar a escrever esse livro fui diagnosticado com transtorno bipolar e eu sempre achei que tinha depressão”, explicou. “Passei 15 anos tendo mudanças de humor. Depois do meu diagnóstico tirei uma licença e estava me ajustando à medicação e olhei pela janela e vi a vizinha de roupão, em casa, meio descabelada, vendo televisão. Pensei que eu conseguiria me identificar com ela e que seria um desafio construir uma história toda dentro de casa. Tive essa epifania quando vi a vizinha. Então, a diferença entre A Mulher na Janela e Janela Indiscreta é que o protagonista do filme não pode sair da janela porque está com as pernas quebradas. Já no caso da Anna Fox (protagonista de A Mulher na Janela), é a mente dela que está quebrada. O que torna tudo ainda mais difícil, quando é a sua mente que está com problemas”.

Sua relação pessoal com a história foi tanta que ele mesmo confessou não ter sido uma escrita tão prazerosa assim, mas que ele precisava se sentir envolvido para conseguir colocá-la no papel.

“Foi tudo muito intenso, na verdade”, disse. “Eu não me diverti escrevendo, nesse sentido, porque, em parte, me lembrou da minha própria experiência. E eu via que a Anna iria tomar decisões com as quais eu não concordava e ficava nervoso. Como eu disse, escrevi esta história logo depois do meu diagnóstico. Eu sempre estivesse envolvido com livros, mas nunca tive uma história que eu quisesse, de fato, escrever. Eu sei que as pessoas gostam das histórias que são orgânicas. Então, eu queria algo que tivesse a ver comigo e tive a ideia quando vi a vizinha”.

Desigualdade de gênero

Ao ser perguntado sobre a experiência e possíveis desafios em desenvolver uma personagem feminina forte e construir uma narrativa em primeira pessoa através do seu ponto de vista, mesmo sendo um homem, Finn apontou que, para ele, não há uma diferença tão grande entre os pontos de vista masculino e feminino. No entanto, ele ressaltou que as mulheres precisam lidar com um número maior de obstáculos (aliviando a expressão utilizada pelo escritor) em comparação aos homens. Tanto que ele reconheceu que a própria protagonista provavelmente foi mais questionada por ser mulher.

“Essa é uma resposta um pouco controversa, porque realmente não acho que haja uma diferença tão grande entre os pontos de vista”, afirmou. “Mas eu vejo que há as mulheres enfrentam mais coisas. Eu gosto das protagonistas femininas porque elas são mais fortes. Eu respondo aos personagens como pessoas, não apenas como homens ou mulheres. Independe de gênero. Porém, ao longo do livro, todo mundo duvida da Anna. Inclusive a polícia. Eu acho que não duvidariam se ela fosse um homem”.

Editor x escritor

Antes de se tornar escritor, Finn trabalhou durante anos como editor. Por isso mesmo, ele indicou, teve mais facilidades com algumas etapas do processo do seu próprio livro.

“Quando eu era editor, editei o livro do filho de um outro autor, e ele dizia que não havia problema nenhum nisso, que o pai dele não o ajudava”, lembrou. “Mas claro que ajudava. Eu não podia contar com essa ajuda. Meus pais não são famosos, mas eu, sendo editor, conseguia identificar problemas no meu livro bem antes de terminar, enquanto eu escrevia, e conseguia consertar antes de entregar. Minha experiência também se mostrou mais útil após o livro ser publicado porque eu sabia falar com os livreiros, por exemplo”.

Contudo, o fato de, além de autor, ser também um editor poderia lhe trazer outros problemas. Por isso mesmo, ele preferiu escrever sob um pseudônimo para evitar certos desgastes.

“Uma das razões para eu ter escolhido um pseudônimo foi justamente lembrar do filho daquele autor que eu editei”, ressaltou. “Como eu era editor, não queria que isso interferisse, queria que o livro falasse por si só. Que fosse contratado por mérito do próprio livro, não meu por ser editor. E, como eu ainda era editor quando o livro foi lançado, não queria o meu nome saindo em todos os lugares porque eu sou muito reservado. E, talvez, porque outros autores poderiam ficar chateados por eu ser editor. Então, um pseudônimo foi melhor”.

Adaptação cinematográfica

Além do sucesso de vendas (e também por causa disso), com a obra tendo mais de 40 traduções e 95 mil exemplares vendidos, apenas no Brasil, não demorou muito para que os direitos do livro fossem comprados para o cinema. Mas a compra da Fox (responsável pela adaptação cinematográfica do livro) pela Disney causou certa apreensão em Finn, que contou não ter participado nem como roteirista nem como consultor. Todas as preocupações, todavia, foram embora após o escritor ter assistido ao trailer da produção, ele garantiu.

“Eu fiquei muito feliz com o trailer”, afirmou. “Estava preocupado porque a Disney comprou a Fox, que fez o filme, e geralmente eles não fazem filmes tão adultos, mas o trailer ficou forte. Eu fiquei muito feliz e satisfeito. Os executivos da Fox foram muito gentis comigo, mas eu não me envolvi, não escrevi o roteiro, não dei consultoria. Eu visitei o set, conversei com o diretor do filme e com a Amy Adams (atriz que interpreta a protagonista). A experiência foi incrível. Ainda não tem data de estreia por causa da pandemia, mas espero que seja esse ano”.

Reprodução Instagram

Dicas

Para aqueles que desejam se tornar escritores(as), Finn deu três dicas muito importantes:

“A primeira e mais importante dica que eu posso dar é ler o quanto você puder”, apontou. “Porque lendo você absorve novas ideias, encontra novas vozes e aprende novas técnicas. Tentar escrever sem ser leitor é a mesma coisa que tentar ser um pintor sem desenhar. A segunda é escreva o que você quer escrever, mas lembre-se do que o mercado gosta, entenda o que o mercado quer, o que é vendável. E a última dica é que escrever, para mim, é algo difícil. Não se cobre demais. Fique tranquilo(a). Nem sempre escrever é divertido. É complexo. Às vezes, passo o dia escrevendo e não sai como eu queria”.

Brasil

De sua visita ao Brasil, Finn só traz boas recordações. E momentos inusitados, que só os leitores brasileiros são capazes de criar.

“Eu amei visitar o Brasil!”, recordou. “Nos Estados Unidos, quando participamos de eventos literários, é tudo muito simples. Você entra no hotel, faz o evento e vai embora. Não tem um tempo pra você. Quando eu visitei São Paulo, fui a um restaurante incrível. Fiquei muito feliz porque não estava preso em um hotel. Eu adorei tudo. Participar do evento, conhecer todo mundo. Fiz um amigo, o escritor Victor Bonini (da Faro Editorial). Tinha muita gente na fila dos autógrafos. Além de eu ganhar doce de leite de um monte de gente, me disseram duas vezes na fila que eu tinham um bumbum bonito (risos). Então, eu realmente adorei”.

Pandemia e indústria literária

Finn também garantiu que a pandemia não irá influenciar seus planos, como a conclusão do segundo livro no qual já está trabalhando. Muito menos servirá de inspiração direta para qualquer história, justamente por suas histórias não serem datadas.

“A pandemia não chega a me influenciar por duas razões: eu terminei de organizar o meu segundo livro em 2017. E, ainda assim, não influenciaria porque, do mesmo jeito que A Mulher na Janela, não há um tempo específico. Pode acontecer em qualquer tempo. Não há uma data definida na qual se passa a história”.

Agora, sobre o impacto da pandemia na indústria literária, Finn foi taxativo ao exaltar a importância dos livros sobre a nossa saúde mental.

“Eu estava lendo sobre a indústria literária nos EUA e as editoras estavam aplicando para ajuda financeira para o governo”, explicou. “E eles estavam negando porque não achavam que o livro era essencial. Ok, claro que não é essencial se compararmos a máscaras e luvas, mas, em termos de aliviar o estresse mental, dar um escapada e aumentar a autoestima, sim, o livro é essencial. Da minha parte, quando eu quero escapar, eu começo a ler livros de fantasia, por exemplo, algo muito diferente do que eu leria. Eu gosto de ir a mundos onde a vida é mais fácil, mais organizada. Eu preciso de ordem e os livros me trazem isso.

Ele ainda declarou que espera que esse momento consiga fazer as pessoas terem uma noção maior de empatia.

“Coletivamente, eu espero que isso traga mais empatia, que é um dos temas de A Mulher na Janela, entender o posicionamento do outro”, defendeu. “Embora eu não seja tão bom em algumas coisas, sou bom em empatia. Espero que pessoas de diferentes classes sociais, idades, consigam entender que compartilhamos a mesma experiência, que estamos juntas nesse sentido. Mais empatia com quem não tem privilégio”.

Novo livro

Sobre o seu novo trabalho, Finn adiantou algumas novidades, inclusive, que o livro já está quase pronto. De acordo com ele, o processo com a segunda obra foi bem diferente, inclusive no que diz respeito à disciplina.

“Com o primeiro livro, eu era muito disciplinado”, concluiu. “Escrevia umas quatro horas por dia, e eu ainda trabalhava. Mas esse segundo livro que estou escrevendo agora está sendo mais desafiador porque o meu primeiro foi um sucesso, teve filme. Esse eu não consegui escrever com tanta regularidade. E meu cachorro também é uma distração agora. Não to conseguindo ter essa disciplina nesse livro. O segundo livro é bem mais elaborado, os personagens saem de casa, o que é algo novo, e é mais ambicioso. É um thriller psicológico passado em São Francisco e tem influência de histórias clássicas de detetive, como a Agatha Christie. Mas estou muito feliz de dizer para os editores que já está quase pronto”.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *