FLIPOP 2020: Resumão do segundo dia
Aqui está o segundo dia da FLIPOP 2020! As três mesas trouxeram temas muito pertinentes, necessários e interessantes. E você encontra aquele resumão bonito para se atualizar.
Mesa #1 – (In)Visibilidade Brasileira
A primeira mesa do segundo dia trata de uma das maiores características do nosso país: a diversidade étnica. Com mediação de Mayra Sigwalt, ela contou com Julie Dorrico, autora indígena macuxi, Leo Hwan, incentivador da cultura asiática no youtube, e Sérgio Motta, autor e escritor sobre arte, cultura, literatura e afrocentricidade.
No início, a primeira questão trabalhada focou-se no reconhecimento do momento em que os participantes perceberam que a vivência deles não correspondia com o imaginário brasileiro, lembrando a questão do Natal Branco – importado dos EUA e Europa – no Brasil. Leo Hwan, com ascendência taiwanesa, destacou que para ele “você sabe a sua vida inteira só não racionaliza” e, para mudar isso em sua vida, ele começou a produzir conteúdo audiovisual sobre a cultura amarela. A partir desta pergunta, Julie lembrou sobre a pobreza que é reduzir todas as nações indígenas do país ao termo “índio”, uma reflexão muito importante que em sua vida inteira a encaixou num estereótipo sem escape.
Para além do estereótipo, ela destaca a cultura do esquecimento do povo brasileiro, que estranha quando encontra-se com aspectos culturais indígenas no cotidiano. E eles ressaltam a construção de uma realidade totalmente a parte da sua, criada nas novelas e em diversas mídias, com personagens também estereotipados ou completamente ausentes nas tramas.
“O clássico é aquilo que sobrevive ao tempo. Então, é importante ler os clássicos negros porque a literatura negra é sobrevivência.” – Sérgio Motta
Leo Hwan lembra a questão da hierarquia de direitos e a sensação de pertencimento entre os grupos, comparando principalmente o seu, amarelos, a outros. Por outro lado, Julie aponta sobre a diferença entre as subjetividades dos indígenas e negros, mais ligados à solidariedade e à natureza, e os brancos,”econômicos na subjetividade”.
“A gente não pode mudar a história, mas a gente pode mudar a crítica”. – Julie Dorrico
Mesa # 2 – Saberes e Resistências Compartilhados
A segunda mesa do dia inicia com uma pergunta muito impactante da mediadora Andreza Delgado: o que é o saber? Após a apresentação da Elizandra Souza, idealizadora da página @literaturanegrafeminina, do Mateus Santana, criador da Bienal da Quebrada, e da Winnie Bueno, , a valorização do conhecimento via oralidade foi trazida à tona. Além disso, Mateus destacou a importância de se ouvir os mais velhos e os mais novos para adquirir novos conhecimentos e de sempre estar atento às novas tecnologias, fontes de saber. Winnie acrescentou a importância do espaço religioso a construção de conhecimento e ressalta o poder da oralidade.
“A gente é uma multiplicidade de saberes” – Winnie Bueno
Eles falaram ainda sobre seus projetos de resistência, lutando contra a dificuldade de acesso ao livro. Mateus Santana destaca a intenção por trás das suas Bienais: causar incômodos necessários. E relembra a falta de diversidade no mercado editorial, motivação para a criação das Bienais.
Mesa #3 – Terrores e Distopias
No que diz respeito ao gênero terror, é bastante comum que nossas referências sejam estrangeiras. Na última mesa do segundo dia da FLIPOP 2020, Natalia Borges Polesso, Raphael Montes, Alec Silva, com mediação de Beatriz D’Oliveira, discutem sobre a adaptação das histórias de terror para um cenário e uma realidade brasileira.
A Natalia, por exemplo, explicou a importância de trocar a nomenclatura dos seus morto-vivos, não chamando-os de zumbis e, sim, de corpos secos. Raphael lembrou como é legal encontrar pessoas e elas contarem como são impactadas pelos símbolos de seus livros na vida real.
E, é claro, a pandemia não podia deixar de ser lembrada numa mesa que trata de distopia, avaliando sobre o preparo de escritores e leitores de terror para lidar com um período como esse.