Crônicas de Pai, de Leo Aversa | Resenha
Pai. Bastou ver a palavra de três letras estampada na capa da publicação para que meus olhos imediatamente se fixassem na obra. Crônicas de Pai, de Leo Aversa, é um livro de beleza única. Um projeto gráfico caprichado da Intrínseca. Um maravilhoso presente de Dia dos Pais, que fisga no visual e arrebata nos textos.
Ser pai. Há quase dois anos esta é a razão da minha vida. Um amor incondicional. Devoção. Mas, afinal, qual o sentido da paternidade?
No início de 2020, mal tive tempo de me acostumar com a minha nova função de pai quando veio a pandemia e tumultuou tudo o que já estava bagunçado. O distanciamento social isolou as pessoas. Sem rede de apoio, o trabalho (home office), a rotina da casa e os cuidados com o bebê absorveram a mim e a Ju, minha esposa, por completo. Não teve respiro.
Nunca me senti culpado por não conseguir fazer tudo conforme o recomendado. Até porque, sempre soube que teoria e prática são coisas bem distintas. Além disso, não acredito em manuais. Acertei, errei, vida que segue! Mas, confesso, senti falta de trocar experiências, de observar outros pais, desabafar. Me senti isolado e sozinho.
No meio desta tormenta, apesar de tudo, fui privilegiado por poder acompanhar intensamente os quase dois primeiros anos do meu filho. Apesar de incrível, a oportunidade mais parecia um fardo. O confinamento e as dificuldades me fizeram deixar de lado a beleza de alguns momentos do cotidiano. Só enxergava o peso da paternidade. A exaustão.
Ao me deparar com Crônicas de Pai, me senti, de certa forma, atraído pela obra. Talvez pela proximidade do Dia dos Pais – que me deixou mais suscetível a reflexões sobre o tema – ou porque inconscientemente precisava resgatar aquele alento que apenas os filhos proporcionam. A sensação deliciosa que surge em meio às dificuldades do dia a dia e que faz tudo valer a pena.
A obra reúne diversas crônicas escritas por Leo Aversa que refletem sobre as dores e as alegrias da paternidade. O livro traz algumas das melhores histórias publicadas n’O Globo, onde é colunista, e outras inéditas. Crônicas de Pai é um retrato comovente e engraçado das situações corriqueiras entre pai e filho, que, muitas vezes, passam despercebidas. Fala de amor, cuidado, gerações, tempo.
Não conhecia o trabalho do Leo Aversa. Foi uma grata surpresa me deparar com os seus textos. Uma crônica. Depois outra. Fui levado pela beleza da sua escrita e pelas reflexões que o autor proporciona. Se não fosse pai, com as minhas inúmeras atribuições, leria o livro em uma tacada só. É uma leitura com a qual você simplesmente não sente o tempo passar. O lado bom é que pude me deliciar durante os dias que antecederam o Dia dos Pais e isso, de alguma forma, tornou a minha semana mais especial.
O texto é tocante. Impossível não esboçar um sorriso, se emocionar, se identificar. Você reflete não só sobre ser pai, mas também ser filho e sobre a vida. É o aprendizado de situações que ainda estão por vir e de recuperar aqueles momentos especiais que passaram batidos.
A paternidade é complexa, única. Cada um tem seus anseios, dificuldades, trajetórias. Ainda não passei por boa parte das etapas que o Leo Aversa retrata no livro. Entretanto, o aprendizado, o amor e o cuidado sempre vão estar presentes e ressignificando a vida de cada pai.
Além das experiências, reflexões e risos, o livro ainda me proporcionou a volta da experiência com o jornal – algo que há tempos não acontecia (porém, agora, na versão digital). Também despertou o meu interesse por crônicas, gênero que, até então, eu nunca havia dado oportunidade e que me conquistou.
Entretanto, o maior legado de Crônicas de Pai foi o de resgatar, mesmo no caos da pandemia, a importância de valorizar cada momento. Tudo o que construí com o meu filho. A trajetória, as conquistas, os tropeços e as dificuldades. Afinal, o tempo não para, ele está crescendo. Em breve, outros desafios e realizações virão. E, então, tudo se tornará lembranças.
Título: Crônicas de Pai | Autor: Leo Aversa | Editora: Intrínseca | Páginas: 352
Um comentário
Honorinda G. Souza
Belíssimo e verdadeiro texto de hoje no Jornal O Globo. Verdadeiro reconhecimento como o mais nobre dos sentimentos. !!!! Parabéns Leo