Água Fresca Para as Flores, de Valérie Perrin | Resenha
‘Água Fresca Para as Flores’: uma trama bela que conforta
A edição 040 do Intrínsecos percorre os corredores do cemitério para contar a história de uma mulher marcada pela solidão. Escrita por Valérie Perrin, Água Fresca Para as Flores é uma daquelas leituras que nos transformam. Uma história que não fala apenas da morte, mas de renascimento. Uma trama que consegue ser pesada e leve. Triste e alegre. Uma mistura de sensações que arrebata o leitor já nas primeiras páginas.
Sinopse ‘Água Fresca Para as Flores’
Violette Toussaint é uma zeladora de cemitério em um vilarejo da Borgonha. Todos os dias, ela recebe aqueles que vão prestar homenagens aos entes queridos. A sua casa funciona como um abrigo para troca de confidências e compartilhamento de memórias. Lá, risos e lágrimas se misturam a xícaras de café ou taças de vinho. Mas, afinal, quem é esta mulher? Como ela foi parar no cemitério?
Com quase cinquenta anos, Violette coleciona fantasmas. Marcada pelo abandono e por feridas profundas, ela encontra conforto no cuidado do jardim e dos túmulos. Contudo, a sua rotina é interrompida com a chegada de Julien Seul. Um homem intrigado pelo desejo da mãe para que as suas cinzas fiquem no túmulo de um desconhecido. Enquanto a zeladora desvenda o inusitado pedido da mãe de Julien, ela acaba desenterrando sentimentos há muito esquecidos.
Imersivo
Água Fresca Para as Flores é um daqueles livros que cativam logo nas primeiras páginas. O texto é de uma sensibilidade que transborda pelas palavras. É uma experiência bastante imersiva e tocante. A identificação com Violette também é instantânea. Afinal, de imediato, já ficamos completamente envolvidos pelos seus conflitos e segredos. Tudo é muito envolvente.
Histórias paralelas
No decorrer da leitura, mesclando presente e passado, o leitor acompanha a trajetória de Violette, à medida que desvenda esta mulher. Inseridas à trama principal, Valérie Perrin também narra as histórias de outros mortos do cemitério. E, com isso, a autora consegue trabalhar o luto de uma forma mais completa, além de emocionar o leitor.
Às vezes, é preciso parar e respirar
O livro aborda um tema delicado: a morte. Algo irreversível, que foge da nossa compreensão, do nosso controle. Não dá para dimensionar o vazio causado pela perda de um ente querido. Cada pessoa lida de um jeito, num determinado tempo. Nem sempre dá para superar, mas é preciso seguir em frente.
A autora constrói uma bela narrativa. Entretanto, por abordar um tema sensível, Água Fresca Para as Flores tem passagens bem pesadas. Chorei. Fiquei mal. Precisei parar a leitura por dois dias. Mas, apesar disso, o livro trabalha muito bem o luto e nos conforta. Assim, me dei um tempo. Respirei. Segui em frente.
A dor da tragédia é superada pela própria narrativa, que nos enche de vida. Nos mínimos detalhes, prazeres, nas coisas simples. Na beleza de um lindo jardim.
Leitura necessária
Água Fresca Para as Flores não é apenas uma narrativa em que acompanhamos os personagens e as suas ações. É uma obra que mexe com o leitor. Tem gatilhos, provoca incômodos, mas também gera reflexões, conforto. Talvez, você não consiga ler agora. Entretanto, o livro é uma daquelas histórias que, em algum momento, precisam ser lidas.
Título: Água Fresca Para as Flores | Autora: Valérie Perrin | Editora: Intrínseca | Tradutora: Carolina Selvatici | Páginas: 480