Jogador Nᵒ 01, de Ernest Cline | Resenha
‘Jogador Nᵒ 01′: uma realidade que desafia a outra
Depois de mais de dez anos desde o lançamento, eu finalmente tomei vergonha na cara e li Jogador Nᵒ 01, de Ernest Cline, publicado — pelo menos, a edição mais recente — pela editora Intrínseca.
Desde sempre, ouço praticamente todo mundo que leu esse bendito livro falando muito bem dele, favoritando no Skoob — as pessoas ainda usam Skoob ou sou só eu? — e me dizendo para ler, porque eu, com certeza, iria gostar.
E estavam todos certos, pois eu adorei.
Sinopse ‘Jogador Nᵒ 01′
Jogador Nᵒ 01 é narrado em primeira pessoa pelo protagonista Wade Watts, que vive no ano de 2045, quando o mundo está uma bela porcaria, porque nós somos muito bons em estragar tudo. Por isso, a maioria das pessoas prefere viver em realidade virtual, através do jogo OASIS, criado pelo excêntrico gênio dos jogos James Halliday.
Mas, de repente, Halliday parte dessa para melhor e, como não tem nenhum herdeiro, ele deixa uma competição, cujo vencedor herdará todo o seu gigantesco império e o controle total do OASIS. Essa competição fica conhecida como Caçada ao Easter Egg de Halliday — para os íntimos, apenas Caçada.
E a história gira em torno do Wade — e eu diria que do seu avatar no OASIS, Parzival — tentando vencer o desafio e também sobreviver ao processo — porque ele passa por uns perrengues brabos.
Livro X Filme
Acho que vale comentar que, se você quer ler o livro para assistir ao filme depois ou vice-versa, sugiro que vá com a mente aberta. Os dois são completamente diferentes. Pessoalmente, achei ambos muitos bons, apesar de muita gente não gostar do filme.
O protagonista
Na verdade, como eu vi muita gente falando bem do livro e dizendo que eu ia gostar, quando comecei a ler, já tinha muitas expectativas. Mas esperava ver uma história focada apenas na Caçada propriamente. Entretanto, fiquei bem mexida com a solidão que o Wade parece sofrer durante quase toda a trama e o quanto ele quer a atenção e o amor de alguém. Achei essa característica muito bem trabalhada e, principalmente, muito bem separada, porque dá para notar a diferença entre o Wade fora do OASIS e o Wade como Parzival. É quase como se fossem dois personagens muito diferentes.
É incrível como Cline desenvolveu de maneira brilhante este aspecto. Eu diria que me prendeu muito mais do que a jornada do Wade para tentar vencer o desafio do Halliday. Na verdade, acho que esse é o maior foco da história, mesmo porque, até no OASIS, como Parzival, ele está quase sempre desvendando, errando e resolvendo tudo sozinho. Por isso, não consigo deixar de achar que a Caçada é nada mais do que um pano de fundo que, mesmo dando ao Wade um objetivo, também acentua ainda mais essa solidão. Inclusive, porque é só quando ele encontra um amigo pessoalmente que essa solidão diminui.
Sinceramente, achei bem difícil não me colocar um pouco no lugar do Wade e compartilhar desse sentimento. Acho que todo mundo já se sentiu sozinho assim em algum momento. Por vezes, quando eu pausava a leitura, estava com muita vontade de ficar perto de alguém.
Uma leitura divertida
No entanto, eu estaria mentindo se dissesse que não me diverti com a leitura. Mesmo achando que Jogador Nᵒ 01 traz uma grande crítica, e até um grande medo. Não esperava por isso quando comecei a ler.
Gostei muito, mas é o tipo de livro que não pretendo reler. Contudo, recomendo muito a leitura. Acho que, para quem curte jogos e, principalmente, coisas dos anos 80 e 90, vai gostar bastante.
Livro físico
Quanto ao material, não tenho nada do que reclamar da edição da Intrínseca. Na verdade, quero elogiar a capa, que não está apenas muito bonita, mas conversa muito bem com a história.
Vida virtual
Considerando como a tecnologia e as interações sociais estão caminhando no mundo real — aquele em que vivemos, fora de uma tela —, a possibilidade de ter uma vida virtual está se tornando cada vez mais plausível, o que eu acho bem assustador.
Por isso, nesta conclusão da resenha de Jogador Nᵒ 01, eu quero te convidar a sair um pouco de perto da tela do seu celular, tablet, computador — e o que quer que você esteja usando para ler esta resenha — e dar uma olhada no céu, nas pessoas ao seu redor. Dê um suspiro bem profundo, abrace alguém e perceba que nenhuma realidade virtual consegue superar qualquer uma dessas sensações.
Título: Jogador Nᵒ 01 | Autor: Ernest Cline | Editora: Intrínseca | Tradutor: Giu Alonso | Páginas: 432