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O Espadachim de Carvão, de Affonso Solano|Resenha

O Espadachim de Carvão: o criativo universo criado por Affonso Solano

Admito que eu não tinha grandes expectativas para O Espadachim de Carvão, do brasileiro e multi talentoso Affonso Solano, publicado aqui no Brasil sob o selo Fantasy, que pertence à editora LeYa. Na verdade, eu já havia me interessado pela sinopse dele, desde a primeira vez que o havia visto em uma livraria, pouco tempo depois que foi lançado. Mas, francamente, eu desanimava sempre que via o quanto era fino – um erro, eu sei, que eu mesma já condenei em alguma de minhas resenhas anteriores.

O ditado diz: nunca julgue um livro pela capa.

Pessoalmente, acho que o mais correto seria: não julgue um livro de maneira nenhuma. Atéque o tenha lido, pelo menos.

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E eu estava mesmo equivocada ao julgar O Espadachim de Carvão pela sua pouca quantidade de páginas. Admito o meu erro.

O livro se tornou uma das melhores fantasias que li esse ano! Solano consegue fazer o que todo escritor precisa se esforçar muito para conseguir: dizer muito com pouco.

Em suas 256 páginas – um número que eu considero irrisório -, o autor conseguiu fazer a proeza de retratar um mundo completamente diferente, com suas próprias leis, seus próprios habitantes e deuses, conseguiu criar um protagonista e herói coerente, bem como um bom vilão – esse título não é o mais apropriado, eu diria que está mais para um inimigo do protagonista, mas não um vilão em si – e ainda conseguiu tecer uma trama assustadoramente rica e envolvente.

Gostei da surpresa.

A história possui seu próprio tempo, de forma que não se pode situar seus acontecimentos na nossa história, no mundo real.

A trama gira em torno de Adapak, uma criatura única e desconhecida, peculiar por causa, principalmente, de seus olhos brancos e sua pele cor de carvão. Conhecedor de uma rara e antiga técnica de luta que o torna um espadachim quase invencível, Adapak tem tudo o que um herói precisa para arrasar. Mas ele esconde muitos segredos, e  alguns são mistérios até mesmo para ele, como: por que há criaturas hostis e perigosas tentando matá-lo tão incessantemente?

Essa é a pergunta que atormenta o espadachim de carvão durante toda a história, enquanto foge de seus perseguidores, pulando de cidade em cidade, enfrentando diversos perigos, vivendo aventuras e aprendendo que o mundo do lado de fora da caverna onde havia crescido é bem diferente do que ele pensava.

Mas, não se preocupem, a resposta é dada no final do livro, com todos os louvores, com toda a glória digna de um grand finale.

Ao longo de toda a história temos muitas digressões, todas por parte do protagonista, que parece repassar muitas de suas lembranças. E esse jogo de idas e vindas pela memória do Adapak é justamente o que ajuda na compreensão da trama. Solano trabalhou bem esse recurso temporal. Eu gostei.

Mas o que me fascinou nesse livro foi justamente a grandeza desse universo criado por Solano, a apresentação de uma história completa – ou seja, com início, meio e fim – e a sua incrível capacidade de fazer tudo, coerentemente, em menos de 300 páginas e ainda fazer com que eu me sentisse satisfeita com o que havia lido.

O cara ganhou o meu respeito.

Minha preocupação durante a leitura foi apenas o fato de que foi muita informação em um espaço muito curto – praticamente nada do que acontecia era dispensável, o que não é ruim, mas não dá ao leitor um tempo para ele simplesmente ler sem ter que se preocupar em ligar os pontinhos da história. Eu tinha a história em si – com todos os seus mistérios e a problemática apresentada – e tinha esse universo desconhecido – com deuses, histórias, cidades, cenários e criaturas saídas da cabeça do autor  – diante de meus olhos nas poucas páginas do livro. Então, você, que pretende ler O Espadachim de Carvão, fique atento à história e à descrição do universo de Kurgala, porque tudo sempre se volta para isso.

Eu só tenho uma questão a levantar. Não é uma reclamação, só uma característica física que observei na diagramação do livro que me deixou curiosa e à qual eu, francamente, não entendi o motivo. Acontece que, em determinados momentos, quando termina um parágrafo, antes de começar o outro, há um espaço entre eles, como se faz quando se muda o foco narrativo ou o ponto de vista, normalmente. Mas eu não consegui observar nada disso em alguns casos. Mas, apesar de ser um pouco estranho, isso não atrapalhou em absolutamente em nada a leitura. Então, não se estressem e não deixem de ler o livro por isso, pelo amor de Deus.

Quanto ao trabalho da editora, tudo o que posso fazer é dar os meus parabéns. O livro está, de fato, muito bem feito. Mas isso não é novidade. Afinal, de uma editora competente como a Leya – o livro foi publicado sob o selo Fantasy, que pertence à Leya -, não se espera menos do que um ótimo trabalho. A capa está muito bonita, coerente com a história e com um bom jogo de cores – gostei do uso predominante do verde -, sem falar das letras que compõem o nome do livro – são grandes, brancas e com um risco no meio, como se tivessem sido cortadas pelo golpe de uma lâmina.

Muito coerente e criativo. Gostei.

A diagramação está boa para a leitura – apesar da peculiaridade que apontei acima, mas que em nada impede ou atrapalha enquanto se está lendo. E eu preciso atentar para os desenhos colocados no início da página, a cada mudança de capítulo. Eu achei isso tão, tão bonito, que até tirei uma foto!

A editora Leya está de parabéns. Mais um trabalho muito bem feito. Como de costume.

O livro O Espadachim de Carvão, até onde sei, é o primeiro volume de uma trilogia – o segundo volume já foi lançado e, de minha parte, já foi adquirido. Sendo assim, tudo o que tenho a declarar é: mal posso esperar para ler os demais!

Recomendo fervorosamente a leitura!

4 Comentários

  • Bruno Cunha

    Olá Caroline!

    Gostei muito da sua resenha. Foi como uma viagem de volta ao mundo de Kurgala… 🙂

    Quando ler o próximo, escreva a resenha por aqui que voltarei novamente.

    OBS: Também estou acostumado a ler livros com mais de quinhentas páginas e me frustrei quando vi a quantidade das dos livros do Solano. A frustração é momentânea. Basta começar a ler que logo notamos a excelente história de aventura de Adapack pelos mistérios de Kurgala.

    Abs!
    Bruno Cunha

    • Caroline Defanti

      Oi, Bruno! Obrigada pelo comentário. Fico feliz que tenha gostado da resenha.

      O mundo de Kurgala é realmente fascinante, não é? Rsrs A forma como Solano conduziu a trama é magistral. E o segundo livro é uma promessa e tanto!

      Beijinhos!
      Carol

  • Daniel

    Me admira esse preconceito com o número de páginas de um livro. Você não deve gostar muito de contos hehehe
    Eu mesmo acabo de lançar um livro com apenas 46 páginas. É uma história curta, que leva apenas alguns dias, então não precisava encher quilos de linguiça (e olha que o KDP paga por página lida).
    Convido a conferir Natureza Humana – http://www.amazon.com.br/dp/B016CODXXI
    Abraço!

    • Caroline Defanti

      Olá, Daniel! Obrigada pelo comentário!

      Me desculpe se dei a impressão de que não gosto de livros com poucas páginas ou contos – tenho vários livros de contos e, inclusive, estou tentando escrever um neste exato momento.
      O que eu acho é que a quantidade de páginas influencia, sim, no que se pode esperar de uma história – nada a ver com sua qualidade. O fato é que ser detalhista em um texto demanda espaço. Sendo assim, quanto mais curto o livro, mais curta espero que seja a história – e isso não a torna ruim de maneira nenhuma.
      Mas Solano, de fato, me surpreendeu ao criar um mundo tão complexo em tão pouco espaço. Isso é digno de admiração!
      E obrigada pelo convite. Tentarei aproveitá-lo.

      Beijinhos,
      Carol

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