King of Thorns, de Mark Lawrence | Resenha
‘King of Thorns’:é uma continuação ainda mais sanguinária
Em King of Thorns, o segundo volume da Trilogia dos Espinhos – conhecida também como The Broken Empire, que seria o título em inglês –, escrita pelo autor Mark Lawrence, temos, eu diria, se não a mesma quantidade exorbitante de sangue derramado, espirrado, espalhado, drenado etc, uma quantidade ainda maior da que foi apresentada no primeiro livro, Prince of Thorns.
O livro começa com o casamento do nosso querido Jorg. Mas não se engane. Ele não está se casando por amor. É puramente por conveniência. E, imaginem só, as portas de seu reino tragicamente conquistado – sim, Jorg se torna rei, por isso o título da obra é King of Thorns – está um exército tão vasto quanto a certeza de que a derrota de Jorg e a conquista de seu reino pelo inimigo seria iminente.
Nessa segunda obra, Lawrence mantém a excelência de sua escrita, assim como a essência da trilogia em si – os ambientes continuam sendo muito sombrios e as situações, por vezes, emocionantes e perturbadoras. O autor continua trabalhando – muito bem, diga-se de passagem – com as lembranças do protagonista, novamente usando isso como um artifício para esclarecer o que se passa no momento presente. No entanto, há significativas mudanças de Prince of Thorns para King of Thorns, como o foco do personagem principal, que parece mudar ligeira, mas notoriamente. Embora ele ainda guarde muito ressentimento de seu passado trágico e daqueles que o fizeram sofrer, eu não diria que em King of Thorns, Jorg procura por vingança.
Me pareceu que, dessa vez, ele está mesmo é em busca de poder. Afinal, ele já conseguiu se tornar rei, não é? Por que não sonhar mais alto e chegar a Imperador? Afinal, não seria muito mais fácil lidar com seus inimigos sendo ele o soberano de todos eles?
Mas vale muito a pena notar alguns novos elementos que surgem na trama, bem como personagens que no primeiro volume não foram tão importantes, mas que, dessa vez, merecem mais atenção – como a tia postiça de Jorg e irmã da nova esposa do pai dele, Katherine Scorron, por quem ele sofre uma atração aguda, embora não seja o suficiente para desviá-lo de seus planos ou mesmo mudar seu comportamento, que é motivo de ódio para Katherine.
Mas um dos novos elementos em King of Thorns que deve ser muito notado é o surgimento de um vilão, possivelmente, muito misterioso e igualmente sinistro, que é chamado no livro de Rei Morto. Ele certamente fará a festa no terceiro e último livro. Não se sabe quem ou o quê ele é, só que ele é capaz de espreitar os vivos através dos mortos. E, naturalmente, ele parece ter alguma preferência pelo nosso queridíssimo Jorg de Ancrath. Por que será?
Esse segundo volume debate um pouco mais o passado remoto do império, pois é nesse livro que surge o nome dos Construtores, que, ao que tudo indica, foram os ancestrais desse mundo, sapientíssimos, mas exterminados por uma de suas próprias invenções. Tais máquinas e equipamentos, que sobreviveram ao tempo e ao desastre dos Construtores, são tidas como mágicas pelo povo atual. E é por meio dessas tecnologias antiquíssimas – na verdade, nem tão antigas assim, se você prestar atenção enquanto lê e tiver a mente aberta – dos Construtores que se pode criar um vínculo quase direto entre essa sociedade sábia, tecnológica e extinta com a nossa própria.
Em King of Thorns temos também uma participação maior de um vilão propriamente dito, Sageous, o mago dos sonhos – um sujeito bem perverso. Me arrisco a dizer que nesse segundo volume, Sageous é o grande vilão, que alcança o seu auge ao longo do livro, assim como sua decadência, no fim dele.
A narrativa em primeira pessoa continua firme e forte, recheando todas as 523 páginas com o humor sombrio, mas não menos engraçado, do protagonista e anti-herói, Jorg de Ancrath.
Como eu desconfiava no primeiro volume, Prince of Thorns, neste segundo livro o protagonista, de fato, mostra algum tipo de desenvolvimento.
Foi para melhor?
… Não. Eu diria que não. Se no primeiro volume, com menos de 14 anos, Jorg já era um assassino de sangue frio, assustadoramente cruel, aproveitador e irônico. Nesse segundo volume, com seus 16 anos, ele é dez vezes pior. Todos e qualquer um são meros instrumentos nas mãos dele. E ele não se importa nem um pouquinho de ter derramar sangue – por vezes de seus próprios aliados – para conseguir o que quer. Jorg se mostra um rei impetuoso – que não está ligando muito para o povo que governa -, mas sagaz. Ele cresceu sim, não para um homem melhor, é claro. Mas, certamente, para um mais inteligente, com um pacote novinho de estratégias super bem elaboradas.
Quanto ao trabalho da editora, tudo o que eu disse na resenha do primeiro volume da série, Prince of Thorns, poderia ser simplesmente copiado de lá e colado aqui. A excelência da Darkside Books continua!
Acho que aqueles que leram Prince of Thorns muito provavelmente irão querer ler sua continuação. E, para aqueles que não leram o primeiro livro, mas leram esta resenha, sugiro que comece do início. Porque as chances de arrependimento, eu acho, são muito poucas.